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Capítulo 1 • O Ano Novo

O ano de 2015 tinha sido o mais intenso na vida de Sophia, até então. O clima de natal naquele ano estava abaixo de zero para ela, principalmente porque aquele foi o primeiro, em muito tempo, que Sophia passou solteira. Não sozinha, claro, ela sempre tinha uma casa para voltar, mas mesmo a casa de seus pais não a fazia sentir paz interior como antes. Não depois que sua avó se foi.

Theresa, sua irmã mais velha, se casaria com David no ano seguinte e já estavam planejando filhos. Eles se conheceram na faculdade de medicina e pedido de casamento foi feito durante a formatura. Eram o tipo casal perfeito, o tipo de romance o qual Sophia sempre sonhou, mas os homens que ela atraía nunca chegaram aos pés do quanto David era perfeito para Theresa, e todos percebiam isso.

Ela nem sabia disso, mas Theresa acabou deixando escapar que ouviu seus tios a chamando de azarada no amor. O que não estava totalmente errado.

Ainda assim, ela gostava de estar com alguém ao menos para mostrar para a família que, com sorte, em breve poderia ter um casamento tão feliz quanto seria o de Theresa.

Mesmo com sua carreira brilhante e todo o seu sucesso, mesmo com toda a riqueza de bens materiais, ela trocaria tudo para ter o que Theresa tem. Desde criança.

Theresa era magra, alta e sua pele era ótima, sempre com um bronzeado impecável, o qual ela simplesmente conseguia indo à praia e não de modo artificial. Seus cabelos loiros escorriam perfeitamente até sua cintura, não importava se o clima estava seco, úmido ou o que fosse. Seus cílios eram enormes, chamando ainda mais atenção para seus olhos azuis, a única coisa em que se assemelhava à sua irmã.

Tess, como Sophia costumava chamar, era natural, como se ela emitisse luz própria e jamais precisasse chamar atenção para ser vista ou escutada. Apesar de ser a caçula, foi Sophia quem sempre precisou lutar pela atenção, e foi assim que ela foi parar no ramo do entretenimento.

Sophia não tinha o corpo de modelo que Theresa tinha, e para ela, tampouco sua beleza. Com sua altura mediana, sua pele pálida e seus cabelos castanhos, ela se sentia infinitamente inferior à sua irmã, desde que eram crianças. Mas havia algo que nem mesmo Tess poderia tirar dela: seu talento.

Sophia tinha um carisma que atraiu a atenção de caçadores de talentos num restaurante italiano quando ela tinha apenas dois anos. Obviamente, carisma esse que ela tentava esbanjar sempre que estava se sentindo deixada de lado, enquanto todos batiam palma para a inteligência e graciosidade de Theresa.

Sophia podia atuar, podia cantar e podia dançar. Era uma criança linda e inteligente e virou uma adulta não muito diferente disso.

E não, ela não odiava Theresa pelos momentos em que viveu na sua sombra. Tess fora sua melhor amiga no mundo inteiro, sua protetora e fiel escudeira. Sophia sabia que ela merecia tudo que tinha, porque conquistou por mérito próprio. Ela observou sua irmã mais velha dançando com seu cunhado, enquanto o resto da família batia palmas.

Sophia jamais conseguia se imaginar numa cena assim. Ela se pegou pensando nisso, enquanto dava voltinhas com o dedo na sua quinta taça de champanhe já vazia, sozinha na mesa. Na realidade, ela não fazia muita questão que alguém fosse lá ficar com ela, estava com saudade de si mesma, saudade de quem ela era antes de toda essa merda.

Ela queria pensar na vida, pensar em Lucas e pensar em 2016, o ano que estava chegando. Era reconfortante saber que seria um ano cheio, ao menos isso poderia lhe impedir de quebrar ainda mais seu coração pois estaria completamente afogada em trabalho. Metade do ano ela passaria gravando uma nova série e a outra metade, um filme. Em ambos Sophia seria a protagonista.

Ela poderia dizer que aquele era o auge da sua carreira, mas não, nada estava bem. Seria o auge na carreira se, na vida pessoal, Sophia não estivesse no fundo do poço.

- O que está fazendo? - Theresa diz, puxando Sophia de volta à realidade.
- Estou só... pensando. Aproveitando minha própria companhia.
- Deveria se juntar a nós, estão todos perguntando por você.

Sophia suspirou. Não estavam não.

- Esse ano foi horrível, Tess.
- Eu sei, eu sei. - Theresa desliza gentilmente as mãos pelas costas de Sophia. Às vezes ela parecia mais maternal que a própria mãe delas. Não que Brianna fosse uma mãe ruim, na verdade ela foi uma mãe maravilhosa para ambas, o único erro dela foi nunca ter percebido que Sophia se sentia excluída em alguns momentos.

Não era culpa dela, afinal. Sophia odiava se sentir assim, odiava esse sentimento de carência e fazia de tudo para nunca demonstrar. Mas Theresa sabia e tentava ao máximo fazer com que ela se sentisse incluída, mesmo que a mais nova negasse quase sempre seus convites para se juntar aos demais.

- O ano que vem vai ser melhor. - disse Theresa. - Eu prometo.
- Tess...- Sophia balança a cabeça e força um sorriso.
- O quê? Não estou brincando. Você vai se surpreender.

Sinceramente, depois de tantas expectativas destruídas, Sophia sequer conseguia criar mais algumas para o ano que estava chegando. Já havia decidido que seria um ano estritamente profissional. Isso não significa que ela não pudesse relaxar no tempo livre, claro que poderia. Ela só não queria fazer planos, e nem sequer achar que aquele seria um ano bom. Tudo que ela queria era um ano normal.

Antes de tudo isso, as festas de fim de ano costumavam ser o feriado favorito de Sophia. Ela adorava que, mesmo morando em Los Angeles, as noites ficavam mais frias. Quase se como a cidade se esforçasse para participar do tradicional clima natalino com neve, mas falhasse miseravelmente nisso. Hoje em dia isso não lhe surpreende mais. No entanto, Sophia conseguiu sobreviver ao resto da festa de natal. E a de ano novo também.

E então, finalmente 2016.