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» The most confused we ever get is when we try to convince our heads of somethings our hearts know is a lie. «

25 de setembro de 2021

Passou uma semana desde o casamento do Hugo e da Rita e eles têm passado os dias a enviar-me fotos dos sítios lindos que têm visitado, o que me deixa cheia de inveja boa. Após ter tido as últimas duas semanas de férias, hoje vou aproveitar para dar uma limpeza geral à casa para poder descansar o dia todo de amanhã e recarregar baterias para voltar ao trabalho.

Ligo a aparelhagem da sala, colocando numa estação de rádio que está a passar uma música que gosto, aumentando suficientemente o volume para que se ouça em todas as divisões da casa. Limpar sem banda sonora nunca dá a mesma pica, por isso a música é sempre o primeiro passo para iniciar as minhas limpezas.

Começo pela divisão da casa que mais odeio limpar – a casa de banho -, passando depois para a cozinha, outra divisão que não adoro limpar. Quando estou a tratar da limpeza e da (re)organização do meu quarto, alguém toca a campainha repetidamente, por isso eu abandono a minha tarefa, passo pela sala para diminuir o volume da música e depois vou até à porta.

Surpreendentemente, do outro lado da porta não está ninguém. Quase que acho que alucinei e que ouvi coisas, contudo quando desvio o meu olhar para o tapete da entrada, deparo-me com uma carta pousada. Será que foi o carteiro? Mas hoje é sábado! Pego no envelope e reparo que não tem selo, nem remetente, nem nada escrito. Cedo à tentação de a abrir imediatamente e volto a entrar em casa, fechando a porta e sentando-me no sofá de carta na mão.

Retiro a folha de papel do interior do envelope, deparando-me com uma caligrafia aldrabada que não me é, de todo, estranha, mas que só reconheço verdadeiramente quando desvio o olhar para o fundo da folha, assinada pelo André. Suspiro. Não sei se estou psicologicamente preparada para ler isto, porque, para ele me ter deixado uma carta, é sinal de que o conteúdo é sério e delicado – caso contrário, ele teria falado comigo cara a cara sem qualquer problema, porque o André não é propriamente um homem da escrita.

Respiro fundo algumas vezes, como que a ganhar coragem, antes de decidir começar a ler a carta deixada pelo moreno.

«Olá, Carolina.

Provavelmente não esperavas esta carta – sinceramente, nem eu. Nunca fui bom com palavras, muito menos quando se trata de escrever, mas estou a tentar provar-te que sou uma pessoa diferente, por isso... Por que não começar por fazer algo que nunca fiz antes, para ninguém? Além disso, aquilo que hoje tenho para te dizer é algo que não sei se teria coragem de te dizer pessoalmente, tendo em conta o atual estado da nossa relação e o facto de eu saber que não confias em mim.

Eu espero que te lembres do que te disse no casamento e espero que saibas que é verdade. Estou disposto a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para recuperar a tua confiança, para te provar que cresci, que mudei. Vou lutar por ti e por nós. Para emendar os erros do passado e, quem sabe, recuperar o tempo que perdemos. Tudo aquilo que eu disse foi sentido e verdadeiro: não vou, mesmo, desistir de ti, por mais que me tentes afastar. Nunca farei nada contra a tua vontade, nem tenciono desrespeitar-te, mas tu disseste-me que só acreditavas na minha mudança e nas minhas palavras quando visses... Por isso eu vou mostrar-te.

Conhecemo-nos há imenso tempo e apercebi-me que há coisas que nunca te disse – o que é uma grande falha, porque um dos maiores e mais verdadeiros clichés da humanidade é que devemos dizer o que sentimos às pessoas enquanto podemos. E é isso que hoje venho aqui fazer. Venho dizer-te o quanto gosto de ti, o quão especial és para mim e por que é que gosto tanto de ti.

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