Capítulo 1

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Dedico este capítulo ao meu marido Altair Ribeiro, meu grande incentivador.

altairlara

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É Natal em meados do século vinte e um. Caminho observando as lojas à procura de algo que me dê alguma satisfação nessa época do ano. Quero algo antigo, acolhedor. Nada de tecnologias. Elas não preenchem meu vazio.

Vejo um estande de relíquias e bato os olhos em um livro rosa, desbotado, com uma flor em alto revelo na capa. Pego e abro para folheá-lo. Só há uma página escrita com os seguintes dizeres: Meu Diário. Seja lá quem tenha sido o dono desse objeto, não chegou a fazer uso dele. No mesmo instante, percebo que ali está meu presente natalino. Na idade em que me encontro, as lembranças são companheiras frequentes. Há uma gama de sensações ao relembrarmos o passado: às vezes nos sentimos tristes, outras, alegres. Há também um misto de tudo isso. Uma saudade inexplicável e a sensação de que o tempo não passou e que tudo que vivemos aconteceu ontem, no máximo, antes de ontem.

Pago pelo livro e retorno para casa. No caminho, vou pensando o que escrever, como começar. Foram tantos acontecimentos! Imagens de lugares e pessoas passam como flashes pela minha mente. Percebo que não há outro modo de iniciar sem ser naquela época em que eu tinha vinte anos, lá pelos idos do ano de dois mil e dez...

Meu querido diário.

Hoje começa uma relação de amizade muito forte entre nós. Amigos íntimos e fiéis, que compartilham histórias e segredos, alegrias e tristezas, vitórias e frustrações. Farei de você meu confidente, meu aliado, meu conselheiro. Sábios insistem em dizer que todas as respostas estão dentro de nós, basta que saibamos mergulhar no atoleiro de nossas almas e cavoucar a lama que esconde aquilo que não queremos ver. Há muita coisa feia lá que não mostramos nem para nós mesmos. Mas é ali que estão as respostas e a síntese de tudo o que buscamos.

Como amigos, precisamos nos conhecer muito bem. Deixe que eu me apresente: sou Alexandra Toledo, sexagenária, viúva, mãe de dois filhos. Vivo sozinha. Bem, quase sozinha. Tenho a companhia de duas amigas: Lolita, uma cadelinha branquinha com uma pinta preta ao redor do olho esquerdo, e Chanel, uma manhosa gatinha preta. Ambas me adotaram quando me viram sozinha em casa. Agora, incluo você, no rol dos meus amigos queridos. Talvez devesse batizá-lo com um apelido carinhoso. Que tal... Mind? Uhum... parece-me bem adequado. Pois bem, assim será: Mind, meu amigo e conselheiro.

Então, Mind, para que você possa me ajudar, é necessário que conheça minha história.

Era uma vez, em um passado distante, uma linda mocinha com longos cabelos negros e olhos verdes, muito parecida com sua mãe...

─ Mãe, é verdade que o papai conseguiu fechar minha viagem para o tour Europa, África e Oriente Médio?

─ Sim, Ale. Ele me disse que já está com o roteiro em mãos e passagens compradas. Falta acertar algum detalhe sobre hospedagem, mas o mais importante está feito. Você viaja daqui a trinta dias.

─ Ah, mãe! Você e o papai me deram um presente de aniversário maravilhoso. Nunca vou me esquecer. Será uma aventura muito boa. Um verdadeiro estágio para meu curso de Turismo.

─ Você merece, filha. Só me prometa que vai se cuidar e que me manterá informada de cada passo seu. Promete?

─ Prometo, D. Luísa. Farei imensos relatórios diários. Agora preciso me concentrar em separar as roupas que levarei para os dois meses que estarei fora. Vou enfrentar frio e calor, mas não quero carregar muita bagagem. Isso será um enoooorme desafio para mim.

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