Capítulo 6 - Bizarro

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As memórias inundavam a mente de Charles à medida que ele encarava os três furos naquela bandeja. Toda sua realidade começava a se reestruturar, fragmentos do passado se encaixando como num quebra-cabeças, cada fragmento buscando o local ideal para se encaixar.

Louise agora encarava a expressão aterrorizada de Charles e sua própria feição ia se alterando aos poucos, espelhando o pavor iminente.

– Charles, você também está vendo alguma coisa nessa bandeja?

– Não, Louise, mas com certeza eu também vi.

– Como assim? – A confusão ficava cada vez mais clara em sua voz a medida que ela falava. – O que você quer dizer com isso?

Todas as informações agora começavam a se assentar na mente de Charles e ele aos poucos foi recuperando a calma.

– Eu sei o que você passou porque eu também passei pela mesma situação que você. Esses três furos na bandeja... dois deles são de visões que eu tive. Sempre a mesma coisa, uma mulher, um cara, uma tesourada e um furo na bandeja. Eu não sei como eu pude esquecer disso, mas foi como se isso nunca tivesse acontecido, a informação simplesmente se escondeu em algum recanto do meu cérebro. Louise, eu não sei o que aconteceu aqui, mas o que quer que tenha sido, acho que está afetando nossas memórias.

– Você acha isso só porque você esqueceu que teve essas visões? Charles, sua mente provavelmente supôs que isso não foi real e descartou esse fato e agora que você reviveu isso através de mim, tudo veio à tona. Ou talvez seu cérebro tenha camuflado esse acontecimento devido ao trauma.

– Não é só isso. Há quantos dias nós estamos aqui desde o que aconteceu com Marcos? Quantas refeições nós fizemos hoje? Qual foi a última vez que tentamos estabelecer contato com Tsu? – Charles havia levantado da cadeira e começava a se exaltar, andando de um lado para o outro. – Ao que me parece nós podemos estar aqui há meses sem nem sequer termos conhecimento disso.

– E o que nós vamos fazer? Não tem mais nada que possamos tentar...

– Eu não sei. A única certeza que eu tenho é que estamos aqui há muito tempo, presos com esse traje que nem sabemos se ainda contém o Marcos e a única informação que a gente tem é essa visão nessa porcaria de bandeja.

Charles havia atingido o limite de sua paciência e arremessado a bandeja furada contra a parede do refeitório, fazendo-a sumir do seu campo de visão. Estava cansado e frustrado, sentia que não havia mais saída para aquela situação que podia estar ocorrendo há horas ou há meses, suas esperanças se esgotavam, até que ouviu um som metálico atrás de si. Ao virar para trás, a visão que teve fez seu corpo inteiro se retesar. A bandeja retornava girando pelo chão da nave voltando da parede em que havia sido arremessada. Não era possível identificar os três furos que haviam antes, já que agora toda superfície da bandeja parecia ter sido vítima de um tiroteio.

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