Capítulo 20 • A borboleta

82 10 1
                                    

A semana passou desesperadamente lenta. A cada minuto Sophia esperava uma ligação ou qualquer outro tipo de contato de Dylan. Mas nada aconteceu.
Ela até pensou em mandar algumas mensagens, talvez dar mais uma ligação, mas lembrou do que Julia disse: dar um tempo a ele. Só que isso estava a matando.

Passou por várias fases em um curto espaço de tempo. Tristeza, desespero, raiva. Como ele pode abandoná-la daquele jeito, sem lhe dar a chance de se explicar?

Na quarta-feira, no refeitório com Brad e Ava, ela mal conseguia tocar na comida. Quanto mais o tempo passava, menor ficava sua esperança de que Dylan iria procurar por ela, e isso a deixava cada vez mais apreensiva.

E se... Ele nunca mais a procurasse?

Seu estômago embrulhou ao pensar nisso e ela sentiu seu café da manhã subindo pela garganta. Subitamente se levantou, dando um susto nos colegas que se sentavam junto dela, e saiu correndo para o banheiro mais próximo.

Ava veio correndo atrás dela, para garantir que estava tudo bem e segurar os seus cabelos. Sophia se sentiu agradecida por isso, mas ao mesmo tempo não queria que ninguém a visse assim.

Ela se sentia cada vez mais cansada, cada vez mais pesada e seu coração apertado já não ajudava muito. Provavelmente, era ele a causa do problema. Mas na quinta feira, Sophia vomitou outra vez, teve que sair correndo após gravar uma cena e despejar seu almoço numa lata de lixo.

- Sophia, você não está bem. Vem aqui, conversa comigo. - disse Ava, alguns instantes depois, sentada na cama de Sophia, enquanto ela ia de um lado para o outro no quarto, arrumando suas coisas para ocupar a mente.
- Como eu posso estar bem? Está tudo desmoronando na minha vida. Primeiro eu perco meu cachorro e então... Dylan.
- Mas você está fisicamente mal. Para um instante, Sophia, para.

Sophia fica estática e olha a amiga acenando para que ela se sentasse ao seu lado na cama.

- Senta, vamos conversar. Você tem ido ao médico? Tem cuidado da sua saúde?
- Claro que sim, fiz um checkup ainda em julho.
- Hmm, bom, nós estamos em setembro...
- Ava, não dá para mudar muita coisa de julho para setembro.
- A menos que...
- A menos que o quê?
- Escuta, não se ofenda e nem se assuste com o que eu vou perguntar, eu vou ser bem direta.

Sophia odiava quando uma conversa já começava assim, seu coração já começou a bater um pouco mais forte quando Ava disse isso.
- Sophia, você está grávida?

O sangue subitamente subiu a sua cabeça, e ela parecia ter se perdido na pergunta. 'Grávida? Eu?' Não fazia muito sentido para Sophia, ainda que estranhamente fizesse sentido. Ela sempre se protegera com Dylan, exceto quando... Droga.

- Ai, não, Ava. - ela se levanta, levando as mãos à cabeça.
- Não se desespere, por favor. O que acha de fazer um teste?
- Eu... Eu não sei, e se eu estiver?
- Bom...
- Ava, eu não estou pronta para ter um filho, não agora, agora é o pior momento, o Dylan e eu...
Sophia cai no desespero e começa a chorar, se jogando dramaticamente aos pés da cama, fazendo com que Ava se levante para acudi-la.
- Amiga, calma, a gente vai descobrir, mas você precisa se acalmar, não adianta se desesperar agora.
Sophia, engole o choro e funga mais algumas vezes.

Mais tarde naquele dia, Ava chega com um teste escondido no casaco. Logo, Sophia corre para o banheiro para fazê-lo, obviamente acompanhada de sua amiga. Brad percebia a movimentação delas pelos corredores, mas nem sequer teve chance de perguntar nada.

A espera parecia ser de mil anos. As duas apreensivas, olhando para a telinha onde apareceria o resultado a qualquer instante. Um minuto se passou e nada.

- Ai, eu não aguento mais. - Sophia grita e dá as costas para o teste.
- Sophia, olha. - Ava a puxa de volta.

Positivo.

Sophia não tem outra reação senão levar a mão à boca, incrédula. O silêncio no banheiro naquele momento era mais barulhento do que qualquer avenida movimentada, ao menos dentro da cabeça de Sophia. Ava não sabia como reagir direito, estava esperando uma reação da amiga, que ainda estava paralisada com a mão na boca.

- Eu não acredito nisso. - ela diz, por fim.
- Amiga...
- O que eu faço agora, Ava? - Sophia começava a sentir as lágrimas ameaçando cair.
- Ligue para o Dylan.
- Não posso.
- Por que não?
- Eu... não posso.
- Você quer que eu ligue?
- Não!
- Mas você precisa avisá-lo.
Sophia se agachou, quase que em posição fetal, ali no meio do banheiro. Ava estava quase acostumada com essas maluquices da amiga, mas ainda assim, essa a surpreendeu.
- O que está fazendo?
- Assim eu penso melhor. - Sophia responde, a voz abafada pelos próprios braços.
Ava reprimiu uma risadinha.
- Levanta daí, garota. Me dá seu celular, eu vou ligar para o Dylan.
- Não!
- Sophia!
- Ava!

Ava encarou a amiga, um tanto indignada por seu comportamento diante da situação, pois se fosse com ela, estaria lidando de uma forma totalmente diferente, mas logo entendeu o ponto. Não era simples assim para Sophia.

Ela passou a mão nas costas da amiga e disse:
- Estou aqui para o que você precisar, se quiser ficar aí no chão do banheiro nessa posição esquisita, tudo bem, eu fico também. O tempo que você quiser. Mas sabe que uma hora vai ter que enfrentar, não é?
- Sei. Sei sim. - Sophia levantou a cabeça para olhar para amiga. - Eu só... Não sei como vou fazer isso.
- Vamos fazer juntas então.
Ava estendeu a mão para Sophia, que hesitou um pouco mas resolveu aceitar e levantar-se do chão. A amizade de Ava era muito diferente da amizade de Brad, e agora ela havia entendido isso. Ava estava com ela quando podia e até quando não podia, pois Sophia sabia que ela também tinha seus problemas.

Ava estava ali e não esperava nada em troca, isso era nítido. Com certeza ela iria levar Ava para a vida.
Naquela quinta-feira, em seu tempo livre, Sophia se pegou olhando pela enorme janela do dormitório. Ainda não havia caído a ficha de que ela estava grávida, parecia algo distante demais. Sophia se permitiu e lentamente levou sua mão até a barriga.

- Oi, bebê. Que chegada agitada a sua. Olha... Nós vamos dar um jeito, ok? Toda essa bagunça vai ser arrumada, mas você precisa dar um tempo para eu me acostumar... Sei que vai ficar tudo bem.

Nessa hora, uma borboleta pousa na janela, bem na frente de Sophia. Ela era linda, de um laranja tão vivo que quase doía os olhos. Certa vez, ela leu que borboletas muitas vezes sinalizam a visita de pessoas amadas que já se foram. Sophia não tinha uma fé certa, detestava se rotular, mas gostava de acreditar naquilo.

Ela sorriu, soube na mesma hora que não estava sozinha. Eles estavam felizes lá em cima.
- Vai ficar tudo bem.

𝑩𝑹𝑶𝑲𝑬𝑵 𝑷𝑹𝑶𝑴𝑰𝑺𝑬𝑺Onde histórias criam vida. Descubra agora