Capítulo 16 • O começo do fim

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Um pouco mais tarde, Sophia já podia ouvir certa movimentação nos corredores, indicando que boa parte da equipe já estava de pé. Alguns iriam sair, outros voltariam para casa pois já moravam na cidade e outros apenas ficariam por ali.

Sophia estava trêmula enquanto arrumava uma pequena mala. Mandou mensagens para Dylan explicando o que estava acontecendo e avisando que estava voltando para Los Angeles. Ele prometeu esperá-la no aeroporto.

Imersa em milhões de pensamentos, quase nem percebeu que havia alguém batendo na porta.
- Pode entrar. - ela disse.

Viu cabelos loiros adentrando o quarto e logo identificou Brad. Ele vinha apenas convidá-la para passear pela cidade, mas acabou sendo surpreendido pela cena de Sophia arrumando as malas.

- Você está indo embora? O que aconteceu? - ele pergunta, se aproximando da garota.
- Tenho que voltar para Los Angeles, o meu... Bom, o cachorro da minha irmã foi atropelado. Talvez isso seja uma despedida... - ela explica, se embaralhando em algumas palavras e ainda muito trêmula.

Havia tantas coisas a serem explicadas que apenas uma frase não era capaz de demonstrar o tamanho do problema. Brad a observou indo de um lado para o outro no quarto, pegando uma coisa aqui e outra ali, enquanto retorcia a boca como se evitasse um choro iminente.

- Vou com você.
- O que? - Sophia paralisou enquanto dobrava algumas camisetas no roupeiro, de costas para ele. O loiro podia imaginar a cara dela.
- Digo, se você quiser... Vou com você.

Sophia calou por alguns segundos, calculando todos os prós e contras disso. Ela apreciava a companhia de Brad, ele tem se mostrado um bom amigo desde o começo das gravações e seria de bom tê-lo ao lado ao menos durante o percurso até Los Angeles, pois ficar sozinha nessas horas era simplesmente terrível. Mas enfrentar a realidade quando chegasse lá era pior ainda e pensar nisso fez seu coração apertar ainda mais.

- Brad, é o seu dia de descanso, não o gaste com isso. Vai ser uma viagem cansativa em todos os sentidos e... - ela disse, se virando para o garoto.
- Você quer que eu vá?

Sophia o encarou por alguns instantes, buscando qualquer sinal de que ele não quisesse realmente fazer aquilo, mas não encontrou nenhum. Por fim, balançou a cabeça afirmativamente. Brad deu um meio sorriso, se levantou da cama e disse:

- Bom, nesse caso, vou fazer minha mala.
- Te encontro aqui em meia hora, ok?
- Ok. - Brad diz, piscando para ela enquanto fecha a porta.

Como prometido, os dois se encontraram novamente em meia hora, partindo juntos num táxi direto para o aeroporto. Brad era naturalmente engraçado e realmente a ajudou a se distrair, comentando bobagens sobre qualquer coisa que eles viam pelo caminho para fazê-la rir ou até fofocando sobre o pessoal do set de BINYL, algo que geralmente faziam junto com Ava quando os três jantavam juntos.

Enquanto estavam no avião, Sophia contou a ele a história de Koda, desde quando seu avô o deu de presente para sua avó, alguns meses antes de falecer. Ele teve um longa jornada, já era um cachorro idoso, mas muito, muito mimado. Aos poucos a ficha ia caindo de que ela nunca mais brincaria com ele, nunca mais afagaria seu pelo fofinho e nunca mais seria recebida pelo seu ataque de amor quando chegasse na casa de Theresa.

Sophia não conseguiu conter as lágrimas que já caiam sem aviso e Brad passou seu braço por trás dela, a trazendo para mais perto e fazendo com que ela deite a cabeça no ombro dele.

Quando os dois amigos chegaram no aeroporto de Los Angeles, encontraram David os esperando. Sophia nunca o vira num estado tão deplorável. O David que ela conhecia era sempre impecável, a roupa bem passada, a barba bem feita e os cabelos bem penteados.

Mas não esse David. Esse David estava simplesmente com uma bermuda caqui e uma camiseta cinza amassada, uma combinação um tanto ousada para ele. Sua barba parecia não ter sido feita há dias e seus cabelos estavam desgrenhados e arrepiados.

- David. - ela diz, se aproximando do cunhado e o abraçando. Por alguns segundos achou que ele estava soluçando, mas estava enganada.

Quando se soltou do abraço, apresentou Brad, que lhe deu um aperto de mão. Ela estava morrendo de medo de perguntar como estava Koda. Porém, antes que ela abrisse a boca, avistou Dylan indo até eles segurando dois cafés do Starbucks.

