Capítulo 8: Mirror

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“O meu pecado não foi especificamente isto ou aquilo mas consistiu em ter apertado mãos com o demônio. [...] O demônio me segurou com suas garras, o inimigo estava atrás de mim." — Demian

— Em tempos como esses, não temos palavras. Nós temos apenas um ao outro. Hoje nos reunimos para lamentar a morte de Park Jimin, filho primogênito de Park HyunMi, aluno dedicado e querido por todos – Dizia o padre, no cemitério de grama verdinha. A mãe de Jimin chorava e era acolhida por uma outra mulher, que a abraçava ternamente. Os três amigos de Jimin, estavam do outro lado da cova, trajados de preto dos pés à cabeça — As escrituras nos dizem: Não sofreras, pois não andamos sozinhos – Completou o padre, todos estavam de cabeça baixa conforme ele rezava, e logo todos ficaram em silêncio enquanto o caixão era colocado dentro da cova. O trio estava silencioso, era uma dor enorme que sentiam no peito, Jimin era uma pessoa muito querida por todo mundo. Taehyung já estava com as últimas lágrimas caindo pelo rosto, ele era o que mais estava triste dos três, afinal, Jimin era seu melhor amigo.
— Sra. Park, nós sentimos muito pelo Jimin – Hoseok foi o primeiro a se pronunciar do trio, a mãe assentiu com a cabeça e limpou as próprias lágrimas com o lenço branco que estava em uma das mãos — Conte conosco se precisar de algo...
— Meu filho gostava muito de vocês, meninos... Vivia falando de vocês – Ela disse, dando algumas fungadas. Taehyung deu outra fungada, tentando segurar as lágrimas e abraçou a mãe de Jimin, que sempre fora tão boa e gentil consigo, os outros dois rapazes ficaram parados, mas também tiveram a oportunidade de abraçar aquela mulher, que se encontrava desamparada e indefesa.
— Com licença, Srta. Park? – Uma voz suave disse atrás dos quatro, Hoseok que foi o último a abraçar a mãe de Jimin, se afastou e se virou, se deparando com um homem de sua altura, magro e um terno preto, o pequeno rabo de cavalo balançava conforme ele mexia a cabeça para fazer uma reverência — Sou o detetive Hamilton, da polícia de Nova Jersey... Sinto muito pela sua perda – O olhar do tal detetive bateu de relance no trio atrás da mãe de Jimin, mas especificamente em Hoseok, que estava no centro, o mesmo assentiu com a cabeça e lhe desejou um "bom dia".
— Obrigada, detetive... – Reverenciou de volta — Meninos, vão pra casa. A mãe de vocês podem estar preocupadas – O trio concordou e se despediu da senhora Park, deixando o cemitério em passos calmos, porém sempre juntos — No que posso ser útil, detetive?
— Oh sim, se não for muito incômodo, poderia responder umas perguntinhas? É para fins da investigação ao ocorrido com Jimin – A senhora Park assentiu com a cabeça e o detetive a ofereceu carona até a delegacia.

(...)

— Jungkook... Do que você tem medo? – Questionou Hoseok, com Jeon dentro do ônibus que os levariam para casa, Taehyung tinha descido à duas paradas atrás. Jungkook estava com os fones de ouvido, mas tirou um dos lados para identificar o que o mais velho tinha perguntado.
— O quê? Como assim? – Questionou de volta, Hoseok desviou o olhar para a janela do ônibus.
— Medo, ué. Todo mundo tem – Hoseok deu de ombros — Medo de palhaços, de altura, da morte... Comecei a questionar meus medos depois do velório, Jimin nunca mostrou ter medo de alguma coisa, vou sentir falta dele – Ele explicou para o amigo enquanto encarou suas unhas curtas e as levou aos dentes, a roendo levemente, era uma mania que tinha quando ficava ansioso.
— Lobisomens.... – Disse em voz baixa, encarando o nada. Hoseok franziu o cenho e olhou o mais novo com incerteza — O quê? Não me olhe assim
— Mas lobisomens não existem. Isso não faz sentido nenhum! – Disse Hoseok, gesticulando enquanto falava
— Claro que faz...Vamos mudar de assunto já que eu respondi sua pergunta? Do que você tem medo?
— Sinceramente? Eu tenho medo de morrer.... – Hoseok abaixou a cabeça — A morte me assusta...
— Só não se arriscar com ela. Depois do que houve com o Jimin, temos que tomar cuidado...
— Acha que é um serial killer? Igual nos filmes? – Perguntou Hoseok, coçando as costas da mão de forma ansiosa
— Não sei...Mas é sempre bom tomar cuidado... – Jungkook olhou pela janela e se levantou do assento — Meu ponto é o próximo, tchau, Hoseok! – O mais novo acenou com a mão enquanto com a outra usava para se segurar e se equilibrar de pé, logo descendo quando o ônibus parou e as portas se abrirem.

(...)

