O rapaz de cabelos escuros se virou para mim com um sorriso estampado no rosto e então eu soube de quem se tratava. Era ele, o Cadu. Não acreditei quando vi, como ele estava diferente, seu cabelo já não estava mais tão grande como quando éramos jovens - o que o fazia ser bastante popular entre as garotas e valorizava bem seu rosto. Cadu andou em minha direção abrindo os braços e eu estático ainda não processando aquilo.
- Cadu? - digo surpreso. Sou envolvido em um abraço apertado e tão saudoso quanto o de minha mãe. Seu perfume me fez voltar no tempo rapidamente. Ele estava mais alto que eu, e sou o mais velho.
- Há quanto tempo, cara! - ele disse - Esqueceu dos amigos, né? - brincou. Fomos para a mesa e me sentei ao lado de Helena. Não sei explicar o porquê fiquei tão feliz de vê-lo outra vez, talvez porque éramos tão próximos quando mais novos que nem sabia que sentia tanta saudades.
Durante todo o almoço, Cadu me arrancou muitas risadas e me fez lembrar de coisas que já não lembrava há tanto tempo. Lembramos de nossa infância e de nossa época na escola. Como já disse, eu e Cadu crescemos juntos praticamente e éramos inseparáveis - minha mãe fez questão de nos lembrar disso. Estava tão ocupado com a vida na cidade, com o trabalho e com as crianças que acabei deixando as melhores coisas pra trás.
- Eu não fazia ideia que vocês tinham casado - o rapaz de cabelos escuros falou olhando para mim e Helena.
- Ah, não foi nada grande demais. Foi um casamento simples no cartório, depois nos reunimos em casa para um jantar com a família... - expliquei. Cadu balançou a cabeça em afirmação com um sorriso fechado. Percebi que ele ficou chateado, eu devia ter o convidado, afinal ele era parte da família.
Conheci ele quando tinha por volta dos sete anos, em um sábado a tarde. Me lembro bem desse dia, pois fazia sol e Cadu segurava um ursinho de pelúcia azul enquanto se escondia atrás do vestido de sua mãe. Eles tinham acabado de se mudar e naquela época não morávamos na casa que hoje é de meus pais, era uma casa comum, pequena. Dona Flora tinha ido até minha mãe pedir gentilmente para que pudesse esquentar a comida no nosso fogão e assim poder alimentar seu filho, o Cadu. Iolanda prontamente se dispôs a não só emprestar nosso fogão como a convidar os dois para almoçar conosco naquele dia. Naquela época ele era bem tímido, não parecia em nada com o adolescente que veio a se tornar depois - o que não é muito diferente, já que continuava tímido, mas um pouco menos.
Dona Flor, como eu a chamava, aceitou o convite depois de muita insistência por parte de Iolanda e foi almoçar conosco. Ela elogiou meus olhos assim que me viu. Eu estava no chão brincando com meus carrinhos e bonecos quando o vi passando por aquela porta, acenei para ele e recebi um aceno de volta. Iolanda levou dona Flor para a cozinha e Cadu foi atrás, mas logo depois voltou sendo trazido por minha mãe que sugeriu que a gente brincasse junto. O convidei para brincar de carrinho, o deixei brincar com todos os meus brinquedos - coisa que eu não fazia nem com meus primos quando iam nos visitar, pois sempre fui muito ciumento com minhas coisas e principalmente meus brinquedos. Depois disso, passamos o resto da tarde jogando videogame no meu quarto e assistindo a desenhos na televisão. Dona Flor nem mesmo se importou em levá-lo embora, já que ele estava tão a vontade ali. A partir daí a gente não desgrudou mais um do outro.
Após o almoço fomos os três para a sala onde ficamos conversando sobre muitas coisas. Não foi só o corte de cabelo que mudou em Cadu, o seu jeito está mais espontâneo, mais extrovertido e ele está malhado. Da última vez que o vi não se parecia em nada com o Cadu atual, e o atual está bem mais bonito - não que ele já não fosse.
Cadu comentou conosco sobre uma reunião das turmas do ensino médio da época em que estudamos. O aniversário da cidade estava chegando e com ele o do colégio também e a direção achou por bem fazer esse evento. Confesso que me animei bastante, mas Helena nem tanto afinal suas amigas já não moravam há anos na cidade e algumas tinham até saído do país, mas eu ia acabar convencendo ela a ir comigo. Seria ótimo reencontrar tanta gente e amigos dos tempos de escola e marquei presença com Cadu, que também ficou bem animado.
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CADU
General FictionCasado e pai de dois filhos, Caio volta para a sua cidade natal acompanhado de sua mulher afim de visitar seu pai doente e passar um tempo longe da cidade grande. Lá, ele reencontra o seu passado e o seu antigo amor de infância: seu melhor amigo, Ca...