Bom dia, Mind. Ontem precisei interromper minha narrativa para cuidar das minhas outras amigas. Elas exigem minha atenção de forma ostensiva. Agora que estamos todas de barriguinha cheia e descansadas, após uma noite tranquila, posso continuar nossa conversa.
Naqueles dias, com tantos afazeres e preparativos para a viagem, o tempo voou. Já era a data do meu embarque. Eu realizaria um sonho antigo. Meu interesse por turismo começara ao acompanhar meu pai em visitas a hotéis e locais turísticos que poderiam entrar nos roteiros de viagem da agência do qual ele era sócio. Percebi, rapidamente, o quanto seria prazeroso ter um trabalho onde eu pudesse viajar e conhecer novos lugares, novas culturas e me relacionar com pessoas. Foi assim que escolhi qual faculdade cursar. Agora já estava no terceiro ano e a viagem seria como um estágio e iria pautar meu trabalho de encerramento de curso.
─ Filha, pegou tudo que precisa? Passaporte, passagem, documentos, está tudo na bolsa? Perguntou minha mãe.
─ Sim, mãe. Vamos porque tenho que chegar com três horas de antecedência.
No aeroporto...
─ Mãe, não vai chorar agora, por favor. Quero viajar sem peso na consciência.
─ Ale, não posso evitar esse aperto no peito. Nós nunca nos separamos e vou morrer de saudades.
─ Mulher, para de tanto drama, afirmou meu pai tentando disfarçar sua própria emoção. Deixa nossa "passarinha" sair da gaiola e voar. Estaremos em contato diariamente. Tá na hora de embarcar, filha. Dá cá um abração no seu pai. Lembre-se de todas as minhas orientações e não se coloque em situações de risco, ok?
─ Sim, papai. Estarei segura. Sempre atenta. Vejo vocês em dois meses. Já disse que amo vocês demais, hoje? Tchau!
Sabe, Mind, acho que nunca me senti tão feliz e livre como quando entrei naquele avião. O voo foi tranquilo, porém cansativo. Desembarquei em Frankfurt, na Alemanha, onde minha aventura começaria. Eu já havia viajado para o Velho Continente com minha família, portanto escolhi visitar lugares que ainda não conhecia. Foram trinta dias transitando entre alguns países do leste europeu e da Europa Ocidental. Não daria para conhecer tudo, então decidi pelos que mais me encantavam.
O tempo voava e na quarta semana eu já me aproximava da cidade de Tarifa, na Espanha, onde encontraria Julian. No local e data marcados, ele me esperava no saguão do hotel La Casa de la Favorita, onde me hospedei. Ele usava uma roupa casual, camisa e calças esportivas, mas de extrema elegância. Eu era a típica mochileira: tênis, calça jeans surrada e um camisão desses com o nome do país visitado, que se compra em lojas de souvenires. Passamos ainda dois dias no sul da Espanha antes de viajarmos para o Tanger, no Marrocos.
─ Julian, acha mesmo que mulheres desacompanhadas correm algum risco no Oriente Médio? Os tempos mudaram e há excursões turísticas saindo de todos os hotéis. Assim sendo, não vejo perigo.
─ O povo árabe ainda é muito preconceituoso e os muçulmanos são mais apegados às tradições e aos ditames religiosos. Você deve ter estudado isso na faculdade, não?
─ Sim, estudamos várias culturas, mas nem sempre a visão acadêmica corresponde com a realidade. Tenho muita curiosidade sobre o Oriente Médio.
─ Você irá tirar suas próprias conclusões ao término deste passeio.
