30. Esperança

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*Rogers*

Ouvi Joelma balbuciar alguma coisa, mas não entendi completamente o que ela disse. Logo em seguida senti seu corpo amolecer junto ao meu e vi que ela tinha desfalecido. Yasmin e Yago se afastaram, a coloquei deitada na cama e logo apertei o botão de emergência, tentei reanima-la chamando por seu nome e dando leves batidas em seu rosto, mas era em vão. Não demorou muito e a doutora Samantha entrou no quarto com o estetoscópio no pescoço, perguntando o que tinha acontecido. Expliquei meio nervoso, e ela assentiu com a cabeça e pediu para que todos saíssemos do quarto para que ela pudesse examinar melhor. Peguei minhas muletas e saí do quarto, indo em direção a recepção junto com os meninos. Eu não conseguia parar de pensar em Joelma, mas os meninos precisavam de mim naquele momento, então tratei de mandar mensagem para Natália explicando tudo o que havia ocorrido. Yago abraçava Yasmin, seus olhos estavam vermelhos, claramente ele estava se segurando para não chorar, Yasmin por sua vez não escondia isso de forma alguma. Pedi para que Yago sentasse em outra cadeira para que eu ficasse entre os dois. Com um dos braços eu abraçava Yasmin que se apoiou em meu peito e continuou a chorar. Com o outro braço eu apertei o ombro de Yago que apoiou os cotovelos na perna e levou as mãos ao rosto e chorou também. Não havia algo que eu pudesse fazer, queria tirá-los daquele sofrimento, queria tirar Joelma daquela situação, mas eu apenas me sentia impotente. Só conseguia pensar em Joelma naquele momento. Por favor loirinha, fica bem, por favor! Você é mais forte do que pensa, por favor fica bem!

Quase uma hora havia se passado e ainda não tínhamos recebido nenhuma notícia de Joelma. Natália já havia chegado e estava ajudando Yago com a papelada do Chimbinha. Eles haviam decidido levar o corpo para Oeiras e fazer o enterro dele lá. Uma das tias dele que ainda morava na cidade, disse que se encarregava de cuidar de tudo. De certa forma era um alívio para Yago, não sei até que ponto ele queria estar à frente disso.

—Vamos Min, você tem que pelo menos tentar comer ou beber alguma coisa...
—Não quero, eu só quero a minha mãe.

Ela se aninhou novamente em meus braços. Eu já estava ficando nervoso com aquilo tudo e apenas torcia para que nada de ruim acontecesse. Não demorou muito para que a doutora Samantha aparecesse e me chamasse. Me levantei e fui até a ela que me levou até um local mais afastados dos meninos.

—Olha Rogers, soube o que aconteceu com o ex marido dela e sinto muito por isso. O estresse que ela passou foi muito intenso e agora a gravidez dela é de risco, é necessário repouso total. Peço que as visitas fiquem restritas apenas a família. Vamos estar monitorando ela de perto, com exames mais frequentes para garantir que ela fique bem. Vamos manter ela em observação por mais dois dias aqui no hospital, se estiver tudo ok, logo ela terá alta. Ela teve apenas uma queda de pressão, devido ao estresse, mas isso afetou muito o feto por conta da sincope gerando uma pequena hemorragia. Por pouco ela não teve um aborto espontâneo.

Estava perplexo com aquela situação, quase perderíamos nosso filho. Ouvia tudo o que a médica falava com atenção e tentava não parecer desesperado.

—Mas ela está bem doutora?!
—Está sim, só um pouco cansada e abalada com o que aconteceu. Insistimos para ela comer alguma coisa, mesmo contra a vontade dela. Aceitou apenas por conta da gravidez, agora ela está dormindo. E peço para vocês irem para casa descansar um pouco também, tomar um banho se alimentar e amanhã vocês voltam. Ela precisa se recuperar.
—Mas não queria deixa-la sozinha...
—Não se preocupe, ficaremos de olho nela a noite toda.
—Obrigada doutora, vamos seguir suas recomendações.

Ela sorriu para mim e seguiu pelo corredor. Me virei em direção ao corredor e me deparei com três olhares ansiosos para mim.

—Eai, como está a mamãe?! (Yasmin)
—Quando podemos vê-la? (Natália)
—Diz que ela está bem, por favor! (Yago)

Fui em direção às poltronas e me sentei, fazendo sinal com as mãos para que eles fizessem o mesmo.

