CAPÍTULO 1 - DE VOLTA AO PASSADO

2.9K 178 33
                                    

O dia estava cinza e os vidros do carro embaçados. Mal conseguia ver a estrada e ainda era dia. Fazia um pouco de frio, chovia a semana toda e naquela manhã tinha dado uma trégua mas o clima permanecia gelado. Fazia algumas horas que estávamos na estrada e agora faltava pouco para chegar ao nosso destino, mas havia gente impaciente comigo. Bruno já tinha capotado no ombro da irmã que dizia estar com vontade de ir ao banheiro a todo momento. Helena, minha esposa, parecia estar com dor de cabeça e já não aguentava mais ficar sentada naquele banco. Tentei fazer uma brincadeira para fazê-la rir, mas ela me olhou de um jeito que preferi ficar na minha.

Após um longo tempo de viagem, pude avistar a minha antiga casa. Havíamos chegado na pequena cidade com clima interiorano onde eu nasci e cresci há algum tempo, no caminho pude ver os lugares pelos quais brinquei e corri. A velha praça central onde costumava ficar com os amigos depois da aula continuava linda. Não pude evitar sentir a nostalgia me consumindo a cada rua que passava. Bruno já estava acordado a partir dali e seus olhos brilhavam olhando todas aquelas casas coloridas e Sarah, sua irmã, se pendurava na janela admirada com o que via.

A velha casa vermelha logo surgiu. A chuva havia cessado e fomos recebidos por minha querida mãe, já com seus cabelos brancos e rosto enrugado. Um largo sorriso apareceu em seus lábios e seus braços se abriram me chamando para um abraço cheio de saudade e muito demorado. Havia mais ou menos cinco anos que eu não a via. A velha Iolanda olhava curiosa para aqueles rostos desconhecidos por ela e eu tratei de lhes apresentar após enxugar as lágrimas teimosas que rolaram dos meus olhos. Iolanda ficou feliz por finalmente conhecer seus netos e rever sua nora após tanto tempo.

Entramos e nos acomodamos nos sofás. Minha mãe pediu para que levassem nossas malas para os quartos e que preparassem algo para as crianças comerem já que estavam famintas. Sarah foi direto para o banheiro pois já não mais aguentava segurar a vontade. Helena andou pela casa afim de esticar as pernas, não conseguia mais ficar sentada. Ela é muito hiperativa, está sempre fazendo algo ou andando por aí. Inquieta. Iolanda me enchia de perguntas ao mesmo tempo que me contava tudo o que perdi durantes esses anos fora, desde que fui para a cidade grande não voltei mais. Tudo o que sabia era através de ligação ou por mensagens.

- E o meu pai, onde está? - pergunto. Mamãe parece ficar preocupada. No nosso último contato ela me disse que o pai estava doente e agora fiquei sabendo que o mesmo não melhorou muito e que estava de cama. Fui levado até o quarto onde ele estava e me surpreendi com o seu estado, era preocupante. Já estava com a idade muito avançada e a sua memória também não ajudava muito, no entanto ele parecia ter lembranças de mim. Apesar de nossas desavenças no passado, muito me entristeceu vê-lo naquele estado. Havia uma enfermeira particular cuidando dele já que minha mãe não podia fazer muito a não ser dar a ele seu amor e carinho conforme foi feito durante todos os anos de seu casamento. O clima naquele quarto era pesado e não consegui permanecer ali por muito tempo.

Ao voltar para a sala encontro minha mãe conversando com Helena e as duas riam e pareciam falar sobre algo do nosso passado, quando éramos jovens. Iolanda sempre gostou muito de sua nora e apoiava nosso namoro mesmo sabendo que naquela época eu não era assim tão afim de Helena e que na verdade eu gostava mesmo era de outra pessoa, mas com o passar do tempo eu acabei enxergando um sentimento por ela que gerou duas lindas crianças por quem sou totalmente apaixonado. Vivemos um casamento bom, feliz apesar de tudo. Ter ido viver na grande cidade com ela ajudou nisso também.

- Vocês sempre formaram um lindo casal, desde a época da escola - minha mãe comentava enquanto enchia uma xícara com café preto - estavam sempre juntos pelos cantos, vocês e aquele menino, o Cadu - Iolanda dizia. Cadu. Há muito tempo não ouço esse nome, muito tempo mesmo. Ao ouvir minha mãe falar dele meu peito gelou por um momento.

CADUOnde histórias criam vida. Descubra agora