- Dylan! - Ela se agarrou ao pescoço do moreno, que teve que fazer um certo malabarismo para se equilibrar com os dois copos de café nas mãos. Até agora, aquele foi o ponto alto do dia de Sophia. O perfume familiar de Dylan preencheu suas narinas, trazendo uma certa paz enquanto aquele abraço durou.

- Você lembra do Brad, certo? Ele se ofereceu para vir comigo para dar apoio. - ela diz, quando se soltou do abraço.
- Lembro sim. E aí, cara? - Dylan acenou com a cabeça.
- Beleza. - Brad disse, devolvendo o aceno.
- Comprei isso aqui para você e... - Dylan entregou um copo de café para Sophia, porém foi pego de surpresa quando Brad tomou o outro copo de sua mão. O qual ele havia comprado para ele mesmo.
- Valeu, Dylan. Estava precisando de um cafezinho mesmo. - O loiro disse, dando um gole.

Um clima estranhíssimo se formou ali, Dylan olhava incrédulo para o loiro, o xingando internamente de umas boas dezenas de palavrões. A verdade é que ele nunca foi com a cara de Brad. Mesmo antes de saber que sua namorada teria que contracenar com ele.

Brad Chastain tinha fama de mulherengo e ele fazia questão de reafirmar isso em cada entrevista, contando sempre na primeira oportunidade sobre suas aventuras sexuais e relacionamentos que duraram apenas dias ou horas... Porque Brad Chastain simplesmente não consegue se conter quando está ao redor de mulheres.

Dylan confiava plenamente em Sophia, mas nem um pouco nesse cara.

- Vamos indo, então? - David quebrou o silêncio, relembrando até mesmo da presença dele ali.
- Vamos. - Sophia pegou na mão de Dylan e fez um aceno para que Brad os acompanhasse.

Enquanto David colocava as bagagens no porta malas do seu carro, Dylan cochichou no ouvido de Sophia.

- Não era para ele o café. Era para mim.
- Eu sei, amor. Desculpe por isso. Ele... é estranho, às vezes.
- Estranho? - Dylan riu um pouco alto, atraindo os olhares de David e Brad para ele.

O grupo entrou naquele carro e partiu para a casa de Theresa, em silêncio. Sophia deitou a cabeça no ombro de Dylan, que por sua vez afagava os cabelos da amada. Brad foi no banco do carona, ele se mantinha distante, olhando para a janela, mas seu olhar não parecia se focar em nada.

Brad e Sophia apenas deixaram as bagagens na casa de Tess e trocaram de roupa, partindo novamente logo em seguida, direto para o hospital veterinário onde Koda estava. Se é que ele ainda estava.

No caminho, Sophia notou uma lágrima escorrendo do rosto de David. Ela tocou seu ombro e disse:

- David, não foi sua culpa. Aconteceu porque tinha que acontecer.

Realmente, Koda nunca foi o tipo de cachorro que gostava de brincar na rua e tentava fugir quando via um portão aberto. Sophia lembra de diversas vezes, em festas na casa de Theresa, onde ela o viu entrançando tranquilamente pelo jardim, enquanto o portão se mantinha aberto para que os convidados entrassem. Por que raios ele quis sair justo naquela hora?

David piscou algumas vezes e balançou a cabeça, ainda olhando para a frente. O trajeto permaneceu silencioso, ninguém realmente tinha nada a dizer, e naquele momento, era melhor guardar seus pensamentos para si.

Ao chegarem ao hospital veterinário, Sophia já não conseguia mais disfarçar seu nervosismo. Não queria ver Koda daquele jeito, ao passo que queria muito abraçá-lo uma última vez.

Ela se sentou apreensiva na sala de espera, com Dylan de um lado e Brad do outro, enquanto David foi falar com a atendente. Brad, que se manteve em silêncio desde que saíram da casa de Theresa, finalmente quebrou o silêncio:

- Vou fazer uma oração pelo Koda. Vai ficar tudo bem.
- Obrigada, Brad. Por estar aqui.

Ele dá um sorriso acolhedor, sem mostrar os dentes e aperta o ombro dela.

- Sophia, você pode entrar para vê-lo. - David disse quando voltou do balcão. Sophia olhou para Dylan, que pegou na mão dela e depositou um beijo.

Ela respirou fundo antes de se levantar. Era o começo do fim.

𝑩𝑹𝑶𝑲𝑬𝑵 𝑷𝑹𝑶𝑴𝑰𝑺𝑬𝑺Onde histórias criam vida. Descubra agora