Entre o sol e o mar

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Seylas voltou para a cidade com o fim do meu treinamento, ela queria conversar com a princesa para persuadi-la a se juntar a mim na viagem até Cesália. Eu disse para ela que não me importaria que Mina viesse comigo, caso a conseguisse convencer. Mas de verdade, não sei como me sinto a tendo por perto, porque o peso que carrego desde que fui o responsável pela morte de seu pai, continua berrante, a cada vez que meus olhos se prendem aos dela. Aquele dia quando me trouxe os pães, ficou evidente em sua pressa para ir embora que essa é uma ferida que dificilmente ela irá esquecer, mesmo que tudo tenha sido feito para salvar sua vida. Entretanto, não vou me martirizar por ações passadas, fiz o que julguei ser certo e não me arrependo disso.

Hoje é o dia da vinda dos mercadores, já que uma semana se passou desde a última vez que encontrei com o Jhonas. Acordei bem cedo, as manhãs de outono são tão casuais, que me espantaria se abrisse meus olhos, e não assistisse aos pequenos raios de sol, invadirem a residência através do vitral na árvore. Meu café da manhã outra vez é pães e frutas, sinceramente, a vida de um elfo é um saco, confesso sentir saudades de um pouco de carne, e esse é outro motivo admissível para querer partir daqui. Termino de comer, limpo a boca e vou até a porta, saindo da residência para mais um dia, provavelmente o melhor deles, finalmente deixaria esse recanto para explorar o mundo e viver, sem ter de enfrentar mais batalhas cansativas. Em Cesália poderei arrumar um trabalho, não deve ser muito difícil, com o tempo até posso encontrar uma mulher para noivar, só de imaginar, sinto a refrescante sensação de uma vida normal a me preencher.

Apreensivo, chego ao litoral antes mesmo dos cidadãos que se voluntariaram a ajudar semanalmente. Entretanto, repentinamente, atraso meus passos ao chegar na praia, adotando uma expressão de surpresa, por pensar que uma miragem estivesse a encantar meus olhos, de uma sereia à frente do mar, com um vestido marinho como seus cabelos, mantendo seus pés descalços a tocar as águas, era ninguém menos que a princesa Mina.

- Você chegou. – Ela estende sua mão, me convidando a ir até ela, recordando-me dos velhos tempos de quando a encontrei pela primeira vez.

- Por que está aqui? Pensei que estivesse chateada comigo. – Seus lábios sorriem junto aos seus olhos, ela balança seu rosto negativamente.

- Nunca direcionei meus rancores a você, não, somente para as escolhas feitas por meu pai. Mas não vim falar disso, Seylas disse que você quer ir para Cesália, e nada do que eu disser o fará mudar de ideia, estou certa?

- Sim, estou decidido. Irei para lá quando os mercadores vierem.

- É um lindo lugar para se aventurar, mas não sozinho. – O sorriso dela se fecha. - Então, me daria a honra de acompanhá-lo?

Fico perplexo.

- Deixa eu adivinhar, Seylas te obrigou a vir e falar essas coisas? – Ela se cala, por vontade própria diminui a distância entre nós ao vir até mim. De forma carinhosa segura minhas mãos. Quando vejo a sinceridade refletida em seus olhos, algo preenche minha alma e abranda meu coração, um sentimento capaz de e disseminar o maior dos rancores, esse sentimento, nada mais era que a felicidade, por saber que ela não está ressentida comigo.

- Vai ser um prazer. – Sorrio alegremente.

- Cuide bem de mim. – Ela diz e me cativa, desmonta e reconstrói da maneira que quer, não resisto, admito ter uma queda pelo seu sorriso.

- Sim, estarei te esperando. – Depois dela me informar sua intenção de se preparar para partir, ela soltou de minhas mãos e retornou para a cidade.

- Finalmente se entenderam. – Seylas saí de trás das árvores há alguns metros de mim.

- Esteve aqui o tempo todo? – Questiono.

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