Maternidade real nem sempre é fácil

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Ava não conseguiu pensar em uma só frase coerente, era como se, de repente, seu cérebro pifasse e deixasse a boca abrindo e fechando num movimento instintivo, tentando formular palavras e desculpas impossíveis para a situação que mais parecia um pesadelo.

É isso, pensou ela, apenas um pesadelo. Eu não tenho uma filha com Sara Lance, não sou a mãe dessa pobre criança.

Exceto que as semelhanças estavam lá. Avril tinha seus olhos, o nariz era uma versão pequena e delicada do seu próprio, mesmo os lábios se pareciam; apenas seus cabelos eram mais claros, mais loiros e macios como os dos bebês costumam ser. Era como observar uma miniatura de si mesma e quanto mais Ava olhava, mais semelhanças ela encontrava, o que fazia sentido se levasse em conta que o que dizia naquele pequeno caderno estava certo: ela era a mãe biológica; mas ainda havia um brilho em seu olhar, algo que pertencia totalmente a Sara Lance e Ava tinha certeza que aquela menininha, que permanecia pacificamente abraçada a seu pescoço, seria capaz de destruir aquele quarto em cinco minutos.

- Mamãe, pega!

Aquilo tirou Ava de seus pensamentos. A menina – Avril? – lhe estendia o brinquedo azul e felpudo, algo que deveria ser seu objeto de conforto nas noites escuras enquanto permanecia sozinha em seu berço. Espera... Ela dormia em um berço? Usava fraldas? Precisava de uma mamadeira? Aquilo foi demais pra ela, como se ela fosse tirada violentamente do torpor em que se encontrava. Ela não podia ser mãe! Não tinha ideia de como lidar com crianças – não importava a idade – e definitivamente ela não entraria nessa confusão.

- E-eu não posso. Sinto muito, mas não posso.

Ela praticamente jogou a menina para Sara que se apressou em pegá-la, Avril resmungou de forma descontente, mas gargalhou quando a mulher fez cócegas em sua barriga, suas maria-chiquinhas balançando loucamente com o movimento.

- Você não pode? – o tom de Sara se tornou sério, assim como sua expressão ao se virar para Ava – Acha que eu pedi por isso?

- Eu não sei cuidar de uma criança, Sara! Não tenho ideia do que fazer, como brincar ou... Tudo! Não tenho ideia do que você quer que eu faça. A Sara do futuro parece achar que eu posso te ajudar em alguma coisa, mas adivinha só? Ela estava enganada!

As duas se encaram por um momento, o silêncio é tenso e nem mesmo Avril o quebra, como se pudesse sentir o problema entre elas.

- Ok – Sara concorda – Você não é do tipo maternal, entendi. Nós vamos falar sobre pensão alimentícia e dias de visitas agora? Quanto ganha um agente do Departamento do Tempo?

- O que?

- Você está fazendo de mim uma mãe solteira, então você precisa contribuir de alguma forma e também tentar fingir que se importa, talvez umas duas vezes no mês.

Ava sabia que Sara estava tentando ficar sob sua pele e estava conseguindo. Ela só não podia lidar com aquilo tudo, era demais mesmo para os padrões das Lendas.

- Eu preciso ir... Eu não posso...

Ela se virou para sair, mas a vozinha fina fez com que parasse por um instante.

- Tchau, mamãe! Mamãe vai pro trabalho.

Avril ainda tinha dificuldades em pronunciar a letra r, enrolava as palavras, mas ainda assim falava extraordinariamente bem para uma criança tão pequena e parecia familiarizada com Ava saindo para o trabalho.

- Isso mesmo, amorzinho – ela pode ouvir a voz de Sara – Mamãe vai pro trabalho e nós vamos brincar.

Com isso, Ava se afastou e abriu um portal desaparecendo por ele e deixando tudo aquilo para trás. Não voltou para a agência, indo diretamente para o seu apartamento com a intenção de tomar dois analgésicos, avisar a Gary que não retornaria, tomar um banho e então dormir a tarde – e talvez a noite toda – para apagar aquele dia.

Back to the Future (fanfic Avalance)Onde histórias criam vida. Descubra agora