Capítulo 4

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Bom dia, Mind. Esta noite tive um sono agitado. Creio que trazer de volta toda aquela aflição, não fez muito bem para mim. Tudo está tão vivo em minha memória. Consigo lembrar de cada detalhe, de cada conversa. Vejo cores, sinto cheiros. É incrível!

Quando chegamos ao Brasil, meus pais me aguardavam no aeroporto. Estar de volta foi mais do que matar saudades. Sentia-me num porto seguro.

Eu ainda estava muito abalada e os acontecimentos de Dubai dissiparam a magia que havia sido aquela viagem. Passaram-se dias até que me sentisse com vontade de conversar sobre as coisas boas do passeio.

As aulas já haviam reiniciado e eu precisava me esforçar para recuperar os dias que perdi. Aos poucos a vida parecia novamente voltar ao normal. Julian nos visitava com frequência e eu desconfiava que ele continuava fazendo a minha segurança. Meu pai não confirmava, mas também não desmentia. Imagino que eles não queriam que eu me sentisse preocupada com alguma hipótese remota que eles consideravam.

Lembro-me bem do domingo que meu pai entrou em casa, após sua corrida matinal.

─ Bom dia!!! Ana Júlia, larga esse computador e vai tomar um pouco de sol. Você precisa sair um pouco de casa, ordenou meu pai a minha irmã caçula.

─ Todo dia eu falo a mesma coisa, Edu. Entra por um ouvido e sai pelo outro. Vai acabar ficando doente, complementou minha mãe.

─ Vai entender essa geração de hoje, mulher, respondeu meu pai.

─ Ah! Edu, esqueci de lhe dizer que Alceu Neto mandou uma mensagem avisando que vem nos visitar daqui a três semanas. Não vejo a hora de abraçar meu menino. Sinto tanta falta dele.

Alceu Neto, meu irmão, o segundo filho, estudava em outro Estado e só vinha para casa ocasionalmente.

─ Todos nós sentimos, Lu. Vamos nos programar para um churrasco e muita música. Vou chamar meus irmãos e famílias. Isso está resolvido! Mudando de assunto, estava conversando com o Alcides, da portaria, e ele disse que a casa do Sr. Manolo aqui no condomínio finalmente foi vendida. Queria saber quem foi o doido que pagou o preço que o sovina estava pedindo. O Alcides disse que é uma firma de engenharia quem está responsável pelo imóvel e vão fazer uma boa reforma. Aquela casa não vale o preço que foi pago.

─ Pai, vai ver que quem comprou está levando em consideração o condomínio que é muito bom e só tem gente legal como nós, concorda? Perguntou meu irmão João Pedro, o primogênito.

─ Tão modesto, hein JP? Mas você não deixa de ter alguma razão. O condomínio é considerado um dos melhores da região de Goiânia, concluiu meu pai.

─ Vamos ver se o novo morador vai se enturmar conosco, comentou meu irmão em tom de piada.

─ Cadê a Ale, Ana Júlia? Perguntou meu pai a minha irmã caçula.

─ Ela disse que vai almoçar na casa do tio Roberto e depois irá ao cinema com Beatriz e Marie Claire, respondeu minha irmã.

─ É bom que ela se distraia para esquecer todo aquele trauma. Vamos pegar um cineminha também, dona do meu coração? Convidou meu pai.

─ Acho uma ótima ideia, amor. Podemos assistir ao filme O Livro de Eli, que está super- recomendado.

─ Excelente escolha, mulher.

E assim, Mind, o tempo foi passando e a vida parecia ter retornado ao normal. Maria Claire, filha da minha prima Andréia, nasceu sensitiva e havia nos alertado de que pessoas novas estavam chegando ao condomínio e que isso traria um impacto muito grande em nossas vidas. Ela sabia exatamente tudo o que aconteceria, mas só fazia alertas vagos. Dizia sempre que só podia revelar aquilo que lhe era permitido e que as pessoas tinham livre arbítrio para escolher seus caminhos, o que poderia modificar o rumo dos acontecimentos. Não me atentei muito ao que ela disse, pois não poderia supor que o recado estava direcionado a mim. Nesse mesmo ano, a reforma da antiga casa do Sr. Manolo foi finalizada e soubemos que os novos moradores haviam chegado. Eles entravam e saiam no condomínio em carros de luxo, blindados e os vidros com insulfilme bem escuro, bloqueando a visão do interior. Tinham motoristas particulares e seguranças vinte e quatro horas. Meu irmão Alceu Neto, que estudava no Colégio Naval em Angra dos Reis, em uma de suas visitas, ficou sabendo das novidades e achou tudo muito suspeito. Pediu ao meu pai que contratasse detetives para investigar, pois chefões do tráfico de drogas costumavam ostentar riquezas e montar quartéis em locais pouco visados, em meio a pessoas que não soubessem de suas atividades.

Eu seguia minha vida, estudando para concluir os estudos superiores. Tinha meu próprio carro e estava acostumada a dirigir sozinha. Porém, após as suspeitas do meu irmão, comecei a me sentir estranha quando saía de casa. Parecia que estava sendo vigiada. Por vezes, percebi veículos fazendo as mesmas rotas que eu, o que me deixava em pânico. Nada havia de concreto e eu tentava me convencer que eram só impressões da minha cabeça. Nem comentei nada com minha família, pois iria preocupá-los à toa. Deveria ter dado ouvido aos meus instintos...

─ Mãe, tenho um trabalho da faculdade para fazer e meu grupo vai se reunir na casa da Sandra hoje à noite. Devo chegar tarde, pois temos que terminar tudo para entregar ao professor amanhã.

─ Ale, talvez seja melhor você ir de táxi e seu pai ou seu irmão irem lhe buscar. Não fico tranquila com você dirigindo sozinha à noite.

─ D. Luísa, pare com tanta preocupação. JP tem plantão hoje e o papai chega cansado. Não vou tirá-lo do seu descanso para me servir de motorista. Quando eu for sair do local, eu ligo para vocês estarem cientes que estou voltando. Darei carona para a Lúcia e o Mário que moram a meio caminho daqui. Então, em parte do trajeto estarei acompanhada. Estou indo, mãezinha. Beijos. Te vejo à noite.

E como programado, saí da casa da minha colega Sandra acompanhada por Lúcia e Mário. Deixei cada um deles em suas respectivas moradas e seguia para a minha. As ruas estavam vazias, pois já passava da meia-noite. Evitei parar nos semáforos, cruzando as ruas devagar, quando estavam fechados para mim. O DVD do carro tocava músicas dançantes para afastar o sono. Não percebi que estava sendo seguida e quando reduzi a velocidade para cruzar um semáforo no vermelho, um carro bateu com força na traseira do meu. Com o choque, minha cabeça acertou o para-brisa, deixando-me um pouco tonta. Escutei alguém batendo no vidro da porta do motorista e o rapaz do lado de fora parecia preocupado. Estava bem vestido e perguntava se eu estava bem. Destranquei a porta para sair, falar com ele e ver o estrago. Teria que ligar para meu pai para ele acionar a polícia e a seguradora. Droga, iria ter que incomodá-lo. Quando me vi fora do carro, o rapaz começou a me pedir desculpas e a dizer que assumiria todos os custos, que tinha seguro. Não percebi que outra pessoa tinha vindo pelas minhas costas. Um lenço foi colocado no meu nariz e não vi mais nada. 


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