—É o seguinte, a mãe de vocês está bem. Ela teve uma queda de pressão e desmaiou, por conta disso tudo ela teve uma pequena hemorragia que fez o feto passar por muito estresse, e quase que ela sofreria um aborto espontâneo. Mas agora a situação já foi controlada e ela está bem.
—Então posso ver ela?!

Yasmin falou com um sorriso no rosto já de pé.

—Calma, ainda não. Por conta de todo estresse as visitas foram reduzidas e somente nós podemos entrar no quarto, porém hoje a doutora Samantha pediu para que fossemos para casa, tomar um banho, comer e descansar, e amanhã voltarmos. E pensando bem, é o melhor mesmo. Sua mãe vai ficar bem, está sendo muito bem cuidada e agora ela precisa de nós, então vamos fazer isso pensando no bem-estar dela, ok?!

Eles concordaram comigo com a cabeça e seguimos em direção a saída para chamar um uber. Não demorou muito e logo chegamos em casa. Assim que Augusto me viu, veio em minha direção. Era meio difícil carrega-lo por conta das muletas, mas sentei no sofá e peguei meu filho no colo jogando ele pra cima e fazendo algumas gracinhas.

—Eai amigão! Papai estava com saudades!
—Cadê tia Jô?
—Já já ela chega, tá bom?!

Ele me deu um beijo e desceu do meu colo se divertindo com alguns brinquedos espalhados no chão, enquanto a babá trocava o desenho animado da tv. Peguei minhas muletas e segui em direção a cozinha. Uma parte da equipe estava lá, o clima era bastante pesado. Todos estavam murchos, mas sabia que estavam ali para nos dar algum apoio. Diego tentava animar Yago com algumas gracinhas e Jessica sugeria algum filme para ela e Yasmin assistirem. Natália estava no telefone com Jânio do lado de fora.

—Muito obrigado gente por estarem aqui, de verdade!
—Que é isso cara! Estaremos sempre com vocês independente do que aconteça! (Tiago)
—Isso ai! (Raul)
—Vocês não sabem o quanto isso é importante para nós! (Yago)
—Bom gente, eu vou tomar um banho, e sugiro que os meninos façam o mesmo. Depois a gente pode cantar alguns louvores, acho que a Joelma ia gostar.

Todos concordaram e eu segui em direção ao quarto da Joelma, que agora era nosso. Apesar da dificuldade para subir as escadas, logo cheguei ao quarto e fui direto para o banheiro. Tirei a roupa e tomei um banho gelado, assim que acabei me enxuguei e fui para o quarto trocar de roupa, me deparei com uma blusa da Joelma jogada em cima da cama. Não hesitei em pegar e sentir seu cheiro. Apertei a blusa com as duas mãos e olhei para cima.

—Por favor cuida dela!

Vesti uma cueca, uma bermuda jeans e uma camiseta regata preta e em seguida desci as escadas para encontrar o pessoal na sala. Não demorou e os meninos apareceram também. Yago, Diego e Raul pegaram um violão cada e os louvores começaram. O clima ficou mais leve, não nego. Mas não parava de sentir falta de Joelma ali comigo.

Algumas horas depois, cada um foi para sua casa e já era tarde, precisávamos dormir. Natália preferiu ir para casa, no outro dia precisaria ir para a faculdade cedo. Yasmin estava com uma carinha triste no sofá, cheguei fazendo cosquinha nela que soltou um sorriso tímido.

—Vamos dormir princesinha!
—Mas eu não vou conseguir...
—Já tentou?
—Não...
—Então menina! Faz assim, tenta dormir, se não conseguir vai lá no quarto me chamar que a gente faz alguma coisa tá bom?!
—Tudo bem!

Ela levantou e foi direto para seu quarto. Yago que estava guardando os instrumentos, veio até mim e me deu um abraço.

—Vai ficar tudo bem cara!
—Vai sim, não é o fim do mundo e sua mãe logo logo vai sair dessa também!
—Obrigado por cuidar da gente tão bem.
—Não se preocupe com isso, prometo dar o meu melhor a vocês.

Subimos juntos e cada um foi para seu quarto. A porta do quarto de Yasmin estava encostada e pude vê-la dormindo descoberta, entrei devagar e a cobri. Saí fechando a porta e sorrindo feliz porque ela iria descansar. Dei uma passada no quarto do Augusto que também dormia tranquilo. Fui para o quarto, deitei na cama e peguei no sono ali mesmo, agarrado a blusa de Joelma sentindo seu cheiro.

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