capítulo 5 - AZRIEL

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_ Azriel. É estranho ter você desse lado da mesa.

_ Stella, também é bom voltar a ver você. Mas não devia ser o Cassian agora?

_ Por que seguir um roteiro, se podemos deixar-lo mais flexível?

_ Cassian não precisará prestar depoimento. Isso o deixará radiante.

_ Se eu falar com um, de alguma forma vou estar falando com o outro também, afinal, os três mosqueteiros provavelmente já ensaiaram um lindo texto antes de entrar e se sentar na minha frente.

_ "um por todos, e todos por um" gosto dessa frase.

_ Claro que você gosta. Mas não posso deixar os dois sem falar comigo. E entre você e o adorável Cass... eu prefiro você.

_ Relaxa, um chute nas bolas já foi o suficiente para o idiota aprender a se comportar com as damas de Sindra.

_ Bom saber. Azriel onde você esteve a três dias atrás por volta das sete da noite?

_ Jantando no quarto do Rhysand.

_ Rápido.

_ Não gosto de perder tempo.

_ E depois do jantar, você fez o quê?

_ Helion apareceu e Rhys saiu com ele falando algo sobre um chá. Feyre ficou animada e nos obrigou a permanecer no quarto. Segundo minha grã senhora, "todos temos que juntos". Acho que tem haver com gravidez.

_ Fala por experiência própria? - sorri olhando para fora da barraca, como se eu fosse ver Jodhi sorrindo enquanto acaricia sua barriga que ainda está ganhando forma. - fiquei sabendo. Parabéns.

_ Obrigado. Mais admito que a idéia me assusta um pouco.

_ Assustar, você? Essa é uma novidade. - sorri. - como vocês se conheceram?

_ Achei que eu estivesse aqui por causa da morte do Beron.

_ Bom eu vou perguntar se você matou, ou se esteve no quarto, ou ee viu quem o matou. Aí você irá responder que não para todos elas.

_ Exatamente. Eu não o matei, porque eu teria feito mais que um simples furo. Também não estive no quarto ou vi quem o matou, e se tivesse visto, também não contaria. Beron teve uma morte até boa, perto do que ele merecia.

_ ninguém gostava desse senhor.

_ Beron era a personificação do demônio. Lisandra quem o diga.

_ Entendi. Eu agora dispenso você e vou ficar entediada, com fome e sono, fora o cansaço físico e emocional. Então, um papo entre velhos amigos não prejudicará um caso em andamento. Tenho que esperar o legista de qualquer forma. - sorri. Stella realmente estava com uma aparência horrível.

_ Tem razão. Distração e um pouco de risos, anima e te gás para continuar. - assenti. Aquilo era ótimo, quanto mais enrolava o caso, mais tempo tínhamos. Então comecei a falar. Com Stella era fácil conversar, sorri ou até mesmo brincar. E está enganando ela era como engoli brasa quente. "É preciso" falei para mim mesmo.

_ Então. Como a felizarda conseguiu conquistar o coração duro desse mestre espião?

_ Jodhi era uma das sacerdotisas que vivia na biblioteca. Eu a salvei de um estupro a cento e cinquenta anos, atrás. Na verdade nem lembrava disso. Desde então Jodhi vivia na biblioteca e nunca saia de lá. Ela assim como eu, teve a falta de sorte de ser criada como uma bastarda, filha de um senhor muito rico e sua criada. Certo dia, eu estava no comércio de Velaris, comprando mantimentos para minha casa, quando uma voz feminina chamou meu nome, tão tímida que quase me deu pena.

Jodhi ainda estava treinando sua fala, ainda estava tentando superar o que lhe havia acontecido. Como tinha muitos anos que eu não a via, afinal o único encontro que tivemos antes, foi quando a salvei. Levei um susto quando ela começou a agradecer, emocionada.

Perguntei o que ela estava fazendo fora da biblioteca, e demonstrei minha felicidade por ver que ela estava dando a si mesma uma nova chance. Jodhi respondeu que devia tudo a Lisandra, e que desde que decidiu sair do templo, estava servindo a própria Lisandra, e que gostava de se sentir útil para alguém.

