Aquela mestiça idiota

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Dinah ponderou sobre suas opções:

1. Podia voltar da escola a pé. Prós: exercício, blush natural, tempo para si mesma. Contras: ainda não sabia seu novo endereço, nem mesmo em que direção começar a andar.

2. Podia ligar para a mãe e pedir carona. Prós: vários. Contras: sua mãe não tinha telefone. Nem carro.

3. Podia ligar para o pai. .

4. Podia ligar para a avó. Só para dar um oi.

Sentada nos degraus de concreto da entrada da escola, observava a fileira de ônibus amarelos. O seu estava logo ali. Número 666.

Ainda que Dinah conseguisse evitar o ônibus naquele dia, ainda que sua fada madrinha aparecesse com uma carruagem de abóbora, ainda assim teria que arranjar um jeito de voltar para a escola na manhã seguinte.

E não ia acontecer de aqueles garotos demoníacos acordarem com seu lado angelical aflorado no dia seguinte. Na boa. Não seria surpresa alguma se eles escancarassem a boca feito uma sucuri da próxima vez em que a vissem. Aquela menina do fundão de cabelo loiro e jaqueta desbotada? Dava quase para ver os chifres por baixo da franja. E o namorado dela devia ser um membro dos Nefilins.

A menina e todos os outros odiaram Dinah antes mesmo de botar os olhos nela. Como se tivessem sido contratados para matá-la numa vida passada.

Dinah não sabia ao certo se a mestiça que a deixara se sentar finalmente era outra inimiga, ou se resolvera dar uma de idiota mesmo. (Mas não idiota-idiota... Ela cursava, assim como ela, duas matérias mais difíceis que ela fazia.)

A mãe de Dinah insistira que a nova escola a colocasse em matérias avançadas. Havia ficado louca quando vira as notas da filha na nona série.

:- Isso não pode ser uma surpresa para você, Sra. Amasio - disse o orientador. Ah, pensou Dinah, você ficaria surpreso com o que pode ser surpreendente a essa altura.

Não importa. Dinah permaneceu olhando para as nuvens com a facilidade de sempre nas matérias avançadas. Havia o mesmo número de janelas nessas salas de aula.

Isso se algum dia ela voltasse a essa escola.

Se algum dia ela conseguisse chegar em casa.

Não dava para contar à mãe a situação do ônibus, de qualquer modo, porque a mãe já havia dito que ela não precisava ir de ônibus. Na noite anterior, enquanto Dinah desfazia as malas...

:- Siope disse que vai levar você - falou a mãe -; fica no caminho dele pro trabalho.

:- Ele vai me colocar na caçamba do caminhão?

:- Ele está tentando fazer as pazes, Dinah. Você prometeu que também ia tentar.

:- Acho mais fácil fazer as pazes bem de longe.

:- Eu disse a ele que você está pronta para fazer parte desta família.

:- Eu já sou parte dela. Sou tipo uma fundadora.

:- Dinah - afirmou a mãe. - Por favor.

:- Eu vou de ônibus - Dinah disse. - Não tem problema. Vou fazer amizades.

Ah, pensou Dinah, sentada na escadaria. Um ah imenso e dramático.

Seu ônibus estava para sair. Alguns já estavam partindo. Alguém passou correndo pelos degraus ao lado de Dinah e chutou sua mochila, por acidente. Ela tirou a mochila do caminho e começou a pedir desculpas, mas era aquela menina mestiça idiota, e ela fez uma careta quando viu que era ela. Dinah devolveu-lhe a careta, e ela saiu correndo.

Ah, que ótimo, pensou Dinah. Os filhos do mal não vão passar fome no meu turno.

Dinah&Normani - NorminahWhere stories live. Discover now