Trinta e Cinco

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Ao chegar no hospital, não tive tempo de me alimentar e logo fui para minha primeira consulta, que logo virou a segunda consulta e eu só consegui parar na décima consulta, quando já estava na hora do almoço. Meu estômago gritava por comida, mas ao mesmo tempo embrulhava cada vez que eu pensava em almoçar. Minha ressaca ainda não tinha ido embora e aquilo estava começando a me deixar irritada. Eu sentia meu corpo inteiro mole e minha cabeça parecia que ia explodir. Decidi cancelar minhas consultas do período da tarde e ir para casa, pois lá poderia cuidar propriamente daquele porre horrível.

Mandei uma mensagem para Angel, pois tinha combinado que almoçaria com ela hoje. Ela logo me respondeu dizendo que iria atrasar um pouco por estar fazendo um parto de emergência. Já sabia que ouviria muitas reclamações dela durante o almoço, pois minha amiga odeia fazer cesarianas. Aproveitei então para ir até o berçário e esperar por ela lá, onde combinamos de nos encontrar.

A sala do berçário estava cheia e provavelmente chegariam muitos bebês por ali ainda hoje. Sorri ao ver um casal segurando seu bebê e apoiei-me no vidro, sentindo minha cabeça girar. Meu estômago logo deu sinal, se embrulhando completamente, e eu sentia minhas pernas bambas. Virei-me levemente, chamando uma das enfermeiras e antes que pudesse dizer algo, minhas pernas não respondiam aos meus comandos e de repente tudo escureceu.

Acordei em uma das salas de exame do hospital. Olhei para meu braço e uma agulha ligada a uma bolsa de soro estava enfiada em minha veia. Minha cabeça ainda doía por conta da tontura que senti mais cedo, antes de desmaiar. Suspirei lembrando-me do que aconteceu e tentei alcançar meu celular em cima da mesinha ao lado da cama onde eu estava.

Ei, cuidado com a agulha! — a voz de Angel me repreendeu assim que ela entrou na sala. Voltei a deitar-me corretamente na cama assim que a olhei. Ela tinha em sua mão um tablet e logo o deixou na mesinha, fechando a porta da sala em seguida. — Ok. Primeiramente, você tem algo para me dizer? — perguntou enquanto fechava as persianas da janela.

Me desculpa... Eu devia ter mencionado que não me alimentava desde ontem e que eu passei a noite toda vomitando porque eu estou com uma ressaca gigantesca. — disse encostando minha cabeça no travesseiro. Angel me observava com as duas mãos pousadas em cada lado de sua cintura.

Você não está de ressaca, você está grávida. — ela disse com o semblante sério. — Por isso seu vestido estava apertado, por isso você passou mal. Camila, você é médica, como não percebeu isso? — eu a olhava sem nenhum tipo de reação tentando entender o que ela tinha acabado de dizer. Grávida? Essa possibilidade não passou por minha cabeça em nenhum momento. Soltei uma risada, negando com a cabeça enquanto desviava meu olhar da direção de minha amiga.

É impossível eu estar grávida, eu bebi muito ontem. Por isso que passei mal. — disse enquanto balançava minha cabeça negativamente. Angel permanecia no mesmo lugar com o rosto sério.

Você deve ter tomado três taças de vinho ontem, eu até estranhei você ter bebido pouco porque você nunca bebe pouco. — ela se aproximou puxando a máquina de ultrassom que ficava no canto da sala. Só então reparei que estava na sala de exame da ala obstétrica e por isso eles mandaram Angel para me examinar. — Você sabe o protocolo do hospital quando uma mulher chega no pronto socorro por causa de síncope, não sabe?

— Eles fazem teste de gravidez... Mas Angel, eu não estou grávida. Minha menstruação não está atrasada. — disse, esboçando um sorriso em seguida. A mulher suspirou negando com a cabeça e sentou-se em um banquinho ao lado da cama, puxando a máquina de ultrassom para mais perto da cama.

Isso é comum em algumas mulheres, às vezes a menstruação não para no primeiro mês de gravidez. Levanta a sua blusa, eu vou te mostrar. — levantei minha blusa e ela logo passou o gel sobre a minha barriga, encostando o aparelho de ultrassom na mesma em seguida. Assim que ela começou a movimentar o objeto por meu ventre, uma imagem apareceu no monitor. No início não pude enxergar nada, mas segundos depois lembrei-me das aulas na faculdade onde interpretávamos ultrassonografias e pude visualizar melhor a imagem. — Esse é seu útero e esse é o seu bebê. — Angel disse, apontando na tela. Senti meu coração bater mais forte no momento em que ela apontou para o pequeno borrão onde estava o bebê. Minha mão tremia e minha boca estava semiaberta, estava em choque. Não sabia como reagir àquilo.

SeñoritaOnde histórias criam vida. Descubra agora