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Voltar para casa não havia sido uma tarefa difícil, mas expulsar o trio havia. Kristin me ligava de hora em hora na intenção de saber como eu estava, aquilo era irritante em certo ponto.

O tom laranja do pôr do sol tomou conta da sala, estava feliz com o final daquele dia. Amanhã seria diferente, um novo dia, novas chances. Me sentei próxima a janela, a fim de aproveitar todo aquele momento. A quanto tempo não fazia aquilo afinal? Permaneci ali até a lua ter tomado o lugar do sol.

Alice dormia calmamente em seu carrinho, próximo ao sofá. Poderíamos passar o resto da noite ali, não era o lugar mais confortável da casa, no entanto, naquele momento, me trazia a paz que eu necessitava. Não sei ao certo quanto tempo passei olhando para a cidade e o céu, mas, diversas casas já se encontravam apagadas. Poucas pessoas ainda caminhavam pela rua, passei a imaginar o que faziam ali. Aproveitavam a bela noite? Ou talvez apenas estivessem voltando do trabalho.

O toque incessante do celular despertou Alice. Maldita seja a pessoa que me ligava. Busquei pelo aparelho, um pouco raivosa. Não seria Kristin, ela iria trabalhar aquela noite, não havia motivos para continuar me ligando. Para minha surpresa o nome 'Christopher Stewart' tomava conta da tela. Atendi rapidamente, para ele me ligar algo ruim havia acontecido.

- Boa noite senhorita Prescott, me perdoe ligar tão tarde.

- Tudo bem senhor Stewart, aconteceu algo?

- Nada com o que se preocupar, apenas quis ressaltar meu e-mail.

E-mail? Que e-mail?

- Desculpa senhor, e-mail? – Uma breve risada foi ouvida por mim do outro lado da linha. Céus, ele estava rindo? Pensei que fosse quase impossível isso ocorrer.

- Mandei um para a senhorita, porém não obtive resposta.

- Ah... Desculpa senhor Stewart, fiquei tão feliz pelo desfile que esqueci de checar. – Não era totalmente mentira.

- Tudo bem senhorita Prescott, nos vemos amanhã certo?

- Certo...? – Respondi incerta. Por sorte Christopher apenas desligou.

Pensei em olhar o e-mail, mas as milhares de notificações me pareciam mais atrativas. O resmungo de Alice me fez olhá-la.

- Com fome pequena? – Me aproximei da bebê, tomando a mesma em meus braços. A cozinha estava uma bagunça, tudo graças ao trio. Revirei os olhos, não achava nada que eu precisava, por que tinham que mudar tudo de lugar? - Aonde está sua mamadeira Alice? Seus tios são a própria bagunça em pessoa.

A bebê parecia nem notar que eu falava, estava mais focada na alça de minha blusa. Revirei rapidamente a louça, não havia nada ali. Os armários estavam parcialmente vazios, boa parte dele estava na pia. Ótima mãe eu era, não sabia nem aonde estava as mamadeiras de Alice. Os leves resmungos da bebê se tornaram constante, sabia que logo menos aquilo acarretaria um belo choro. Revirei toda a cozinha, mas não obtive sucesso algum. Pensei em ligar para Kristin, porém ela deveria estar ocupada naquele momento. Não iria atrapalhar o sono de Bruce, sabia que ele tinha um longo dia pela manhã, já Kevin, bom... Não fazia ideia do que fazia ou o que faria no dia seguinte. Liguei para o rapaz. Três tentativas, zero sucesso.

Alice me olhava, uma leve súplica estava ali. Suspirei cansada. Liguei para a única pessoa que poderia me ajudar naquele momento: Logan. O quarto toque da chamada me fez perder a esperança, ele deveria estar ocupado.

- Amber...? – seu tom de voz sonolento tomou conta da cozinha do meu apartamento. Céus, eu o acordei. Olhei desesperada para o relógio: vinte e três horas. Me arrependi rapidamente por tê-lo acordado.

- Desculpa Logan, não queria te acordar. – disse por fim. Já havia acordado o rapaz, teria ao menos que lhe explicar o motivo.

- Aconteceu algo?

Ouvi um barulho no qual não consegui identificar com clareza o que era. Talvez fosse ele se sentando na cama ou talvez alguém ao seu lado. E se Eleanor estivesse com ele? Porque eu nunca penso direito antes de fazer algo.

