|Capítulo 5|

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As mãos de Tiago apertavam o volante com força, seu pomo de Adão subia e descia de dois em dois segundos conforme engolia saliva e controlava a raiva

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As mãos de Tiago apertavam o volante com força, seu pomo de Adão subia e descia de dois em dois segundos conforme engolia saliva e controlava a raiva. Eu abaixei a cabeça.

— Eu já falei que precisamos dar um jeito nisso — ele disse enquanto pressionava o maxilar.

— Meu pai confia nele — rebati.

— E daí? Não é porque a merda de um vizinho é amigo do seu pai que pode dar em cima de você desse jeito. Isso é assédio, Evaluna! ASSÉDIO. — Sua voz já estava bastante alterada.

— Talvez tenha sido só uma brincadeira e...

— Brincadeira, Eva? Jura que você acha que foi só uma brincadeira? — retorquiu exaltado. — Vou falar com o Eduardo.

— Tiago, não!

— Eva, você sabe lá o que aquele maluco pode tentar quando você estiver sozinha? — Tirou os olhos da estrada e me encarou por dois segundos. — Isso não vai ficar assim, não vai mesmo. Agora me diz, o que foi que ele fez dessa vez?

— Eu já disse, foi uma brincadeira. Ele só me elogiou enquanto eu estava saindo pro colégio, e depois me mandou umas mensagens.

— Mensagens? O que tinha nas mensagens?

Eu me calei. Mordi o lábio e olhei para fora. Era muito constrangedor falar sobre aquilo. Ainda mais porque eu temia a reação dos rapazes.

— Nada demais, ele só disse que... Disse que...

— Anda, Eva! O que ele disse?

— Disse que eu tenho cara de ser mais velha, perguntou se eu daria uma chance pra ele e — Expirei com força —, disse que se eu quisesse poderia visitá-lo, que eu tinha total liberdade pra entrar na casa dele.

— Aquele merda! — Tiago arranhou os dentes uns contra os outros era notável seu estado de fúria.

— Calma, Tiago. Eu ignorei, acho que não vai mais mandar nada.

Eu tentava apaziguar a situação, tinha medo de uma verdadeira tragédia. Mas a história vinha de longa data, Tiago sabia, já Eduardo, não. Meu irmão era muito impulsivo, eu sabia que ele iria confrontar o nosso vizinho e aquilo poderia terminar mal para as duas partes. Se Eduardo fizesse alguma bobagem, iria sofrer consequências e eu tinha medo de que minha única companhia me deixasse. Não suportaria que Eduardo fosse para prisão ou que fosse machucado por Edilson. A denúncia seria uma opção, se eu não soubesse que aquilo provavelmente não daria em nada.

Tiago balançava a cabeça de um lado para o outro, estava visivelmente alterado. Assim que chegamos, ele desligou o veículo esfregou as duas mãos no rosto. Sua respiração estava descompassada, ele soltava o ar pela boca e suas mãos não paravam quietas em um só ponto do volante.

— Eva, amanhã eu venho te buscar — disse com a voz emaranhada na raiva.

— Não precisa, é muito fora de mão, eu sempre andei sozinha. Não tem nenhum problema. Edilson não vai fazer nada.

— Não interessa. Amanhã eu venho te buscar aqui! — retrucou.

Ele segurou minha mão esquerda e me encarou, mais calmo, ou pelo menos tentava se acalmar.

— Escuta. Se ele tentar alguma coisa, qualquer coisa, me liga que eu venho na hora, 'tá bom?

Assenti e encaixei meu corpo em seu abraço quente e confortável.

— Obrigada por cuidar de mim. — Minha voz saiu abafada pela sua camisa.

— Você e o Edu são como irmãos pra mim. — Acariciou minha cabeça, com os dedos entre os fios dos meus cabelos. — Eu te amo, Eva. Ninguém vai fazer nada contigo. Me ouviu?

Anuí e dei um beijo em sua bochecha.

— Eu vou ficar aqui até você entrar — ele disse.

— Te amo — respondi antes de abrir a porta, batê-la e caminhar a passos rápidos até a porta da frente.

Entrei sem olhar para trás. Subi até o segundo andar com certa pressa, fui até a janela e acenei para meu melhor amigo que estava parado do lado de fora do seu carro, recostado no capô, observando a casa ao lado da minha. Ele me respondeu com um sorriso, voltou para dentro do carro e seguiu seu caminho.

— Eva.

— O-oi, Edu. — Me assustei com meu irmão na porta, sem aviso prévio. — 'Tá com uma cara. Aconteceu alguma coisa? — questionei enquanto arrancava os sapatos.

— A mãe ligou. — Sua feição não era nada agradável.

— A mãe? E o que ela disse? — Parei de me mexer e apenas esperei sua resposta.

— O pai teve uma crise de labirintite muito forte, eles não vão conseguir voltar no fim de semana. — Seu olhar estava tão contristado quanto o meu se tornou naquele momento. — E tem mais.

— Mais? — falei com a voz embargada.

— Ela disse que dependendo do que o médico disser, não vão voltar até o fim do mês. Eu sinto muito.

— Quer dizer que eles não vão vir a tempo do sarau.

Ele sacudiu a cabeça pressionando os lábios e depois bateu com as próprias mãos nas pernas antes de se sentar ao meu lado.

Seria o meu primeiro sarau como voluntária no orfanato São Luiz, um lar para crianças que ficava há algumas quadras da nossa casa. Eu havia preparado as crianças que desejavam fazer parte do grupo literário. Sempre tive o desejo de ser diferente e de fazer a diferença na vida de alguém, aquela era a minha maneira. Estava empolgada, sonhava com meus pais vendo meu trabalho, todavia, aquela notícia foi um balde de água fria.

— Olha, eu vou estar lá, o Tiago e o Douglas também. A gente leva até a chata da Leda — brincou e eu soltei um pequeno riso. — Não fica chateada assim, 'tá bom?

— Eu entendo. — Respirei fundo. — Mas o papai? Como ele está agora? Ele sempre fica muito mal quando isso acontece.

— A mãe disse que ele 'tá medicado e no hotel descansando. Ela cancelou as visitas de amanhã pra cuidar dele.

— Tão linda a relação dos dois — comentei e olhei para baixo, buscando palavras. — Edu... Eu preciso te contar uma coisa.

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