Capítulo 17 • A estrela

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Dylan foi deixado sozinho com Brad na sala de espera, o que por si só já foi responsável por criar um clima estranho. Naquele momento, era palpável o desconforto no ambiente. Não era como se Dylan já odiasse Brad, ele tinha algum desafeto, claro. Mas ele não queria ser esse tipo de cara.

No entanto, não podia negar que tudo nele o irritava. Uma moça passou por eles e lançou um sorriso para Brad, que a olhou de cima a baixo e devolveu o sorriso mordendo os lábios e passando as mãos nos cabelos, tentando ser sensual. O que aparentemente funcionou, pois a mulher solta uma risadinha antes de entrar numa sala.

A cena involuntariamente faz Dylan revirar os olhos. O loiro cruza a perna em cima do joelho, invadido um pouco do espaço pessoal de Dylan, algo que ele nem sequer percebeu e, se percebeu, resolveu se fingir de sonso, pois ele apenas começou a mexer seu celular.

- Brad, qual é a sua? - Dylan perguntou, pulando para a cadeira vizinha para ter mais espaço.

O loiro o olha e levanta as sobrancelhas como se não soubesse do que ele está falando. 'Sínico' pensou Dylan.

- Como assim?
- Você tem agido como um idiota. Eu realmente não sei qual é a sua, não sei se você é assim porque quer ou se tem algo contra mim. Por que você realmente veio?
- Vim apoiar uma amiga.
- Sério, Brad?
- Olha, cara, eu acho que é você que tem um problema comigo, mas...
- Fala sério, vocês nem são tão amigos assim.
- E você diz baseado em...?

Dylan se calou. Sim, ele realmente não tinha base alguma para falar isso. Na verdade, o fato de Sophia nunca falar muito dele o fez pensar que eles nunca foram muito próximos no set.

- Jantamos juntos, ensaiamos juntos e passamos quase que o dia inteiro juntos. - Brad continuou - E sabe do melhor? Nossos personagens são um par romântico. Sabe o que isso significa, não sabe, O'Brien?

Dylan estreitou os olhos na direção do loiro, ele mal podia acreditar no que acabou de ouvir. Ele não disse aquilo, disse? Esse filho da mãe tem sim planos pretensiosos para Sophia.

- Você nunca vai conseguir destruir o que eu tenho com a Sophia. Eu a amo e ela me ama.
- Bom, dizem que os amores em Hollywood estão cada vez mais... passageiros.
- Vai se foder! - Dylan disse, levantando seu tom de voz, o que acaba chamando atenção das pessoas presentes ali na recepção.

Ao perceber o que fez, ele fecha a cara e se dirige para o lado de fora da clínica, deixando Brad com um sorriso sínico para trás. Dylan se senta num batente da escada, furioso. Parecia que cada célula do seu corpo estava carregada de ódio.

Só voltaria para lá se Sophia o chamasse. Ele sabia o quanto aquele dia estava sendo delicado para Sophia, não queria tornar as coisas ainda mais difíceis, mas se ele chegasse perto daquele loiro oxigenado de novo, seria para meter um soco naquele rostinho artificial.

Seria um longo, longo dia.

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Lá dentro, onde Koda estava, a história era outra. Sophia entrou em uma das últimas salas do corredor e logo deu de cara com Theresa, quando abriu a porta.

- Já ia procurar por você. - ela diz, dando alguns passos para trás. Theresa estava com os olhos inchados e vermelhos, Sophia deduziu que ela esteve chorando pouco antes.

Não havia nada que Sophia quisesse fazer mais do que o que ela fez em seguida: abraçou Theresa com toda a sua força, a acomodando em seu ombro e deixando que ela soluçasse o quanto quisesse.

Não havia muitos momentos iguais a esse que ela se lembrasse. Era sempre Theresa a acolhendo, a protegendo, sendo a irmã mais velha. Nunca houve uma ocasião em que ela pudesse retribuir isso.

Theresa era a pessoa mais forte que ela conhecia. Ela escolheu a medicina em parte por isso. A morte não a abalava tanto assim, estava acostumada a lidar com a iminência dela o tempo inteiro em seu trabalho.

Vê-la assim, desabando em seus braços, quase fazia com que Sophia se desesperasse. Significava que as coisas saíram do controle da mais velha, que sempre sentiu a necessidade de ser a base daquela família. Era sempre ela quem era forte por todo mundo, quem segurava as pontas, a cola que os unia.