- Não, não aconteceu nada, desculpa por ter te acordado senhor Stewart. – O resmungo de Alice se tornou choro. Eu estava perdida naquele momento.

- Amber o que está acontecendo? Por que Alice está chorando?

- Está tudo bem Lo... senhor Stewart, me perdoe por ter atrapalhado sua noite de sonho, não se repetirá.

Desliguei rapidamente antes que o rapaz pudesse me responder. Minha relação com Logan era coisa do passado, atualmente ele era meu superior. Aonde eu estava com a cabeça?

Alice chorava em meu colo. Pensei que fazer seu leite em um copo, porém não havia mais leite. O que eu faria agora? Como pude ser tão distraída assim? Passei a chorar juntamente com Alice. Precisava sair para comprar suas coisas, apesar da hora.

Fui atrás de um casaco, vestindo o primeiro que encontrei. Enrolei Alice em uma coberta, peguei minha carteira e sai do apartamento. Tentei acalmar Alice com a chupeta, o que não adiantou muito. Assim que entramos no elevador ela passou a chorar ainda mais alto, torci para que nenhum vizinho acordasse com seu choro, ou que reclamasse. Assim que me retirei do elevador, o porteiro me olhou. Não consegui compreender seu olhar, mas naquele momento nada me importava além de um mercado.

Com os pés já fora do prédio me dei conta que não havia pegado meu celular, não poderia chamar um Uber, e táxi naquela rua era algo impossível. Ótimo, teria que ir andando. Não poderia voltar para dentro, Alice acordaria o prédio inteiro.

Tentei focar no caminho que fazia, porém com Alice berrando em minha orelha estava sendo impossível. Nunca desejei tanto que minha mãe estivesse ali para acalmá-la. Não tinha mais contato com meus pais a anos, entretanto, queria que estivessem ali, eles saberiam o que fazer com Alice.

Suspirei cansada. As poucas pessoas que passavam na rua, olhavam para nós. Não sabia fazê-la parar, e não sei bem quando eu passei a chorar também. Desejei me sentar no meio da rua e gritar. Gritar para Loren voltar. Eu não dava conta, não conseguia fazer aquilo sozinha.

Congelei ao ver um carro ao nosso lado, não conseguia ver quem estava dentro. É agora que eu morro?! Deus, por favor, eu pedi para trazer Loren, não para me levar até ela. Tentei apressar o passo, mas percebi depois que seria inútil, seria minhas pernas – nada atléticas – com uma bebê no colo contra uma pessoa de carro, porém o que custa tentar?

Como uma luz no fim do túnel, vi uma pequena farmácia aberta na esquina. Estava perto, talvez eu conseguisse.

Me coloquei a correr, Alice se assustou com a mudança repentina. Quis rir de seus olhinhos arregalados, porém o momento não era propicio, meu foco tinha que estar totalmente em minhas pernas. Nunca fui de realizar exercício, e naquele momento estava repensando minhas atitudes, se saísse dali bem, começaria uma academia rapidamente. Não sei como ou quanto consegui chegar na farmácia, mas eu havia chegado. Meu folego não era dos melhores, muito menos minha aparência, porém ali eu estava a salvo, certo?

Consegui comprar o leite de Alice, e duas mamadeiras. Aparentemente a bebê entendeu o que fazíamos já que cessou o choro. Após pagar me preocupei, e se a pessoa ainda estivesse ali? E se esperasse que eu saísse para fazer algo ruim comigo e Alice? O medo dominava meu corpo, entretanto não havia muito o que se fazer, precisava voltar para casa de algum jeito. Me agarrei mais em Alice. Respirei fundo e sai da farmácia. Provavelmente todas as cores do meu rosto sumiram naquele momento, lá estava o carro. Estacionado em frente a farmácia. Aquela seria a minha morte? Sério mesmo Deus?

- Eu te amo Alice. – Sussurrei para a pequena em meus braços.

A porta do carro se abriu. Não conseguia ver o rosto da pessoa, mas tinha um porte físico bom. Maravilha, não teria nem a chance de correr, eu poderia tentar, no entanto, seria alcançada rapidamente. Sem olhar para a pessoa passei a andar rapidamente, mas parei ao ter a cintura puxada. Gelei da cabeça aos pés.

Deus salve Alice. Foi a única coisa que passei a suplicar. 

De repente mãeOnde histórias criam vida. Descubra agora