Vinte e Sete

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Estar em um relacionamento na vida adulta pela primeira vez era algo complicado, pois ter uma base de comparação era algo muito vago. Como por exemplo quando Vitor e eu decidimos que iríamos comprar um apartamento juntos, que no final das contas, acabamos não comprando, já que onde eu morava era grande o suficiente para nós dois e para minha tia, ou quando ele dizia que precisaria passar algumas semanas fora da cidade por conta do trabalho. São coisas que eu nunca tive de lidar quando era mais jovem.

As brigas também eram diferentes e tinham outros focos. Quando você mora junto com outra pessoa, você aprende todas as manias dela e começa a lidar com aquilo, mas existem momentos em que se perde a paciência. Vitor tinha muitas manias, tantas que não conseguiria contar nos dedos nem se tentasse. Por conta disso, inicialmente, a nossa convivência foi bem complicada. A relação dele com minha tia era extremamente saudável e era o que me fazia ver que tudo aquilo, toda a experiência de viver com ele, valia a pena.

Depois de dois meses vivendo juntos, Vitor decidiu que queria me apresentar sua família. Nosso encontro não aconteceu antes por conta dos pais de meu namorado viverem na Espanha, lugar de origem deles, assim como de Vitor e suas irmãs. Eles estavam vindo para São Francisco para o casamento da filha mais nova e finalmente iríamos nos conhecer.

Conhecer a família do namorado em um relacionamento adulto também era diferente, pois a pressão é ainda maior. Estava terminando de colocar a mesa do almoço, quando a campainha do apartamento tocou, fazendo com que Vitor e eu nos entreolhássemos. Engoli em seco e apontei com a cabeça para a porta, indicando que ele atendesse.

Eu atendo! — o homem disse, já no caminho até a porta. Ajeitei meu vestido e olhei para o lado, vendo minha tia sentada no sofá. Ela me lançou um sorriso, em uma tentativa de me acalmar, mas foi em vão. Eu estava muito nervosa e sentia meu coração bater como uma britadeira em meu peito. — Mamá, Papá, quero que conheçam minha namorada, Camila! — Vitor disse ao entrar na sala de braços dados com sua mãe. Logo atrás estava seu pai, um homem bastante parecido com ele, porém com cabelos grisalhos. A mulher exalava elegância e o cabelo era escuro igual ao meu, com alguns grisalhos que insistiam em aparecer.

Olá, muito prazer! Fizeram boa viagem? — perguntei enquanto sorria. A mulher retribui o sorriso e logo se aproximou de mim, me oferecendo um abraço.

Fizemos sim, querida! Mas, para ser honesta, estamos com um pouco de fome, aliás o cheiro está divino! — ela disse ao soltar-me. Sua simpatia era contagiante e a presença que ela tinha iluminava a sala toda.

A comida está quase pronta, mamá. Elena cozinhou para nós uma lasanha maravilhosa. — Vitor disse olhando na direção de minha tia. Sorri e fui até ela, a ajudando a levantar do sofá.

Mercedez, essa é minha tia, Elena. — disse. A mulher sorriu ao ver minha tia e logo lhe ofereceu um abraço assim como fez comigo. Minha tia murmurou algumas palavras em espanhol e Mercedez respondeu em meio a risadas. Lancei um olhar para Vitor, que sorria com a interação entre as duas e virei-me para o pai de meu namorado, que observava tudo. — O senhor aceita uma taça de vinho, Senhor Perez? Ou whiskey?

— Um vinho seria perfeito! — ele disse com um sotaque bastante puxado. — O que vocês tem aqui? — perguntou para Vitor, que o acompanhou até a cozinha. Respirei aliviada ao perceber que aquilo tudo estava dando certo.

Estava apreensiva em encontrar a família de Vitor, devido ao histórico que eu tinha com Manuel e todo o ódio que ele sentia por mim. Parte do meu término com Shawn foi obra dele e isso mexeu muito comigo, com a minha forma de me portar na frente de outras pessoas. Mas, felizmente, minha relação com os Perez seria completamente diferente de como foi com os Mendes.

SeñoritaOnde histórias criam vida. Descubra agora