Hoseok estava em seu quarto, o tabuleiro estava escondido embaixo de sua cama, dentro da mochila, algo fazia sua mão coçar para que ele pegasse e jogasse de novo. Mas depois do que havia passado da última vez que havia jogado, decidiu deixá-lo guardado e bem cuidado. Hoseok encarou o teto e logo sentiu o sono bater, mas ele se manteu acordado, se dormisse na parte da tarde, provavelmente iria ter insônia. Quando Hoseok quase dormiu, um baque foi ouvido, como se alguém tivesse batido com força em alguma coisa de madeira.
— Mãe? – Questionou Hoseok, a mãe de Hoseok estava no andar de baixo, assistindo dramas enquanto o filho estava deitado no quarto, ainda magoado com a perda do amigo. Hoseok se sentou na cama e esfregou o rosto, encarando o chão, nada faria o aperto no peito sair tão cedo. O Jung se levantou e caminhou até o espelho de seu quarto, estava explícito em seu rosto a exaustão, a tristeza e a dor. Hoseok havia chorado, ainda era difícil de acreditar que havia perdido um amigo.
— Olá, Hoseok – Uma voz grave e distorcida disse para o Jung, que sobressaltou no lugar e franzir o cenho na frente do espelho — Eu sei que você me vê
— Mas que.... Porra é essa? – Questionou ele se aproximando levemente do espelho novamente.
— É isso mesmo... Eu sou seu pior medo... E eu estou dentro de você, Hoseok.... – A voz grave disse e Hoseok se virou para o reflexo no espelho, o Jung estava ofegante e suando. Era ele, porém flutuava e tinha os olhos completamente negros e um sorriso largo e sombrio. O Jung assustado, não teve outra reação a não ser gritar.
— Vá se foder! Morra, seu filho da puta! – Hoseok exclamou para o reflexo, dando tapas em sua cabeça enquanto seu coração batia forte, parecia que iria explodir a qualquer momento — Acorda, Hoseok.... Acorda! – Exclamava para si mesmo, as lágrimas já escorriam por seu rosto rapidamente.
— Ah, tão tolo. Não dá pra matar um espírito mesmo se você tentar – Disse seu reflexo — O que? Está com medo? Pensasse nisso antes de mexerem comigo. Tolos! – Brandou o reflexo de Hoseok, fazendo o mesmo cair no chão com um impulso que recebeu.
— Você matou o Jimin... – Ele disse com lágrimas nos olhos, as pernas estavam começando a ficar fracas e a respiração estava descompassada.
— Eu? Bem... Eu apenas dou os comandos. Sabe quem foi que matou o Jimin? Você, Hoseok... Você é o assassino! – Disse, seguido de uma risada maléfica, fazendo Hoseok tampar os ouvidos com as palmas das mãos. Hoseok fechou os olhos, e teve alguns flashes em sua mente, ele se viu entrando na casa de Jimin no meio da noite, e puxando a maior faca da coleção da senhora Park. Ele ouviu os pés de Jimin pisarem na madeira da escada, e um sorriso maldoso se montou em sua face. Hoseok andou em passos rápidos até a escada, e pôde ouvir o telefone de Jimin. Logo o flash se modifica, Hoseok está em cima de Jimin, que tinha seus olhos arregalados, cheios de lágrimas e a boca escorria sangue, assim como os diversos furos em seu tronco e pernas. Jimin segurou a gola da camiseta de Hoseok e sussurrou uma única palavra. "Hyung...", foi o que Jimin disse, antes de soltar a gola do mais velho, e desabar morto no chão de seu quarto. Hoseok volta para sua realidade, tendo a sensação de que seu coração havia quebrado em pedacinhos, seu interior doía de uma forma que ele nunca saberia explicar, apenas sentir.
— O que você quer da gente? – Questionou ele, ainda com as mãos nos ouvidos e os olhos fechados e lacrimejantes.
— O que algo como eu geralmente procura, Hoseok? Balas de goma com o formato dos ursinhos carinhosos? – Debochou o reflexo — Eu precisava de apenas um de vocês... Mas vocês me irritaram, e muito, principalmente aquele insolente com dentes de coelho.
— O Jungkook? Não! Não chegue perto dele, por favor – Hoseok abriu os olhos e juntou as mãos em forma de prece, o reflexo sorriu com os olhos negros e vazios.
— Oh, eu não sabia o nome dele. Agora tudo fica mais fácil – Disse com um sorriso malicioso, fazendo Hoseok perceber a burrada que tinha falado.
— Não!! Me leve no lugar dele! Eu me ofereço
— É uma oferta tentadora... Eu poderia pensar na idéia de te levar comigo no lugar do tal Jungkook – Diz o reflexo, rindo maleficamente — Tudo bem, Hoseok... Está certo que quer criar um pacto com um dos filhos do diabo? – Hoseok respirou fundo. Era pelo bem de seus amigos, não iria suportar perder suas amizades, e não iria conseguir perdoar o fato de ser egoísta e deixar o demônio levá-los em seu lugar.
— Sim... Eu estou certo disso... Me tome – Disse sem pensar duas vezes em responder. O reflexo sorriu e esticou a mão se deslocando do espelho e se aproximando do rosto de Hoseok, agarrando o pescoço do mesmo com brutalidade e o apertando, fazendo o mesmo ficar sem ar e se debater nas mãos do diabo. As mãos do Jung seguraram as garras negras que apertavam o seu pescoço, o seu reflexo se modificou, os olhos ficaram negros e com linhas pretas em seu pescoço, que subiam até o começo de sua face. Hoseok abriu a boca e começou a se desesperar por ar, o diabo sorriu largo e o puxou para frente, entrando de novo no espelho, fazendo com que Hoseok batesse a cabeça com força, desmaiando no mesmo momento, resultando na quebra do espelho em si. Hoseok deveria saber que nunca deveria acreditar no diabo, pois o mesmo é traiçoeiro e desonesto.

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