Capítulo 11 - Barcos à deriva

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Tudo era ausência: de luz, de som, de vida. O espaço era tomado por nada, mas o que é o Nada? A mente humana é tão incapaz de aceitar e compreender o nada quanto é de aceitar e compreender o infinito. Seriam eles, no final das contas, a mesma coisa? O que preenche o espaço entre as estrelas? O que está separando as partículas de matéria? O que está no espaço vazio entre você e o seu próximo? Nada? Ou Infinito? Seja qual for a entidade que se põe entre tudo isso, lá estava ela, observando, acompanhando, direcionando. Dois projéteis vagando por entre as estrelas; duas espaçonaves de tamanho tão distinto quanto seus propósitos e embora tão distantes em seus objetivos não poderiam ser mais similares em seus métodos. Cápsula Migratória versus Nave-mãe; Davi versus Golias; Bem versus... Mal?

Ali, nos confins do universo, distante de qualquer forma de vida inteligente, uma das batalhas mais importantes estava prestes a acontecer. E diferente do que a maioria das pessoas espera, grandes batalhas não se estendem mais do que o necessário, pois na maior parte das vezes o lado vencedor já está definido bem antes do primeiro golpe. E assim seria naquela ocasião: sem acréscimos, sem prorrogação, sem segunda chance para qualquer dos lados. As únicas testemunhas seriam aqueles bolsões de vida ainda em desenvolvimento, ninguém na Terra saberia o que aconteceu até notarem que a missão estava demorando mais do que o necessário e não conseguirem obter qualquer comunicação.

E como sempre acontece, a humanidade seguiria sua vida normalmente sem se dar conta da grande batalha que se travava em seu nome, sem tomar conhecimento dos resultados por mais diretos que eles fossem, sem enxergar aquelas duas naves em rota de colisão, sem imaginar o que passava na cabeça de Charles enquanto ele se direcionava em uma última missão suicida acelerando sua cápsula migratória em direção a cabine da nave interplanetária Yuri Gagarin como último recurso para parar o ímpeto de Louise, sem enxergar a beleza no caos que surgiu da interação nada amigável daquelas duas armas, sem acompanhar os destroços que agora se espalhavam pela galáxia em um silêncio fúnebre, sem sequer imaginar que a notícia de que os primeiros sinais de vida inteligente aparecendo em Marte só foi informada em todos os jornais naquele dia graças à ação heroica de Charles em um passado distante, e das cinzas de uma grande batalha renasceu a diversidade da vida na galáxia.

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