A cápsula migratória singrava o impassível mar de alcatrão desprovida de qualquer preocupação rumo à nave da qual havia se desprendido há algumas horas. Mesmo daquela distância, já era possível tomar conhecimento da imensidão daquela embarcação que se assomava à sua frente como um monstro colossal prestes a devorá-lo. Sua construção não havia sido nada simples, mesmo para o nível de tecnologia existente na época. A verdade é que construir uma espaçonave que equivale à um quarto do volume terrestre seria um desafio independentemente do nível de tecnologia em que se encontrassem.
A aparente lentidão no deslocamento apenas era explicada pela descomunal distância entre os locais. Já era possível avistar a nave no sensor da capsula migratória e a calmaria já voltava a se estabelecer enquanto Marcos ajustava os equipamentos para fazer a entrada na área de lançamentos. Enquanto isso, Charles e Louise já se encontravam em posição para fazer a recepção, equipados com o traje azul padrão para trabalhos internos e isolados do restante do universo apenas pela porta pressurizada que separava a sala de reuniões do ambiente no qual, em instantes, Marcos aterrissaria. Já dava para ver a cápsula através dos portões da área de lançamento.
De dentro da cabine, Marcos observava a entrada do hangar e os equipamentos já estavam ajustados para fazer a entrada com tranquilidade. A cápsula passou com folga enquanto as portas se fechavam atrás dele sem nenhuma pressa. Tudo havia ocorrido como esperado, as portas do hangar já estavam se fechando e Marcos já abria a porta da cápsula. E então, tudo aconteceu.
A escuridão tomou conta do hangar, como se por um momento nada mais existisse. A única certeza da existência era o som das portas do hangar continuando a se fechar. Charles e Louise não tiveram tempo de tomar nenhuma atitude e quando tudo voltou à vista foi como se nada houvesse acontecido. Os portões estavam fechados, a cápsula migratória já estava em posição e com a porta de saída aberta, mas Marcos ainda não havia saído. Então a dupla abriu a porta e foi ao encontro do explorador. A visão que obtiveram não ajudou em nada a entender o que havia acontecido até ali. Marcos estava de pé sobre a escada de saída da cápsula, imóvel e com o visor do seu traje completamente preto, impossibilitando de enxergar seu interior.
– Marcos? – Charles agora estava ao pé da escada esperando uma resposta do explorador – Está tudo bem?
Nada.
– Marcos? O que houve? – Ele insistiu.
Começando a se preocupar de que algo sério poderia ter acontecido ao seu companheiro de equipe, Louise subiu as escadas e foi até aquele traje paralisado que se encontrava a sua frente. Porém ao tocar o traje ela se surpreendeu ainda mais.
– Charles, ele está completamente rígido. É como se o traje estivesse preenchido com alguma coisa, eu não consigo movê-lo.
–Eu vou subir aí e a gente o leva até a sala de reuniões para ver com a comandante se ela sabe alguma coisa sobre o que acabou de acontecer aqui.
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Matéria Escura
Science FictionO ano: 2237. Um grupo de cientistas se vê preso na sala de reuniões de uma nave quando uma explosão de matéria escura altera toda sua noção de realidade, afetando passado, presente e futuro.