Por algum motivo, meu coração se aqueceu com o depoimento da jovem e algo dentro de mim me dizia que eu precisava ajudar aquela jovem. Mas como? Tudo o que eu tinha era minha amizade e nada mais.
Não chega ser um laço de parceria ou algo assim, mas com o passar do tempo e das nossas conversas a amizade foi tornando-se algo a mais, eu não sei explicar. Eu precisava dela, está com ela. Simplesmente a ver sorriso em seu rosto. Mais tinha receio de convidar-la para sair. Jodhi ficava nervosa demais quando ficávamos só nos dois em um ambiente e eu entendia o lado dela.

Conversei com Rhys sobre meus sentimentos, temos essa abertura um com o outro, por isso ele nos chama de círculo íntimo. E ele me disse para tentar ir ganhando a confiança dela aos poucos, tentar demonstrar meus sentimentos com cuidado, Jodhi já havia sofrido demais nessa vida, tinha sido violentada diversas vezes, por tanto, não seria um caminho fácil, mas se eu a queria, eu tinha que tentar. E eu fiz. Acho que sou um tolo romântico por baixo dessa cara feia. Eu fiz tudo para ser um dia especial para Jodhi. Comprei um presente, um vestido que ela tinha visto e gostado dias atrás; a levei para os jardins do fundo. Então eu a beijei. Um grave erro. Jodhi afastou-se de mim assustada e saiu correndo. Não a vi por duas semanas. E então comecei a me culpar. Ela estava indo bem, conseguia sair desacompanhada, sorria com frequência e até mesmo estava tentando aprender a ler e eu na minha idiotice, tinha estragado tudo. - tentei mas as lágrimas começaram a queimar meus olhos com as lembranças.

Estávamos na queda das estrelas. Neguei qualquer pedido de dança, vinho, ou comida. Minha atenção estava voltada para o céu, me perguntando o porque daquilo, por quê todas as fêmeas que eu amei sempre fugiam de mim. As luzes foram apagadas e mesmo com o protesto de todos, eu não quis ficar perto deles, queria ficar só, apreciando as estrelas caírem como os meus sonhos.
Levei um susto quando senti duas mãos pequenas abraçar meu peito por trás. Eu não sabia se sorria ou chorava, quando senti os lábios de Jodhi nós meus. Firmes, desejosos e quentes. - sorri com malícia. - não preciso terminar. Ela está grávida, então tire suas próprias conclusões.

_ Caramba. - Stella secou as lágrimas com as pontas dos dedos. - viu o que você fez? Três noites sem dormir direito, um caso complicado e ainda uma história linda dessa. - ela sorriu. Notei os policiais olhando intrigados para nós. - brincadeiras a parte, eu fico feliz que você tenha encontrado alguém importante e principalmente que esteja formando sua própria família. Você será um ótimo pai.

_ E o que eu espero, ter um futuro incrível com Jodhi e o nosso bebê.

_ Você terá. Agora se me der licença, preciso me recompor. Fica difícil bancar a policial durona com o nariz vermelho e os olhos inchados.

_ Com certeza. - me levantei. - Stella?

_ Sim?

_ Eu confio em você. Sei que será justa nesse caso.

_ Puxar meu saco não livrará o assassino da cadeia.

_ Eu sei. Mesmo assim eu confio. - a detetive piscou me jogando um beijo.

Quando eu saí, Cassian já estava preparado para ser o próximo, ainda emotivo, e ficou ainda mais emotivo, quando lhe disse que ele não precisaria prestar depoimento. Odiava mentir para meus amigos. "Um mal necessário". Repetir para mim.

Cerca de uns duas horas depois o policial saiu, sabíamos que ele ia chamar alguém. Nos entre olhamos, quem seria dessa vez. Cassian cruzou os dedos.

_ Senhor Tamlin Pellegrini.

Tamlin estranhou ser chamado, mas obedeceu. Observei o grão senhor entrar na tenda.

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