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» It hurts when you go through something that kills you inside but you have to act like it doesn't affect you at all. «

20 de dezembro de 2019

- Vá, malta, contem novidades! Ou a vossa vida é tão monótona como a minha? – Diogo diz, proporcionando uma gargalhada a todos.

- Oh, deixa-me cá ver novidades sobre a minha vida... Hum, trabalho, trabalho, tese de Mestrado, trabalho... - eu brinco.

- Sim, tu não fazes mais nada da vida, é verdade. – a Rita concorda – Acreditam que esta falsa até me abandonou nas nossas idas ao ginásio?

- Foi só durante o mês de dezembro. Em janeiro volto que é para queimarmos todas as calorias que vamos consumir nos próximos dias. – afirmo, recebendo acenos de concordância dos meus amigos.

- E tu, puto, como foram essas férias em Lisboa? – Hugo questiona o André.

- Não foram férias, eu fui em trabalho. – André responde, embora com um sorriso matreiro no rosto, sorriso esse que lhe é tão característico – Também houve momentos de descontração, mas tive muitas reuniões chatas.

- Uns belos momentos de descontração com uma certa loura lisboeta, hã? – Rúben intervém, fazendo Diogo e Hugo gargalharem com ele, como se concordassem com a sua afirmação.

Eu e Rita trocamos olhares cúmplices, claramente perdidas na conversa e sem perceber esta boca do Rúben. Eu tento manter a postura, fingindo que não ouvi ou que não percebi as segundas intenções por trás da frase do Rúben.

- Tens alguma coisa para contar os teus amigos? – Rita intervém, obviamente tentando tirar nabos da púcara por mim. Ela conhece-me melhor do que ninguém e sabe que eu preciso de perceber exatamente o que raio se está a passar aqui, mesmo debaixo do meu nariz, sem eu saber.

- Tu sabes como eles são, Rita... É só uma colega de trabalho e amiga. – ele desculpa-se, obviamente mentindo. Ele esquece-se de que todos o conhecemos muito bem, especialmente eu.

- Amiga colorida. – Hugo completa e eu forço-me a manter-me calma e a não revirar os olhos.

- Sê sincero, André. Quantas vezes é que tu e ela já foram para cama? No mínimo, umas duas vezes de cada vez que vais a Lisboa, não? – Diogo diz, num tom gozão e sempre entre gargalhadas.

A conversa começa a deixar-me realmente desagradada e desconfortável, mas eu dou o meu melhor para manter a postura calma, neutra e inexpressiva. Ninguém pode perceber o que realmente vai dentro de mim. Bem, exceto a Rita. Ela sabe ler-me como ninguém e sabe, com certeza, tudo o que vai na minha cabeça e no meu coração.

- Está na altura de começares a ganhar juízo, não achas, André? – Rita pergunta, num tom sério quase de reprimenda, e eu vejo-me obrigada a dar-lhe um pontapé por baixo da mesa – Quero dizer, já não somos nenhuns adolescentes para andarmos com essas coisas.

- Ai, Rita, pareces a minha mãe. – o André diz – Eu sei tomar conta de mim, não te preocupes.

- Eu sei... - ela diz, dando-lhe um sorriso um pouco amarelo – Só quero que tenhas juízo.

- Eu tenho, não te preocupes. – ele repete.

Após esta pequena bomba, pelo menos para mim, há silêncio durante alguns segundos, mas não por muito tempo, porque logo os rapazes introduzem um novo tema de conversa, do qual eu estou completamente alheia. Não consigo deixar de pensar em como o André não desmentiu o facto de andar enrolado com uma mulher qualquer em Lisboa, o facto de ir várias vezes para a cama com ela quando está em Lisboa, mesmo sabendo que eu estou aqui mesmo ao seu lado. Não o afeta? Não fica nem com um pouco de peso na consciência?

O meu apetite e a minha boa disposição evaporaram-se por completo, contudo eu faço o meu melhor para disfarçar o meu estado de espírito. Não quero que nenhum dos rapazes perceba, muito menos, o André. Tento comer tudo o que tenho no meu prato e ir intervindo, ocasionalmente, nas conversas, para não parecer tão desligada como realmente estou.

- Carol, vens comigo à cozinha buscar as sobremesas e pôr estes pratos? – Rita chama a minha atenção e só então me dou conta que já todos terminámos de comer.

- Claro que sim. – respondo, sorrindo.

- Nós também podemos ajudar. – André voluntaria-se e eu rezo na minha cabeça para que Rita decline a sua oferta.

- Não é preciso, vocês estão a conversar. Deixem-se estar, é rápido. – Rita responde e ele assente, voltando à conversa com os seus amigos.

Eu agradeço mentalmente a Rita, embora saiba que o que ela quer realmente é ter uma oportunidade para falar comigo, a sós. Eu pego nalguns pratos e sigo-a até à cozinha, na divisão da casa ao lado.

- Como é que estás? – ela questiona-me, enquanto colocamos os pratos na máquina de lavar, para fazer algum barulho e impedi-los de ouvirem a nossa conversa.

- Nem sei, Rita. – suspiro – Fui completamente apanhada de surpresa. Quero dizer, eu e o André não temos nada, formalmente, pelo menos, mas... Daí a eu desconfiar que ele andasse enrolado com outra mulher, quando vai a Lisboa... Não estava à espera. Achava que, apesar de tudo, isto fosse mais sério para ele.

- Como é para ti. – Rita conclui e eu assinto – Tu tens de falar com ele, Carol. Tens de lhe dizer que isto ultrapassou os limites, de que não consegues ser apenas a sex buddy dele, que estás apaixonada por ele... Tens de lhe dizer que esta atitude te magoou, que ele está a ser um idiota e que precisa de perceber o que quer. Não podes é continuar a sofrer em silêncio e a ser usada por ele.

- Eu vou perdê-lo se lhe disser que estou apaixonada por ele, Rita. – afirmo – Nunca foi isto o que nós queríamos ou combinámos. Era suposto ser só sexo, sem compromisso, despreocupado, entre dois amigos que se sentem atraídos fisicamente um pelo outro. Não era suposto eu ter ganho sentimentos por ele. – suspiro – Ele vai ficar super chateado comigo e vai afastar-se. Eu sei disso.

- Então preferes continuar a sofrer em silêncio? – Rita atira – Porra, já não somos miúdos para andarmos com estas brincadeiras. Somos adultos e temos de agir como tal. Primeiro que tudo, vocês precisam de se sentar e ter uma conversa séria. Depois, logo se vê o que acontece. Se ele realmente se afastar de ti, é porque é um grande filho da mãe.

- Estou mesmo perdida, Rita. Não sei o que fazer. – admito, respirando fundo – Seja como for, essa conversa não vai acontecer hoje. Não vou estragar o nosso jantar. Por isso, vou meter o meu melhor sorriso e vamos voltar para a sala com as sobremesas, que já estamos a demorar muito.

- Carol... Tens a certeza de que queres fazer isso? – ela pergunta e eu assinto.

- Eu fico bem. – garanto, pegando numa das sobremesas e regressando à sala, com o meu melhor e mais falso sorriso nos lábios.

***

A bomba rebentou e estes são apenas os primeiros estilhaços...!

Quero agradecer imenso a todas as pessoas que deixaram os seus comentários no último capítulo, porque significa muito para mim ter o vosso feedback. Muito obrigada! Espero que continuem desse lado, a conhecer a Carol e o André (e todo o restante grupo), e que eu continua a escrever conteúdo que vos agrada.

Espero que estejam todos bem e que continuem em casa. Be safe!

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