Capítulo 27 • A cena

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Ainda sentada à beira da cama e encarando um ponto fixo confortável aos olhos, Sophia puxa o ar com a boca e solta lentamente, fechando os olhos em seguida. Ela teria que tomar café logo ou chegaria atrasada para as gravações, mas esse dia em especial seria difícil de enfrentar.

Estava frio e nublado enquanto ela deixava o trailer envolta em seu cardigã. Tudo que acontecera na noite passada era repassado em sua mente, muitas e muitas vezes, o que a deixou andando por aí quase que em piloto automático. De tão distraída, acabou esbarrando com Holland e seus pensamentos foram interrompidos. 

— Ai, caramba, me desculpa, Soph. — a ruiva diz.
— Imagina, eu que estava distraída.
— Tá tudo bem?
— Sim, sim. E com você?
— Não perguntei por causa da esbarrada.

Sophia a encara, tentando se manter inexpressiva porém falhando miseravelmente.

— Sophia, eu te conheço. — a ruiva insistiu.
— Ontem aconteceu uma coisa. Não é nada demais, mas... Não sei.
— Desembucha.

Sophia respira fundo.

— Sabe, eu tenho astrofobia, que é basicamente... Fobia a trovões e relâmpagos. Por favor, não me julgue.
— Ai, Sophia, claro que não vou te julgar. Fobias são coisas sérias.
— Obrigada. Bom, o Dylan já sabia disso e ontem estava um temporal de madrugada. Ele me perguntou por mensagem se eu estava bem e eu... Bem, eu disse que não estava e ele veio ao meu trailer e ficou lá comigo até o temporal passar, nós... Nós dormimos juntos.
— O QUÊ?
— Não do jeito que você tá pensando. Nós realmente dormimos, eu na cama e ele numa cadeira ao lado. Quando acordei ele já não estava mais lá.
— Ah. Wow. Dylan é um bom amigo.
— Holl, isso não tem nada demais, né?
— Não, não tem.

Sophia para e pensa bem antes de fazer a próxima pergunta, precisava externar isso antes que a matasse.

— Então por que, na minha cabeça, foi alguma coisa?
— Você acha que foi errado? Traição?
— Não... Bom, quase. Eu não sei. Eu me sinto culpada.
— Por que?
— Eu não sei.

Mas Sophia sabia, sabia muito bem.

Ela repetiu a noite anterior incontáveis vezes em sua mente desde que acordou. Cada abraço de Dylan era como se ela estivesse em 2016 novamente, quando podia fixar nele seu porto seguro e nada mais ali lhe faria mal. 

Ela poderia negar até para si mesma, mas o fato dele lembrar de sua fobia e vir ficar com ela, mexeu um pouco nas suas estruturas. Estava há quase dois anos construindo muralhas ao redor de si, voltadas completamente para Dylan.

Estava com raiva de si mesma. Com raiva de, apenas por ver Dylan, todos os sentimentos que ela achava que estavam mortos e enterrados, simplesmente voltavam com força total e ela ainda não conseguia controlar isso.

Desde a madrugada o cheiro de Dylan não havia saído da cabeça dela. E nossa, como aquele cheiro a acalmava e a trazia para casa. Um lugar que ela se sentia bem longe e fazia muito tempo.

Abraçar Dylan foi como voltar para casa.

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Alguns dias depois, chegou o momento que Sophia mais temia. Dentro de alguns minutos ela teria que ir para o set onde seria gravado o primeiro beijo dos personagens dela e de Dylan. Sophia estava tão inquieta que até mesmo Karina percebeu que havia algo a incomodando enquanto estava recebendo a maquiagem.

— Sophia, preciso que você fique quieta, assim não dá pra te maquiar. — Karina diz, depois da terceira tentativa de passar uma sombra de olho decente na menina.

𝑩𝑹𝑶𝑲𝑬𝑵 𝑷𝑹𝑶𝑴𝑰𝑺𝑬𝑺Onde histórias criam vida. Descubra agora