( 10 ) - final

161 15 5
                                    

Você me ama, James?

Porque eu não sei se te amo mais. Ou pelo menos eu quero que isso acabe.
Respondendo sua pergunta, não. Você não me ama e nunca me amou.
Foi sexo. Foi algo carnal. Foi status. Foi atração.

Eu não consigo resumir nosso relacionamento numa carta, mas acho que já escrevi o que importava e o que mais marcou; as brigas, a violência, o sexo.
Não havia nada romântico. Nunca houve filmes na Netflix num sábado.
Sempre foi corrido. Rápido, destruindo tudo numa velocidade incrível.

Você sabe um erro que a maioria comete e não sabe?
O oxigênio alimenta o fogo.
Então novamente, se essa carta não for lida apenas por você e entrou em algum Guiness, ou se seus netos estão lendo isso - me desculpem por toda a intensidade e o conteúdo pesado. Isso é para maiores de 18 anos.- se vossa casa estiver pegando fogo, não abre a janela.
O oxigênio alimenta o fogo e ele aumenta e tudo piora.
Não consigo me decidir qual de nós é qual -mas acho que fogo é mais destruidor que oxigênio então você é fogo- mas nós somos isso mesmo.
Tantas comparações, tudo para te fazer entender a merda que você fez.

Eu não sei se você sabe como é a prisão. Se algum dos seus colegas te contaram.
É verdade tudo o que falam.
Aqui é o inferno na terra. Você pode tentar ficar na sua ou não, mas nada fará você não ser espancada ou partida ao meio.
Elas são terríveis, a comida é horrível, o lugar é imundo sem privacidade nenhum e tudo do pior que você pode imaginar.
Elas cospem sua comida, fazem você comer no chão e o pior é que algumas se prostituem aqui obrigando as novatas até a fazer isso.
Aqui nós somos estupradas, torturadas e muitas são mortas.
Até agora eu apenas fui espancada porque sentei num lugar que não era meu no refeitório. Meu nariz doeu como o inferno e eu apaguei na hora.
Eu prefiro a solitária a isso.

Aqui ninguém acredita em você.
Aqui não há anjos da guarda e nem verdade e mentira.
Aqui você tenta sobreviver com a lei do mais forte como se fosse uma selva.

Eu estou numa cela com mais quatro mulheres. Uma matou o marido porque ele batia nela, outra por roubo, outra por prostituição e tráfico de pessoas e a ultima por sequestro.

Tráfico de drogas é o crime da ultima. No caso, eu.
Nove anos e dez meses. Com sorte eu saio por bom comportamento.
Mas como eu disse, ninguém acredita em você e muito menos que é inocente.

Eu deveria ter desconfiado dos telefonemas, aparecimentos noturnos, desaparecimentos por dias e muitas festas.
O cara que vocês espancaram.
Os encontros escondidos.
Tudo gritava: PERIGO. NÃO SE APROXIME.

Eu nunca vou esquecer o dia que você realmente me fodeu.

Eu deveria ter ficado em casa.
Eu tinha que estudar para os testes, não estava no clima e com raiva de um dos seus sumiços.
Mas me deixei ser arrastada para mais uma das suas festas.
Hoje eu sei o porque delas. Tráfico. Havia muita gente, muito barulho, todos descuidados. Um ambiente perfeito.

Você andou comigo para cima e para baixo desfilando seu troféu.
Não trocamos muitas palavras. Você me deixava para "falar" com pessoas em particular e eu sei que estava vendendo.
Mas teve um em particular que eu fiquei estática.
O cara quiz que eu ficasse com você, mas não falaram quase nada que eu conseguisse ligar a drogas. Ele dava claramente em cima de mim, e você não se importava.
Ele era mais velho que você, era notável.
O único desconforto do ambiente era o meu.

Eu me lembro de suas mãos frias sobre minha pele e o monólogo que apenas você participava uma ou duas vezes. Seu racismo era explícito em minha direção. Eu estava sendo admirada como uma peça de museu, e ele me queria, porque eu via isso em seus olhos.

Era isso que havia acontecido com Paige, não era?
Você a vendeu? Você a prostituiu?
Você deixou que eles fizesse o que quisessem com ela não é?
Como pôde, James?
Como se atreve a acabar com a vida das pessoas assim?!

Agora seu olhar fazia todo o sentido. Fria, seca, sem brilho, sem felicidade.
Você acabou com ela, James e estava fazendo isso comigo também.
Eu não sei porque não te denuncio. Talvez é a ideia que não vai valer em nada.
Mas talvez eu foda a sua vida pelo menos uma vez.
Talvez eu consiga te atingir pelo menos dessa vez. Porque eu já não tenho nada a perder.

Eu saí da sala e você veio atrás de mim. Mas algo estava diferente, James.
Austin Moore apareceu te dizendo algo rápido e eu aproveitei para entrar no banheiro e jogar uma água no rosto a fim de relaxar. Porque pensava que tudo iria acabar bem e que no final, nós transaríamos na escada do meu prédio acordando os vizinhos para verem o nosso show.

Eu saí e a casa estava bagunçada. Alguns estavam tentando sair mas escutei a polícia la fora.

- a casa está cercada, não tentem fugir ou nós vamos atacar.

Seu olhar não teve resposta. Austin não estava mais la, apenas eu, você e alguns jovens preocupados.

Quem não deve não teme, dizem.
E você não se assustou com a polícia revistando todos e chegando para revistar você.
E sabe porque, não sabe?
Claro que sabe.
Você não tinha nada para temer porque alguém levaria a culpa.
Eu.

A droga estava na minha bolsa e eu sei que foi você.
Eu vi nos seus olhos quando eu estava sendo arrastada para fora com a droga de uma algema em meus pulsos.
Eu jurei foder a sua vida depois que eu sair daqui. Mas agora eu só quero paz.

E assim eu encerro essa carta.
Deixando minhas últimas lágrimas caírem. Deixando a dor embaixo do tapete. Deixando de sofrer.

Até nunca mais, James O'Connell.

- Harleen McFadden

With love, addictedOnde histórias criam vida. Descubra agora