De repente mãe

39

 Adentrei meu quarto em silêncio para não acordar Logan, o que não faria muito diferença, já que o rapaz ainda se encontrava acordado. Havia colocado Alice para dormir, e Logan disse que faria o mesmo, porém, ali estava ele com o celular em mãos e olhos bem abertos.

- Pensei que estivesse dormindo.

- Comecei a ver um filme e aqui estou.

- Fico feliz que ainda esteja acordado, queria falar com você.

- Se já está pensando em me expulsar da sua casa a hora é agora, mas levarei Alice comigo.

- Alice fica, e não, não tem nada a ver com isso.

- Tudo bem, sou todo ouvido.

Logan se sentou na cama, me deixando ainda mais nervosa. Já estava com a ideia na cabeça a algumas semanas, porém, ainda não havia contado para ninguém, e compartilhar aquela ideia, principalmente, com Logan era um grande risco, afinal, ele ainda era meu chefe.

- Estou pensando em deixar a Stewart.

Diferente do que pensei, Logan se mantinha calmo. Ele estava sendo apenas o homem que estava comigo, e não o meu chefe, aquilo era bom.

- Para onde irá?

- Bem... – Respirei fundo, criando coragem para contá-lo – Estou pensando em criar um site.

- Um site?

- É. – Mordi o lábio inferior, analisando seu rosto, ele estava calmo. – Estive conversando com Kevin, e talvez seja uma boa ideia.

- E sobre o que será o site?

- Moda. – Disse como se fosse óbvio, e realmente era. – Estou pensando em vender algumas roupas da minha própria coleção, dar dicas sobre como combinar as roupas e coisas do tipo.

- Sabe que tem todo meu apoio e caso isso não der certo as portas da Stewart ainda estarão abertas para você.

- Obrigada.

- Agora podemos dormir? Estou realmente cansado.

[...]

Nunca pensei que seria fácil, no entanto, não imaginava que seria tão difícil. Kevin estava me ajudando com a criação do site, e Harry me ajudava a entrar em contato com os fornecedores da Stewart. Uma semana e meia havia se passado e tudo parecia uma bagunça ainda maior para mim, o site estava quase todo pronto, falta poucos detalhes apenas, os tecidos estavam para chegar. Ainda assim, eu me sentia perdida. Por onde eu começaria?

Trabalhando de casa, pensei que seria mais justo dispensar Emily, afinal, eu estaria em casa, porém não consegui. A mulher havia se tornado uma parte importante da minha vida e de Alice, até mesmo na de Eleanor.

- Está ocupada? – A voz da ruiva preencheu o cômodo.

- Não muito, do que você precisa.

- Emily e eu vamos andar da praça com os bebês, quer vir com a gente?

Pensei em recusar, ainda tinha uma lista de coisas para fazer. Mas a quanto tempo eu não saia de casa? Havia até mesmo me esquecido como era a luz do sol.

- Um minuto e já me encontro com vocês na sala.

Calcei um sapato, desliguei os aparelhos que usava e corri para sala. Alice me deu a mãozinha, caminhando lentamente ao meu lado.

Demoramos mais tempo para chegar ao parque do que normalmente, fomos acompanhando os passos da bebê, que não eram tão rápidos. Ao chegarmos, Alice me trocou pelos poucos brinquedos do lugar junto com Emily. Observei-as por um tempo, até Eleanor me chamar a atenção.

- Como está indo o projeto?

- Bem, eu acho.

Eleanor passou a mexer as mãos sem parar, seus olhos evitavam os meus. Deixei-a assim por alguns minutos, lhe dei tempo para falar algo, no entanto, só piorou. Segurei suas mãos, fazendo-a me olhar.

- O que aconteceu?

- Estou procurando trabalhos para fazer, não posso simplesmente morar na sua casa de graça e deixar que Logan pague as coisas para meu filho, porém não consegui nada até agora. – Suspirou. – Estava com medo de que isso acontecesse. Não sei se consigo voltar ao meu corpo de antes, e caso isso não aconteça, poucas pessoas ainda me aceitaram.

Abracei-a de lado, deixando sua confissão preencher meus pensamentos. Eu não havia percebido seu medo e incomodo sobre aquele assunto.

- Sabe, eu preciso de uma modelo para meu site e adoraria tê-la.

- Eu?

- Sim. – Sorri. – Preciso que alguém use as minhas criações para que eu possa divulgar as peças em um corpo real, e claro, irei te pagar para isso caso aceite.

- Aonde eu assino? – Sorriu, secando as poucas lagrimas em seus olhos.

- Vemos isso depois, agora vamos andar um pouco, não sai de casa para ficar sentada novamente.

[...]

O pouco tempo no parque havia me feito bem, me sentia regenerada em todos os sentidos. Desliguei os aparelhos eletrônicos, estava cansada demais para trabalhar naquele momento. Aproveitei para pegar um copo de água na cozinha.

O silêncio na casa era algo novo para mim, visto que agora morávamos em cinco pessoas. Emily já havia ido embora, Logan estava preso em uma reunião na empresa e Eleanor estava em uma consulta com Ethan. Alice estava adormecida desde que a babá saiu.

Segui para o quarto da bebê, abrindo a porta devagar para não a acordar. Me aproximei de seu berço, vendo o quão grande Alice já estava. Em duas semanas ela completaria um ano, e claro, todos estavam animados com aquele momento. Meus pais e amigos estavam comprando diversas coisas, queriam uma bela festa para a bebê.

Um ano. Um ano desde que Loren morreu e Alice nasceu, era uma data importante e que infelizmente, eu não sabia como reagir. Queria muito passar o dia no cemitério, como fazia todos os anos com Dylan, no entanto, era mórbido demais levar uma criança até lá, principalmente em seu aniversário.

Passei bastante tempo olhando-a, até que ela acordasse. Sorri para Alice, que retribuiu de imediato. Passei as mãos nos fios louros, que agora já estavam grandinhos. A bebê se sentou em seu berço, ainda me olhando com seus enormes olhinhos.

- Ma-ma.

Arregalei os olhos, ela havia falado? Me mantive sem reação até Alice repetir, me causando uma enorme dúvida se estava tentando dizer mãe ou mama.

- Está com fome pequena?

- Ma-ma.

Peguei-a no colo, levando para a cozinha e deixando-a sobre o balcão. Coloquei sua mamadeira ao seu lado, e esperei que fizesse algo. Eu precisava saber o que aquilo significava.

- Ma-ma. – Repetiu Alice, olhando fixamente para mim e com seus bracinhos estendidos.

Senti meus olhos marejarem, ela havia me chamado de mãe.