─ Fiquei apaixonada pela Turquia. Istambul é uma cidade maravilhosa. Lá já pude avaliar um pouco os costumes do povo muçulmano. Estive no Grande Bazar (Kapalıçarşı, em turco), como não podia deixar de ser. Fiquei umas cinco horas rodando por lá na parte da manhã. É imenso e lotado de gente. Não resisti e comprei artesanato, joias, tapetes e roupas. Tive que despachar tudo para o Brasil para conseguir seguir viagem. E pensar que o Grande Bazar remonta à época de Moisés II, no século XV, quando foi construído perto do seu palácio. A construção é magnífica com as paredes em alvenaria de cascalho, pilares em pedras e abóbodas e arcadas em tijolo, as quais são ligadas por traves. As portas são em ferro e ornamentadas com pregos. Ainda é, provavelmente, o maior e dos mais antigos mercados cobertos do mundo. À tarde, fui visitar as mesquitas que ficam próximas ao mercado. A mesquita Nuruosmaniye é considerada um dos melhores exemplos de arquitetura estilo otomano barroco. Também foi incrível fazer o passeio de barco e ver dois continentes, Ásia e Europa, tão próximos um do outro. E a comida? Fiquei apaixonada pela culinária turca. Eles têm uma variação de strudel que é uma perdição, chamada Baklava. A massa é bem fininha e crocante, encharcada com mel leitoso e coberto com pistache. Nossa!!! Só de lembrar já me dá água na boca. E a Pide, aquele pão achatado assado no forno a lenha e servido com queijos, vegetais ou carne, que os turistas chamam de pizza turca. Experimentei todas as variedades.
─ A maior parte da população de Istambul é muçulmana, porém a presença histórica de cristãos e judeus deixou marcas culturais profundas na cidade. Na região do Oriente Médio que vamos visitar, as tradições são mais visíveis.
─ Julian, você parece conhecer bem esses lugares. Já esteve por esses lados do mundo?
─ Sim, viajei muito a serviço. Já fiz a segurança pessoal de muitas pessoas importantes.
─ Opa, estou me sentindo uma princesa.
─ Você é uma princesa. Seu pai a tem como uma. Então, para mim, não importa que não ostente um título oficial. A importância é a mesma.
No dia da partida para o Marrocos, acordamos cedo e informei a Julian que gostaria de visitar um local na cidade antes de partirmos. Não poderia partir de Tarifa sem visitar um dos mais preservados castelos do califado de Andaluzia, conhecido como castelo de Guzmán el Bueno. Foi construído pelo Califa Abdár'Rahman III, no ano 960, durante o auge do domínio muçulmano na Península Ibérica. Da torre se tem uma vista incrível que chega às costas da África que fica a uns quinze quilômetros de distância
Ele fez os cálculos do tempo que teríamos e concordou. Faríamos o "check-out" no hotel e chamaríamos um motorista que pudesse nos acompanhar na visita e depois nos levar ao cais de onde partiria o ferry boat.
Ao chegarmos ao porto, na parte da tarde, havia uma movimentação de pessoas indo e vindo, o que me fez recordar de uma situação que vivi em Portugal.
─ Estive em um local movimentado de Lisboa, assim como este aqui, e um grupo de ciganos me abordou. Mesmo pedindo que me deixassem em paz e dizendo que não estava interessada em saber o futuro, uma mulher pegou minha mão e virou a palma para cima. Começou a me dizer que eu teria uma vida longa e que passaria por muitos momentos de sofrimento. Eu puxei a mão e dei-lhe as costas para sair dali, mas ainda a ouvi dizer que minha vida estaria prestes a mudar.
─ Você teve muita sorte de não ter sido roubada. Eles costumam chegar em bando, pois enquanto um distrai o alvo, outros pegam seu dinheiro e pertences.
Dei risada do vocabulário usado por Julian. ─ Alvo? Você está parecendo o agente 007.
─ Vamos, nosso barco vai sair.
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E aí, meus leitores, vocês gostam de viajar? Alguém já visitou os lugares descritos pela Alexandra Toledo?
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Sua colaboração será bem-vinda.Postarei dois capítulos por semana, de preferência às terças e sextas.
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Storie d'amore2o. COLOCADO NO #CONCURSOCOLORFUL NAS CATEGORIAS ROMANCE E CAPA. SINOPSE. "Sábios insistem em dizer que todas as respostas estão dentro de nós, basta que saibamos mergulhar no atoleiro de nossas almas e cavoucar a lama que esconde aquilo que não que...