Coisa temporária

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Ela chegou em casa naquela tarde antes dos irmãos mais novos, o que foi ótimo, porque não estava pronta para vê-los novamente. Já tinha sido um supershow de horrores na noite anterior, quando entrara em casa.

Dinah passara tanto tempo pensando em como seria voltar para o lar finalmente e em quanto sentira saudades de todos que esperava ser recebida com um desfile de boas-vindas. Pensava que haveria uma verdadeira festa do abraço.

Mas, quando entrou na sala, parecia que os irmãos nem a reconheciam. Daniel apenas olhou para ela, e Regina... Regina estava no colo de Siope. O que teria feito Dinah vomitar, não fosse a promessa feita à mãe de ter o melhor comportamento do mundo para o resto da vida.

Só Seth correu para abraçá-la. Ela o pegou no colo, agradecida. Ele tinha cinco aninhos, e estava bem pesado.

:- Oi, leãozinho! - ela disse. Chamavam-no assim desde que era bebê. O menino parecia mais era com um filhotinho de cachorro, dos grandes e desengonçados, sempre espevitado, sempre tentando pular para o colo das pessoas.

:- Olha, pai, é a Dinah - Seth falou, quando ela o pôs no chão. - Você conhece a Dinah?

Siope fingiu que não escutou. Regina observava a cena, chupando o dedão. Dinah não a via fazendo isso havia muito tempo. Estava com oito anos de idade, mas, com o dedo na boca, parecia um bebezinho.

O bebê não se lembraria de Dinah de maneira alguma. Tinha só dois anos... Sentava-se no chão junto de Daniel, que estava com onze. Fitava a parede atrás da TV.

A mãe carregou a mochila com as coisas de Dinah para um quarto que dava para a sala de estar, e a garota acompanhou-a. O quarto era pequeno, com espaço suficiente apenas para uma cômoda e alguns beliches. Seth entrou correndo, logo em seguida.

:- Você vai ficar com a de cima - falou -, e Daniel vai ter que dormir no chão comigo. A mãe já contou pra gente, e o Daniel começou a chorar;

:- Não se preocupe com isso - disse a mãe, calmamente. - É só a gente se acostumar.

Não havia espaço naquele quarto para se acostumar (o que Dinah evitou mencionar). Foi deitar-se assim que pôde, para não ter de voltar à sala.

Quando acordou, no meio da noite, os três irmãos dormiam a sono alto, deitados no chão. Não havia jeito de se levantar sem pisar um deles, e ela nem sabia onde ficava o banheiro...

Encontrou-o. Havia somente cinco cômodos na casa, e o banheiro era ligado à cozinha - tipo, literalmente ligado, sem porta. A casa fora arquitetada por trolls das cavernas, pensou Dinah, Alguém, provavelmente sua mãe, pendurara um lençol florido entre a geladeira e o vaso sanitário.

À luz do dia, depois da escola, a casa ainda parecia uma caverna, ainda mais deprimente. Porém, pelo menos Dinah tinha o lugar todo, e a mãe, só pra ela.

Foi esquisito chegar em casa e vê-la na cozinha, como... como se fosse normal. Estava fazendo sopa, picando cebola. Dinah teve vontade de chorar, não por culpa da cebola.

:- Como foi na escola? - perguntou a mãe.

:- Bem - Dinah respondeu.

:- Alguma novidade de primeiro dia?

:- Sim, quer dizer, ah, as mesmas aulas de sempre.

:- Vai ter muita coisa para correr atrás?

:- Acho que não. - A mãe limpou as mãos nas calças e arrumou o cabelo atrás das orelhas, e Dinah ficou embasbacada, pela milionésima vez, com quão bonita ela era.

Quando pequena, Dinah achava que a mãe se parecia com uma rainha, como se fosse a protagonista de um conto de fadas. Não uma princesa, princesas são bonitinhas. A mãe de Dinah era linda. Alta e majestosa, ombros largos. Seus ossos pareciam mais determinados do que os das outras pessoas. Como se não estivessem ali para mantê-la de pé, mas para expressar um ponto de vista.

Dinah&Normani - NorminahWhere stories live. Discover now