Jung Kook

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As cerejeiras defloravam ao sabor do vento em um movimento tão gracioso quanto as notas cadentes que Jung Kook emitia com seu daegeum¹. Era notas suaves e harmoniosas, encerrando uma beleza tão melancólica quanto aquela das flores a cair lentamente pela colina baixa que marcava o centro dos jardins reais no Palácio Grandemente Abençoado pelo Céu do rei Sejong. Uma torrente descia das montanhas mais acima, fora dos limites da cidade, gerando a laguna que se estendia por vários metros naquele canto considerado pelo príncipe como um de seus refúgios preferidos. Jung Kook ficava ali sempre que desejava fugir das dependências do palácio com suas galerias, templos e aposentos amplos, mas que por vezes tornavam-se claustrofóbicos ao jovem príncipe de espírito livre e idealista. No jardim, poucos ousavam incomodá-lo e o canto das grandes aves do paraíso mostravam-se uma adição perfeita à sua melodia suave. E uma daquelas raras pessoas era Kim Nam Joon, o tutor e melhor amigo do príncipe.

– O Rei deseja vê-lo. – Falou com seriedade ao postar-se de frente ao príncipe, que se sentava abaixo de uma cerejeira, com a flauta ainda em mãos. E só após requisitar a presença de seu aluno, Nam Joon curvou-se, em sinal de reverência ao herdeiro do trono coreano.

– Ele especificou o porquê? – Jung Kook perguntou, pousando a flauta em seu banco de pedra-pomes. Atrás de Nam Joon repara a presença de um de seus guardas e, também, amigo próximo; Jung Ho Seok. Aquilo o fez franzir o cenho e contrair o lábio, imaginando tratar-se de um assunto sério. E já até podia concluir do que se tratava. Afinal, aquele era o motivo que o levara ao refúgio dos jardins, após noites mal dormidas. Como podia ser tão tolo? Pensava consigo mesmo, conforme Nam Joon mantinha um silêncio constrangedor e Jung Kook permitia fitar uma última vez o tranquilo lago de carpas, antes de soerguer-se altivo e impassível como um leopardo das neves. – Meu pai estará lá? – Indagou novamente, conforme atravessavam a ponte de pedras e percorriam um dos muitos pátios daquele complexo residencial suntuoso.

– Sim. – A resposta daquela vez veio de Ho Seok, que andava quase sempre trajado em armadura e com uma jim kum² atada a seus quadris. – Acredito que seja para tratar da sua viagem, alteza.

Por mais que se conhecessem desde que eram crianças e tivessem passado por muita coisa juntos, em momentos solenes Ho Seok nunca esquecia a deferência necessária para exaltar a diferença entre cada um naquele trio. E assim caminharam pelos corredores e salões cavernosos, onde eram cumprimentados por cortesãos e inúmeros funcionários, mas Jung Kook sequer devolvia-lhes o olhar. Aquilo não do seu feitio. Geralmente cumprimentava a todos com um belo sorriso, mesmo em seus dias mais sombrios e todos reconheciam no neto do Rei e em seus dois grandes amigos uma fonte de orgulho e deleite para toda a Coreia. Naquele dia, porém, era como se uma nuvem deveras negra pairasse sobre a face do jovem príncipe, que sentia seu peito apertar-se, quase dolorido, como quando tomava um golpe certeiro em suas aulas de esgrima com Ho Seok.

E assim adentraram, os três, à presença do velho rei Sejong, no grande salão do trono. Amplo em todos os quatro cantos se estendia o recinto em cujo chão de pedras o príncipe e seus companheiros caminharam, atravessando até chegar à base do suntuoso trono da Fênix, em cujo interior encontrava-se o Grande Rei. Sejong governava há mais de trinta anos e ao longo de todo aquele tempo a Coreia vira um aumento considerável de sua autoridade e estabilidade internas. Sob a chancela do sábio Rei as fronteiras foram expandidas, os piratas japoneses do Sul foram combatidos e as ilhas Daema conquistadas.

Jung Kook admirava profundamente a mentalidade de estrategista brilhante que seu avô tinha, além de seu coração verdadeiramente nobre, que buscara promover a literatura, as artes e a ciência do reino, além de toda sua preocupação com o povo coreano. Por todos aqueles motivos, e muitos mais, ao curvar-se em reverência, fazia-o com o coração repleto de ternura e respeito pelo homem a quem o príncipe devia respeito duas vezes, como avô e soberano. Àquela reverência uniram-se também Nam Joon e Ho Seok, que se ergueram do chão apenas quando Jung Kook também o fez. Contudo ao fazê-lo o príncipe suspirou profundamente.

O Tigre e o Hibisco [JIKOOK]Onde histórias criam vida. Descubra agora