O destaque de Hélio

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Tenho a certeza de que eles estão chegando, suas vozes ficam cada vez mais próximas, ecoando como estalos constantes derivados de suas bocas, arrepiando nossas espinhas. Em dado momento, tudo se acalma, até inesperadamente, objetos voarem de dentro da água até nós.

- Levantar escudos, resguardem seus companheiros! – Grita Seylas.

Um de seus soldados élficos se põe a minha frente, como outros também protegem Hélio e Jhonas. Suas costas tapam minha visão e não consigo distinguir o problema a nos atingir, somente escuto o forte baque do objeto contra seu escudo de ferro, posteriormente, a queda deste na areia. Era a munição de um arpão, de base metálica, reluzente e fina, com uma ponta triangular e afiada o suficiente para penetrar superfícies resistentes, e possivelmente fragiliza-las. Seus disparos não param e nossas perdas são inevitáveis. Ao meu lado assisto companheiros élficos em formação, caírem um por um e seus números diminuírem drasticamente, até que, o soldado a me proteger também sucumbe as rajadas e caí no chão. Sem demoras Seylas me defende com sua espada, rebatendo os disparos redirecionados a mim.

- Não vamos ficar só na defensiva, ataquem! – Ela ordena. Os elfos do mar pisam na praia ao saírem da água, e os soldados de Seylas abandonam a formação para iniciar a ofensiva.

Uma batalha corpórea começa.

- Tente não ficar perdido, Blake! – Jhonas aparece em meio à confusão, travando sua espada contra os dentes do tridente dourado de um deles, uma arma composta por três lanças em sua ponta, e começa uma disputa de força. Claramente somos superados em números, e não tarda para um deles de olhos enfurecidos e sanguinários, vir até mim. Em uma estocada, desfere sua arma contra meu pescoço, mas comparado ao treinamento de Seylas, seu movimento não passa de uma brincadeira de criança. Porém, enquanto foco em me esquivar do ataque à frente, sou atingido por um em minhas costas, elas queimam com a dor. Recuo o mais rápido possível de perto deles e procuro algum ferimento em um lugar mais isolado, até ver que mesmo com a dor que senti pelo impacto, a arma dele foi incapaz de me machucar, porque outra vez o casaco dado por Mina veio a calhar.

- Você está bem, jovem elfo?! – Hélio se encosta a mim, ofegantemente, com sua espada banhada em sangue, a rebater e desarmar os inimigos, no tempo em que os mata com um corte rápido e preciso. A medida que corpos se amontoam na praia, continuo a me esquivar sem revidar, por certo egoísmo da minha parte em querer manter meus antebraços em segredo. Se Hélio e Jhonas verem minhas escamas de dragão, não sei o que poderia acontecer, quando tudo terminar, não teria uma explicação razoável. Seylas também não fica para trás na luta, sozinha e rodeada não hesita e nem teme, apenas segue os cortando incansavelmente. Jhonas arriscou dizer que eram duzentos, mas há muito mais deles, não importa o quanto de nossos inimigos caiam, tudo que avisto a minha frente é um extenso aglomerado a sair constantemente do mar, sem hora para acabar. Em meio a desordem e o cheiro ácido do sangue, os elfos do mar estranhamente recuam para perto da água. Imediatamente, Hélio, Jhonas e Seylas se juntam. Também perturbados com a mudança, conversam aos berros no tempo em que continuam a lutar.

- Estão recuando! – Grita Hélio para Jhonas. – Será que finalmente entenderam que não podem me derrotar? – Diz em tom satírico.

- Quem sabe. Talvez só tenham se espantado com essa sua cara feia, deveria lhe agradecer depois! – Jhonas responde na mesma moeda.

- Se concentrem! – Irritada, Seylas interfere. – Possivelmente estão voltando para recuperar o fôlego, usem esse tempo para descansar.

Escutei tudo e dificilmente duvidaria das palavras de Seylas, ela está a incontáveis anos a minha frente em experiência de batalhas. Mas alguma coisa não cheira bem, se os elfos do mar continuassem nesse ritmo, eles venceriam através da nossa exaustão e de seu exército massivo, porque atualmente nossos números não devem passar de cinquenta. Então por que recuar? Essa sensação que sempre sentia na minha forma de dragão, meu instinto, está repetidamente a gritar perigo!

- Cuidado! – Grita Hélio, de olhos horrorizados, quando vemos um ser com o dobro da estatura dos elfos do mar, alçando possíveis dois metros de altura, submergir como um torpedo das águas, rotacionando seu corpo no ar como uma furadeira ininterrupta e varrendo a todos os elfos do bosque no caminho. Ele acerta Seylas violentamente no estômago, usando sua própria cabeça como arma e a jogando por alguns metros na areia. Ela se recupera dando uma cambalhota e deslizando seus pés no terreno enquanto mantém uma de suas mãos no local onde foi atingida, até conseguir parar.

- Gnor?! Ele é um dos líderes do mar. – Ela informa, adotando uma expressão dolorida no rosto, encarando a criatura, de corpo inteiramente composto por características marinhas e com uma pele tão reluzente, quanto uma aquamarine exposta ao sol. Ostentando nadadeiras em seus antebraços, pés e cabeça, ela substituía seus cabelos. Nitidamente, mais robusto e mais resistente que os outros elfos do mar. Mas o que mais me deixou perturbado, foi Seylas não ter se abalado com um ataque dessa magnitude, um que eu nunca havia visto anteriormente. O pior é que Hélio não sente medo da criatura, ao contrário, ele se empolga e anda até ela. Arrastando a espada na areia com uma de suas mãos, cria um rastro por onde passa.

– Então é um dos chefões? Interessante, dessa vez, Maximus não irá reclamar se eu extravasar! – Exclama e se embravece. – Abra seus olhos! E contemple uma das técnicas de rank prata de Cesália.

A espada de Hélio começa a vibrar em sua mão, reunindo em sua lâmina, partículas ao nosso redor, poucamente, ela começa a assumir uma coloração alvejada, tão branca quanto as nuvens do céu, ou até mais.

- Mostre-me do que é feito! Rajada, de vento! – Hélio levanta sua espada, ela zune em seu deslocar, e com um corte em meia lua, arremessa a energia saturada na arma que como a lâmina de uma foice, viaja através do ar até Gnor de uma maneira tão potente, que corta os elfos do mar em seu caminho. Em seguida, Hélio desaba de joelhos, ofeguento, assistindo o deslocar de sua habilidade até seu alvo, com olhos brilhantes e esperançosos.

- Finalmente, aí está! – Jhonas se excita. - Não há inimigos que resistam ao melhor ataque de Hélio, a vitória certamente é nossa!

Pode ser que Jhonas esteja certo, assim que a magia atingir Gnor, a vitória poderá ser nossa. Se o líder deles cair, o resto dos elfos do mar vão recuar da batalha e Shinda estará a salvo. Então mesmo que tímida, sinto que devo me apegar a esperança criada por Hélio!

- Huf. – Seylas resmunga.

A magia atinge Gnor em cheio.

O renascer - Aprendendo a viver.Onde histórias criam vida. Descubra agora