Capítulo 4 - Starbucks e novas revelações

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JÚLIA P.O.V

São Paulo, setembro de 2023

Depois de me arrumar, voltei para meu carro e segui rumo à Avenida Paulista. Como esse trajeto tênis -> Avenida Paulista não era um trajeto que eu estava acostumada a fazer, tive que colocar no gps o endereço e o segui. Com o passar das semanas, acostumando a fazer esse trajeto, eu já saberia de cor que ruas pegar para chegar aonde eu queria e eu não precisaria mais do gps.

A minha paixão por dirigir não mudou depois do acidente. Talvez isso tenha influenciado na minha facilidade em reaprender a dirigir depois do acidente. Tudo bem que eu dirijo um carro automático e literalmente a única coisa que eu tenho que fazer é acelerar e freiar, mas isso não tira o meu mérito. Para dirigir bem, é necessário ter noção de espaço e isso eu tenho – além de estacionar bem.

Liguei o rádio do carro e sincronizei com o meu celular. A Júlia de antes do acidente só ouvia música pop. A Júlia de depois do acidente ouvia de tudo, mas o que ela mais gostava de ouvir era reggaeton, sertanejo, rap e música clássica. O único estilo musical que a nova Júlia não suportava ouvir era pop. Provavelmente isso é reflexo do vício da antiga Júlia – de tanto ouvir pop, enjoou.

Mas cá entre nós, eu gosto mais do estilo musical da nova Júlia.

Enquanto mentalmente eu pensava em tudo o que eu já tinha reaprendido a fazer e queria aprender, cheguei a Paulista. O caminho foi bem rápido.

Deixei meu carro em um estacionamento rotativo e segui andando pela Paulista meio sem rumo. Eu gostava de observar o movimento.

O passeio sem rumo acabou quando a minha amiga Roberta me mandou uma mensagem. Dirigi-me até o Starbucks que tinha na esquina do Parque Trianon, quase de frente ao MASP. Peguei uma mesa do lado de dentro do café e fiquei esperando pela minha amiga.

Roberta, segundo me contaram e eu vi nos últimos 18 meses, era a minha melhor amiga. Nos conhecemos na faculdade, em 2017, e desde então tínhamos nos tornado inseparáveis. Roberta foi a primeira pessoa, depois dos meus pais, que foi me visitar no hospital logo que sofri o acidente. Ela viajou para os Estados Unidos só para me visitar. Meses atrás, quando eu já estava bem, ela me contou que a minha situação era muito grave e ela tinha medo que eu morresse, por isso foi para os Estados Unidos na mesma hora que ficou sabendo do acidente.

Durante os 18 meses de tratamento pós-acidente, Roberta esteve ao meu lado me ajudando e me apoiando. Pelo menos 1x na semana ela aparecia na minha casa e me acompanhava na fisioterapia. Ela também me ajudou muito com o português. Quando eu acordei do coma, não me lembrava de quase palavra nenhuma em português e ela me ajudou muito, junto com a minha família e meus professores, a reaprender o meu idioma pátria. Nos últimos meses ela tem me dado aulas de inglês também, já que esqueci tudo. Espanhol e italiano, estou reaprendendo por conta própria. Como eu já falava essas línguas antes de esquecer tudo por causa do acidente, tenho tido facilidade para reaprender. É como se eu já soubesse e só precisasse relembrar.

Eu não sei o que seria de mim se Roberta não tivesse ficado ao meu lado todo esse tempo. Eu amava e apreciava demais o apoio e companhia da minha família, mas era bom saber que eu podia contar com uma amiga. O que ela fez por mim, pouquíssimas pessoas fariam e eu sabia disso.

O mais legal de tudo isso foi que quando eu acordei do coma, por mais que eu não me lembrasse de nada, senti um carinho muito grande pela Roberta, então foi mais fácil deixar com que ela se aproximasse de mim e voltássemos a ser inseparáveis como éramos (e as minhas muitas fotos no Instagram mostravam).

—Julie! –Roberta exclamou assim que me viu.

Ela me chamava de "Julie" (leia-se: diulí), porque esse era o nome similar a "Júlia" nos Estados Unidos, e como eu morava lá, era assim que as pessoas me chamavam.

PepêOnde histórias criam vida. Descubra agora