Capítulo 2

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Eu estava confortavelmente sentada na cama, revisando as minhas anotações e planos quando Mia bateu na porta e entrou discretamente no meu novo quarto alugado na casa dela.

Mia é muito gentil e adorável, ela não pareceu se incomodar nem um pouco em dividir a pequena casa dela comigo, e também não parecia se importar se eu não faria o depósito do dinheiro a tempo do fim do mês, ela realmente mostrava total indiferença quanto a isso... A única preocupação de Mia era se eu estava confortável e bem, e com toda certeza o resultado não poderia ser diferente, já que ela trazia uma bandeja com duas xícaras de chá e alguns biscoitos doces e incrivelmente lindos...

Ela se aproximou da cama com um sorriso doce enquanto eu liberava espaço para ela poder se sentar na cama ao meu lado, parecia que enfim conversaríamos e poderíamos nos conhecer melhor, antes que eu dormisse na casa de um estranho... ou mais ou menos isso.

-Bom- Mia se sentou ao meu lado na cama e me entregou uma xícara de chá- Eu sei que hoje de manhã foi bem complicado, mas realmente acredito que as coisas vão melhorar a partir de agora.

-Eu realmente espero que sim, já tive que mudar meus planos da semana inteira! Somente espero que não aconteça mais nenhum imprevisto esta semana.

-Ahh sim seria horrível- Mia concordou parecendo compreender a situação.

-Mas Amélia, eu gostaria de fazer algumas perguntas para você se isso não for um problema. Sabe, minha mãe pode parecer rude e durona, mas ela tem pavor da ideia de ter um assassino na cada dela então...- Ela sorriu, como se estivesse achando graça da situação.

-Perdão, você disse:  a sua mãe?- disse repensando na frase dela- Acho que me precipitei achando que morava aqui sozinha.

Mia sorriu de novo parecendo achar muita graça da situação agora, ela se ajeitou na cama e começou a falar gentilmente:

-Bom, é verdade que eu adoraria morar sozinha, mas se fosse para isso acontecer eu preferia morar em um lugar quente, tipo o Arizona... Ou a Califórnia, e eu adoraria ter uma casa maior, tipo a dos Kingston, eles são os reis dessa cidade.

-Eu acredito, qualquer pessoa que tenha o nome da cidade parece ser bem um rei, principalmente nesse país.- Eu disse satirizando um pouco. Não queria ofender Mia, mas realmente: QUEM TEM UM NOME DA CIDADE SE NÃO É O DONO DELA???

-Eu sei, isso é um pouco absurdo, mas eles são uma família bem reservada e conservadora.. Nada demais sabe?- Ela disse dando de ombros.

-Bom, mas me fale mais sobre a sua mãe!- Eu disse tentando parecer menos assutada do que eu realmente estava, afinal o grande motivo de preferir um hotel à uma casa de intercambio foi a grande liberdade de poder fazer o que quiser, sem ter uma figura materna me vigiando 24 horas do dia- Eu adoraria conhece-la. 

Mia soltou um riso constrangido , e então disse como se estivesse fazendo uma confissão:

-Você já conheceu minha mãe. Ela é a Martha, do Hotel...- Mia me olhava esperando a minha reação- Eu sei que ela parece meio rígida, mas na verdade ela é uma ótima pessoa, e parece que ela gostou de você afinal. 

Eu ainda estava digerindo, mas havia algumas coisas que não se encaixavam no meu ponto de vista: Martha, era uma mulher de personalidade forte, seus traços eram incrivelmente rígidos e os olhos e os cabelos eram incrivelmente escuros, como olhar dentro do fundo de um poço... E Mia era completamente diferente: ela tinha cabelos incrivelmente loiros e ondulados, traços quase angelicais e olhos castanhos... Talvez Mia fosse mais parecida com o pai dela. Mas eu realmente ainda tentando pensar em um novo jeito de chamar Martha, já que o apelido anterior que eu havia inventado para ela na minha cabeça não parecia tão apropriado agora. 

E de todas as figuras maternas que eu tentei evitar, ela com toda certeza seria a mais difícil de lidar. 

-Nossa, me desculpe, eu não tinha chegado nessa conclusão antes. Vocês são muito diferentes, tanto em personalidade quanto eu aparência... E a minha intuição para isso não serve muito. Você deve ser mais parecida com seu pai.

-Na verdade, se você o encontrar, eu ficaria muito feliz, ou nem tanto.- Mia parecia achar graça da minha confusão momentânea- A Martha me adotou quando eu ainda era bebê... Tem gente que acha que a beleza é tudo, mas parece que não é o suficiente para convencer a uma família a ficar unida. 

Eu processava cada palavra como se fosse uma faca, e a cada momento ela vinha mais forte e me deixando impotente... Como eu tinha sido idiota! Porque falei aquilo? Quer dizer, eu realmente não sei em que momento fui mais idiota: Quando falei do inexistente pai de Mia ou quando pensei que Martha era incrivelmente rude e sem sentimentos... Mas pelo jeito eu que era assim...

-Mia, me desculpe, eu não fazia que...- tentei achar alguma estupida palavra pra preencher a frase e torna-la menos horrível, mas eu não sabia o que fazer. 

-Tudo bem Amélia, isso geralmente acontece. E realmente não me sinto como o lixo da sociedade ou alguém indesejável. - Ela disse com um grande sorriso no rosto, como se a situação na verdade fosse uma motivação- Na verdade gosto de falar para as pessoas sobre isso, isso me faz pensar que: Mãe, nem sempre é quem cria você, e que nem todo laço de sangue sempre é forte o suficiente... Me faz pensar que existe mais no mundo do que dinheiro, beleza, status... Martha não tem nada disso, e mesmo assim, faz de tudo por mim. -Havia uma grande devoção e emoção nítidos na voz dela aquele momento- E do mesmo jeito, meus pais também não tinham nada, mas tomaram outra decisão. Martha se mostrou mais merecedora do que qualquer um que eu tenha conhecido.

fiquei em silencio processando aquilo tudo...Mia estava certa em pensar daquele jeito, afinal, de que outra forma se pode seguir em frente e perdoar?

-Martha é uma boa mulher... - Disse por fim. Agora realmente acreditando nisso.

-Sim ela é... Mas me promete uma coisa? Não deixe ela arrumar seu quarto. - Aquela frase repentina me tirou do foco da conversa anterior- Qualquer coisa vai virar indício de interrogação, então se quiser ter uma vida privada, deixe seus cadernos longe dela!

Aquilo havia deixado o clima bem mais confortável para mim, e então sorri, mais aliviada do que havia imaginado que poderia estar. 

-Então... Acho que está na hora de falar sobre você Amélia. Ou prefere falar com a detetive da casa?

Ela ria, esperando uma grande historia emocionante... Me ajeitei na cama me preparando e organizando a historia mentalmente, afinal, já estava na hora de alguém saber a minha historia. Mas a historia que começa bem antes da viagem ao Reino Unido.  A Historia de Amélia Menezes. 

Perfeitamente AlinhadaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora