29. Morte

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*Joelma*

Acordei com Rogers me chamando com um sorriso no rosto e um tom de voz delicado, pelo visto havia pegado no sono novamente.

—Acorda princesa!

Meio atordoada, olhei em volta e vi uma enfermeira com o material para coletar meu sangue. Prontamente me sentei cama, prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo e estendi meu braço para enfermeira para que fizesse seu trabalho. Rogers permaneceu ao meu lado observando tudo. Vi que Yago e Yasmin também estavam no quarto. Ele estava de pé próximo a janela e me olhava e sorria, mas seu pensamento parecia distante. Yasmin estava sentada no sofá atrás da enfermeira e mexia no celular, mas estava pensativa. Achei tudo aquilo muito estranho e assim que a enfermeira saiu do quarto resolvi perguntar o que estava acontecendo.

—Porque essas caras de enterro de vocês hein?!
—Bom mãe, queremos conversar com você...

Yago falou enquanto se aproximava de mim e se sentou na cama próximo aos meus pés. Yasmin veio e se deitou ao meu lado, se aconchegando em meus braços. A abracei de imediato, mas estava assustada. Rogers permanecia sentado na poltrona apenas observando tudo.

—Mãe, o Rogers me contou sobre o que aconteceu mais cedo sobre o pai. Conversamos e decidimos que se você quiser vê-lo, iremos, mas com as condições de que iremos juntos e se você prometer que se começar a sentir qualquer coisa vai nos avisar.
—Tudo bem, eu aceito.
—Promete? (Yasmin)

Yasmin me olhou com cara de cachorro pidão, mas pude ver o medo em seu olhar. Não só no olhar dela, mas no de todos ali presentes. Eles tinham medo de que acontecesse alguma comigo ou com o bebê. Não pude negar a um pedido desses, e respondi, enquanto beijava o topo da cabeça de Yasmin.

—Prometo!

Yago assentiu, se levantou e trouxe a cadeira de rodas para mais próximo da cama. Yasmin, me ajudou a levantar e me sentar na cadeira de rodas. Rogers manteve-se imóvel, achei estranho...

—Rogers, você não vem?!
—Não meu amor, é um momento seu e de seus filhos. Mas estarei aqui te aguardando, está bem?!

Ele sorriu e eu retribuí o sorriso. Logo fomos em direção ao corredor. Yago guiava a cadeira de rodas enquanto Yasmin levava o soro. Não sei se foi obra do destino ou intencional por parte do Yago, mas o quarto dele era no mesmo andar do meu. O corredor estava vazio, entramos no quarto e havia apenas um enfermeiro no quarto fazendo alguns curativos. Aguardamos ele finalizar no canto do quarto, ao terminar ele apenas sorriu, saiu do quarto e fechou a porta, deixando-nos a sós. Acena era triste, ele estava completamente entubado, cheio de ataduras e fios ligados a ele. Não me contive, levei uma das minhas mãos até a boca, estava assustada com a situação e chorei.

—Quer se aproximar mãe?!

Yago perguntou e eu apenas concordei com a cabeça. Ele levou a cadeira até próximo a cama. Apesar dos fios, tubos e sondas, pude notar seu rosto pesado e triste. Naquele momento em mim não existia ódio ou rancor dele, meu desejo era tirar ele daquela situação. Sentia arrependimento por não ter lutado mais logo quando descobri seu alcoolismo, estava no início, tinha jeito... Chorei, Yasmin segurou minha mão forte e também chorava. Yago se mantinha firme e envolveu seus braços em nós duas. Segurei uma das mãos de Chimbinha e fiz um carinho ali, aproximei meu rosto do seu e sussurrei:

—Está tudo bem, eu perdoo você. Não tenho mágoas, pode ficar em paz viu?!

Assim que ergui meu corpo, me recostando na cadeira, observei seu rosto mais uma vez e pude ver que seu semblante havia mudado. Ele parecia estar mais calmo. Yasmin o abraçou e falou que o amava, Yago fez o mesmo. Assim que nos afastamos do seu leito, percebemos que o monitor apontava um aumento dos seus batimentos cardíacos. Yago ficou assustado e chamou um enfermeiro que estava no corredor. Rapidamente nos tiraram dali e pediram que aguardássemos em meu quarto.
Acatamos ao pedido e retornamos ao quarto, todos assustados. Rogers logo se levantou confuso sem entender.

—O que houve com vocês?!

Ainda sem acreditar com o que tinha presenciado, fui para minha cama. Rogers se aproximou e me abraçou sem entender absolutamente nada.

—Calma Jô! Vai ficar tudo bem...

Não demorou e Yasmin veio chorando para os meus braços. Yago levava as mão a cabeça nervoso. Era obvio que ninguém queria que o pior acontecesse.

­—Mãe, será que ele vai...? (Yasmin)
—Vamos torcer para que não meu amor!

Ainda abraçada com Yasmin, olhei para Rogers. A tranquilidade que eu precisava naquele momento, estava nele. Eu estava com os olhos vermelhos e o rosto molhado, ele sorriu para mim com um olhar terno.

—Vai ficar tudo bem, independente do que aconteça, ok meu amor?!

Concordei com a cabeça e voltei a me abrigar em teu peito. Não demorou muito e um médico chamou Yago no corredor. Ele voltou poucos minutos depois chorando, veio correndo para me abraçar. Naquele momento, todos entendemos o que realmente tinha acontecido. Eu precisava ser forte, por mais que estivesse quebrada por dentro, meus filhos precisavam de mim. Tratei de me acalmar, enxuguei as lágrimas do meu rosto e fiquei ali abraçando meus filhos, enquanto Rogers me abraçava também. O que mais me doía era saber que meus filhos estavam sofrendo, mas agora eu só poderia consolá-los.
Eu olhei para cima para pedir direção a Deus, mas naquele momento somente senti que tudo ao meu redor girava, minhas vistas escureciam, parecia que eu ia desmaiar, foi o tempo certo de avisar a Rogers o que estava acontecendo. Não sei de onde tirei forças, mas avisei a ele meio embolado antes de apagar:

—Eu vou desmaiar...

The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora