Não havia meio de retribuir

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Quando acordou naquela manhã, Dinah sentiu-se como se fosse seu aniversário.... Como costumava se sentir em seu aniversário, na época em que acontecia uma hiper-rodada de sorvete.

Talvez houvesse um pouco de sorvete na casa do pai. Se tivesse, ele provavelmente jogaria fora antes que ela chegasse. Vivia cutucando-a por causa do peso. Bom, era o que ele costumava fazer. Talvez, quando ele deixasse de se preocupar de todo com ela, pararia de ligar para isso também.

Dinah vestiu uma camisa masculina velha, listrada, e pediu à mãe que amarrasse uma de suas gravatas – tipo dar um nó mesmo – em torno de seu pescoço.

A mãe chegou a dar-lhe um beijo de despedida na porta de casa e disse um “divirta-se”, e que ligasse para os vizinhos caso as coisas ficassem estranhas com o pai.

Certo, pensou Dinah, com certeza, vou ligar para você caso a noiva do papai me chame de vadia e me faça usar um banheiro sem porta. Ora, que coincidência!

Estava um pouco nervosa. Fazia pelo menos um ano que não via o pai, e passara certo tempo sem vê-lo antes disso. Ele nunca ligava na época em que ela morou com os Hickmans. Talvez nem soubesse que ela estava lá. Ela não lhe contou.

Ele não aguentava ficar nem um fim de semana com os filhos. Buscava-os na casa da mãe desses, depois os deixava na casa da avó e saía para fazer sei lá o que ele costumava fazer nos fins de semana. (Presumivelmente, algo envolvendo muita, muita maconha).

Normani caiu no riso quando viu a gravata de Dinah. Isso era melhor ainda do que fazê-la sorrir.

:- Não sabia que era pra usar roupa social – ela disse quando a loira sentou ao seu lado.

:- Estou esperando que você me leve a algum lugar legal – Dinah falou baixinho.

:- Eu vou... – Ela pegou a gravata com ambas as mãos e a esticou. – Algum dia.

Era muito mais provável do que ela dissesse coisas desse tipo no caminho para a escola do que no caminho para casa. Às vezes, ela se perguntava se ela estava totalmente acordada.

Normani virou-se praticamente de lado no banco.

:- Então você vai logo após a escola?

:- Isso.

:- E vai me ligar assim que chegar lá...

:- Não, vou ligar assim que o bebê ficar quietinho. Eu tenho mesmo que tomar conta dele.

:- Vou te fazer várias perguntas pessoais – ela disse, inclinando-se para a frente. – Tenho uma lista.

:- Não tenho medo da sua lista.

:- É extremamente longa – afirmou – e extremamente pessoal.

:- Reservo-me o direito de não responder.

Normani se ajeitou no banco outra vez e olhou para ela.

:- Queria que você fosse logo – sussurrou -, assim poderíamos conversar finalmente.
 

[ ... ]
 


Dinah esperou nos degraus da entrada da escola, depois da aula. Queria ter encontrado Normani antes que ela entrasse no ônibus, mas devia ter chegado depois dela.

Não sabia exatamente qual carro procurar; o pai ganhava a vida, ou quase isso, consertando carros importados, então estava sempre com um diferente.

Dinah já começava a suspeitar se ele não viria mais – poderia ter ido ao colégio errado ou mudado de ideia – quando ele buzinou.

E chegou num antigo Karmann Ghia conversível. Parecia o carro no qual James Dean sofrera o acidente que o matara. O braço do pai vinha pendurado sobre a porta, cigarro na mão.

Dinah&Normani - NorminahWhere stories live. Discover now