Sophia percebeu isso desde que elas eram crianças. Por ser mais nova, muitas vezes não entendia as crises que a família passava. Mas Theresa entendia. E quando ela estava agindo diferente, com olhar preocupado ou tentando distrai-la de algum jeito, ela sabia que havia algo acontecendo.

Foi assim quando o avô delas morreu no meio da madrugada, quando Sophia tinha seis anos e Theresa dez.

Sophia acordou, olhou para a cama ao lado e não encontrou a irmã. Ouviu seus pais falando alto, passos de um lado para o outro, e então se levantou. Mas antes que fizesse qualquer coisa, Theresa entrou no quarto e pegou na sua mão, a levando de volta para a cama.
- Não vá para lá. - a pequena de cabelos loiros e encaracolados cochichou.
- O que aconteceu? - uma Sophia ainda menor perguntou.

Theresa respirou fundo.

- Vovô foi para o céu.

A verdade é que o avô delas estava morto na sala de estar, na mesma poltrona que ele sempre se sentava para ver seus telejornais noturnos. A cabeça caída para o lado, como se estivesse dormindo. Theresa viu a cena, toda ela. Até os dias atuais ela mantém essa imagem na cabeça juntamente com a sensação do baque ao vê-lo daquele jeito.

Mas ela protegeu Sophia disso, porque sentia que essa era a função dela. Era o que deveria fazer. E agora lá estava ela, buscando conforto nos braços daquela a quem sempre protegeu.

Ela soltou a irmã, deixando que Sophia se aproximasse de Koda. A pequena bola de pelos marrom estava desacordada, fazendo com que Sophia temesse que ele já estivesse...

- Ele está sedado. - Theresa disse, a voz rouca de tanto chorar. Sophia soltou o ar, aliviada. Ela se aproximou e acariciou Koda.

- Sinto muito, amigão. - Sophia disse. - Você foi um cachorro extraordinário...Lembra do quanto a vovó adorava escovar seu pelo? E das nossas pequenas aventuras na fazenda? Você nem entendia o que eu estava fazendo, mas me acompanhava mesmo assim. Lembra de quando você era filhote e Theresa ficava surtando a cada vez que você chegava perto de alguma planta do jardim, com medo de você comê-las e acabar com dor de barriga?

Theresa deixa uma pequena risada escapar nessa hora, que acaba se misturando com mais uma onda de lágrimas. Sophia sorri, apesar dos olhos marejados.

- Você não tem ideia do quanto a gente te amou desde que te vimos pela primeira vez...Droga, espero que tenha.

Àquela altura, Theresa já estava com o rosto enfiado entre as mãos para esconder que novamente estava chorando. Sophia também, mas ela deixava que as lágrimas rolassem. Era necessário.

- A gente te ama muito, peludinho. Obrigado por tudo, tudo mesmo. Nunca vamos te esquecer. - Sophia diz, fazendo uma pausa para enxugar uma lágrima. - Quando encontrar a vovó e o vovô aonde você for, diga que também sentimos a falta deles. Cuida deles por nós.

E Koda se foi na metade da tarde daquele sábado.

Os pais das garotas os encontraram ainda na clínica veterinária, ainda puderam ver o coração de Koda dar suas últimas batidas, mas ele já não estava mais ali bem antes disso. Levaram-no para a casa de Theresa, novamente uma viagem silenciosa. Tess e Sophia não tinham sequer mais lágrimas no estoque para derramar.

Fizeram um funeral para ele, todos segurando velas, em silêncio, enquanto David cobria o pequeno caixão com terra. Ao final, Sophia, Theresa e sua mãe colocaram, cada uma, uma flor de hibisco amarelo, a planta favorita de Koda no jardim. A que ele mais gostava de deitar-se embaixo.

Mais tarde, o grupo estava reunido na área externa da casa, em silêncio, ouvindo David dedilhando qualquer coisa no violão.

- Mamãe daria tudo para estar aqui. - disse Brianna, a mãe das garotas.
- Ela sempre dizia que queria estar com Koda até o fim. - Theresa completou.

O silêncio tomou de conta novamente, onde o barulho da noite, o qual Sophia sempre adorava ouvir, se misturava com a melodia que David dedilhava no violão. O céu quase nada estrelado de Los Angeles parecia ter ganhado uma estrela a mais.

Uma estrela que fazia toda a diferença.

𝑩𝑹𝑶𝑲𝑬𝑵 𝑷𝑹𝑶𝑴𝑰𝑺𝑬𝑺Onde histórias criam vida. Descubra agora