O Livro

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Leia ao som de "Boom Clap" de Charli XCX, tema do filme "A culpa é das estrelas".

O tempo passava sem se importar com os dois amigos que na correria de escola e faculdade, mal se viam. Seus encontros 3x por semana se restringiam aos sábados apenas. Era triste imaginar que janeiro virava a esquina, deixando um ano incrível para trás.

Sete sabia que precisava fazer algo a respeito. Pensava sem parar no que poderia deixar para Clara, uma recordação seria o mais interessante, porém, o que faria eternizar aquela amizade?

Sondou tudo o que sabia sobre Clara em sua mente, tudo o que descobrira sobre aquela que tinha se tornado mais que uma amiga, uma irmã. Peraí, irmã era pesado. Não! Vamos manter o título de BFF, isso é mais que suficiente.

Depois de uma longa vasculhada na mente, lembrou que assim como ele, Clara era uma leitora nata. Lia tanto quanto podia, principalmente seu gênero favorito - romance. Talvez fosse esse o motivo de romantizar tudo ou poderia ter nascido assim, com as lentes de uma apaixonada.

Apesar de todas as "merdas" que sofrera no amor, ainda conseguia olhar para o futuro com olhos de amor. Pensava em ter uma família, filhos etc. Sempre comentava com ele. Sem querer, ou talvez não, Sete se via fazendo parte daquela que seria a família mais sortuda da Terra, por tê-la. Ok, Sete sem viajar. Vamos parar de pensar na sua melhor amiga dessa forma. Sem contar que já tá dando bem na cara que sente algo a mais.

Será que ela percebera todos os olhares com virada de cabeça? Ou em como eles brilhavam cada vez que mencionava seus planos futuros, quaisquer que fossem?

Tomara que não. Ou tomara que sim? Não sabia o que escolher. Ainda havia empecilhos, mas se ela soubesse não seria melhor? Poderia assim se ver livre de uma culpa futura, caso ela cogitasse tê-lo como um possível crush, namorado etc? Não seja covarde, Sete! Reaja, garoto! Mas ainda se sentia afetado por aquelas palavras sobre ser maduro, porém, novo demais. Não conseguia. Simples assim.

Chegara o dia de se encontrarem, enfim conseguiram uma data na semana menos tensa entre provas finais e trabalhos. Seu lugar de encontro ainda estava lá, esperando por eles. Sete chegou primeiro, estava ansioso, segurava o embrulho tão forte que sem perceber já o amassara. Desculpa Clara, pensava. Estava nervoso. E por que não estaria? Fazia algum tempo que não se viam pra jogar papo fora, nem se lembrava como as coisas estavam. Será que estaria estranho? Que seja, eles tinham esse dia e era suficiente ou talvez não.

A mente de Sete parecia querer explodir. Precisava tomar muitas decisões ainda aquele ano e parecia um intervalo de tempo tão curto para decisões que decidiriam sua vida para sempre. Fizera o vestibular para um curso que seu pai não apoiava. Não podia perder a oportunidade. Melhor se arriscar do que se arrepender de não ter feito, não é? E se não passasse? Ok, estava tudo bem. Porém, no seu íntimo sentia aquela arder a esperança de conquistar algo por si mesmo. E o sucesso na prova acarretaria grandes mudanças, inclusive mudança geográfica. Como deixaria para trás sua grande amiga? Sua apoiadora? Eles teriam que dar um jeito, aquilo que haviam construído era maravilhoso demais para se perder.

Sete de cabeça baixa estava uma pilha, quando ouviu passos a sua frente.

-Ei estranho, tudo bem por aí? Parece estar no mundinho da lua. - ela sempre estava de bom humor e mesmo quando não, nesses encontros algo mágico parecia acontecer.

-Ei, Clara. - Sete a abraçou forte. Precisava daquele abraço, precisava se sentir seguro e ali era o seu lugar seguro.

-Ei, realmente tá tudo bem? Tô ficando preocupada.

-Tá sim, só preciso desse abraço. Fica aqui mais um pouco, pode ser?

-Claro que sim... O tempo que precisar.

SOB MEU OLHAROnde histórias criam vida. Descubra agora