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 Respirei fundo após ler a mensagem de Loren, ela estava no hospital graças à um sangramento. Havia uma reunião marcada em trinta minutos, meu subconsciente batalhava entre si para decidir o que fazer. Precisava ver Loren e saber se ambas estavam bem, elas eram minhas prioridades, porém ainda sim havia o trabalho, minha carreira era importante afinal.

[Loren]

Alice quer nascer // 08:37

[Amber]

Como assim? // 08:37

Não brinca comigo Loren // 08:37

Me diz que foi uma piada sem graça // 08:37

[Loren]

Queria eu que a dor fosse uma brincadeira // 08:39

Alice está nascendo Am // 08:39

Am, por favor vem 'pra cá // 08:42

Estou com medo. // 08:42

Desliguei o celular, peguei minha bolsa e sai rumo ao elevador. Enquanto descia, escrevi um pequeno e-mail para Christopher lhe informando minha ausência na reunião. Por sorte consegui pegar um taxi assim que sai do prédio, meu coração estava a mil.

Corri para dentro do hospital, fazendo em seguida meu cadastro como acompanhante de Loren Scott. Três andares nunca foram tão longes quanto aqueles, o ambiente era calmo apesar de se tratar de um hospital.

Loren estava na sala cirúrgica, então me mantive na pequena sala de espera naquele andar. Não havia notícias do que ocorria lá dentro, e aquilo estava acabando comigo. A gravidez era arriscada, dês do início estávamos cientes disso, mas Loren quis prosseguir com isso. "Nosso amor merece ser passado adiante, quero que tenhamos os filhos que sempre sonhamos, mesmo que ele não esteja mais aqui para vê-los", ela dizia em todas as vezes que uma discussão sobre a vida do bebê ocorria.

[...]

O vidro me separava da pequena Alice, uma enfermeira lhe banhava. Sua pele ainda estava com sangue, o choro não parava. Era tão pequena e frágil, sorri ao sessar de seu choro.

- A senhora é acompanhante de Loren Scott?

Desviei o olhar para os médicos ao meu lado. Kristin evitava me olhar.

- Sim.

- Eu sinto muito...

Olhei confusa para o médico, sabia o que viria a seguir, porém não estava pronta para isso, não queria acreditar que havia realmente acontecido.

 Apesar de ter passado um ano me preparando para aquele possível acontecimento, eu ainda tinha esperança. Meu mundo estava caindo, a bendita esperança estava me causando um tremor indescritível. 

- Loren teve hemorragia interna, perdeu muito sangue. – Kristin disse, seu olhar estava focado em Alice. – Ela acabou vindo a óbito, eu sinto muito Amber.

Naquele instante eu me senti perdida, sempre soube do risco daquela gestação, mas nunca pensei que pudesse realmente matá-la. Me virei para o vidro novamente, a enfermeira terminava de limpá-la. O que faríamos agora?! Não poderia cuidar de um bebê, não tinha tempo para isso, mas não poderia deixá-la.

- Quer que eu ligue para a família dela? – Kristin propôs, só naquele instante percebi que havia dispensado os outros médicos.

- Não, eu ligo. – Suspirei.

Meus olhos lacrimejavam, sabia que em qualquer momento eu desabaria, mas não poderia, ainda não ao menos.

- Deixa que eu faço isso Am, por que não fica um pouco com Alice?

Segui Kristin para dentro do berçário, fiz o processo de higienização. A enfermeira me guiou para o "berço" de Alice. A roupinha do hospital ficava grande em seu pequeno corpo. Passei a mão pelo seu rostinho, ganhando um sorriso como resposta. Alice era a mistura perfeita de Dylan e Loren, sua pele pálida como neve era herança de Dylan, já os cabelos louros como raios de sol eram herança de Loren.

Passei bons minutos observando Alice dormir, sabia que se eu saísse dali teria que lidar com a morte de Loren, com a guarda da pequena criança, e com todo o resto do mundo, porém estar ali com ela, me fazia esquecer de tudo e todos.

[...]

No final da tarde, os pais de Dylan e Loren se encontravam no hospital juntamente comigo. Ainda não sabiam o que faria com Alice, estavam abalados demais com a perda de Loren para pensar em um futuro. Liguei para a empresa avisando que não iria pelo resto da semana, não teria psicológico para aquilo.

Enterramos Loren durante a noite, e fomos todos para meu apartamento. Era pequeno, mas acomodou todos.

Logo pela manhã fui para o hospital ver Alice, me deixaram lhe banhar e alimentar a pequena. Kristin passou algumas vezes para vê-la, e me assegurou que estava tudo bem.

No período da tarde foi o momento dos avos babarem em Alice, me aproveitei disso para comer rapidamente no restaurante do hospital.

- Já decidiram o que farão com a bebê? – Kristin perguntou se sentando ao meu lado, bebia um enorme copo de café.

- Ainda não, estão abalados demais com a morte de Loren, ainda não pensaram sobre isso.

- Mas tem que pensarem, Alice está bem, no máximo amanhã já pode ir para a casa.

Suspirei. Minha cabeça não desligou um minuto desde que recebi a notícia da morte de Loren, as horas pareciam voar enquanto eu continuava no mesmo lugar. Observava todos a minha volta, e cada um deles pareciam certo do que fazer a seguir, menos eu. Os Scott e Elliot estavam imersos no luto novamente, e eu estava ali, parada no tempo.

De repente eu estava cansada, sobrecarregada... perdida. 

- Eles não ficarão com ela – sussurrei.

- É a neta deles Am.

- Eu sei, mas olhar para Alice todos os dias é um enorme lembrete da perda deles.

- Eles superam isso.

- Loren fez um testamento.

Kristin me olhou curiosa. Além de médica a mulher era nossa amiga, acompanhou todo o processo de fertilização de Loren. Kristin sabia cada detalhe da ficha médica de Loren, e claro, cada uma das nossas bebidas favoritas.

- A guarda de Alice é minha.

A médica descansou as mãos sobre a mesa, e me analisou por segundos. Nunca conversamos sobre minha vontade de ter filhos, crianças sempre foi um assunto voltado para Loren. Todos que me conheciam sabiam o quão focada eu estava no trabalho, uma criança naquele momento estava fora de cogitação.

- Eles já sabem disso?

- Não, o testamento será lido hoje à noite.

- E como você sabe disso?

- Loren me fez prometer proteger o bebê a qualquer custo, me deixou cartas e vídeos para serem entregues à Alice.

- Uma criança é muita responsabilidade.

- Sei disso, também sei que não estou pronta. – Respirei fundo. – Kristin, eu estou começando minha carreira, daqui uns dois meses será lançada minha primeira coleção. Uma criança nunca fez parte dos meus planos, e não dá para mudar isso agora.

- Só pensa direito no que fará agora, para não se arrepender futuramente.

- O problema está inteiramente aí Kris, eu não sei o que fazer. – Suspirei. – Não sei do que me arrependerei no futuro. Está tudo tão... confuso, eu estou esgotada e nem se quê fiz algo nesses últimos dias.

- Deveria tirar uns dias no trabalho, colocar a cabeça no lugar. Am, não perca a cabeça agora, essa criança precisa de você bem.

- Ela precisa de uma mãe.

- Então seja a mãe dela. 

De repente mãeOnde histórias criam vida. Descubra agora