Capítulo 29 • O bilhete

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- É aqui, senhor. - Sophia indica ao taxista a entrada da mansão de Dylan.

Ela não sabia quando e nem como, mas todo o nervosismo simplesmente desapareceu e foi substituído pela determinação para achar Dylan. Só voltaria para aquele set depois de conversar com ele.

Ela toca o interfone e aguarda. Quase um minuto se passa e nenhuma resposta, então ela toca novamente.

- O quê? - a voz inconfundível de Dylan surge do outro lado da linha, impaciente.
- Dylan, deixa eu falar com você, por favor.
- Sophia, olha, eu realmente...
- Sei que não quer ver ninguém, sei disso. Mas você esteve lá para mim quando eu precisei de você, quando eu estava mal e com medo. Você esteve comigo e eu quero estar com você. Me deixa entrar, por favor.

O silêncio se fez do outro lado da linha até Sophia ouvir um barulho de portão destrancando, o que a faz sorrir. A entrada era uma subida um pouco árdua se você está a pé, mas ela logo encontra Dylan sentado na área externa da casa, com um cigarro na boca.

Ele não tinha resquícios de cara de choro, nem nada do tipo. Apenas a cara fechada. Sophia sabia que deveria fazer isso com cautela.

- Oi, Dyl. - ela diz, sentando-se ao lado dele. Ele a segue com o olhar e então desvia, encarando o chão dessa vez.
- O que o Jeff disse?
- Isso não importa agora.
- É claro que importa, Sophia. É o meu trabalho. Eu não consigo mais fazer o meu trabalho e isso é uma merda.
- É a sua saúde mental, Dylan. Olha, eu vou pedir para o Jeff mudar o roteiro, vou pedir pra ele desistir dessa história de par romântico. É tudo culpa minha, você só aceitou porque eu aceitei e...
- Eu não aceitei porque você aceitou. Eu aceitei porque... Eu queria...

Dylan sabia que tinha chegado à beira de um abismo e agora estava caindo. Ele só tinha que escolher entre aceitar cair ou lutar inutilmente contra. Sophia levantou as sobrancelhas para que ele continuasse a falar, não tinha mais volta.

- Eu aceitei mais como uma desculpa pra mim mesmo, para ter algum tipo de contato com você. Foi egoísta e imaturo, eu sei. Me desculpa. Só que agora, eu mesmo cheguei à conclusão que não dá mais. Não aguento apenas fingir estar com você sem estar de verdade. Dói demais, Sophia, eu não consigo.

Quando ele termina de falar, parece que parte da energia ruim acumulada em seu peito se esvaiu junto. Seus ombros caem em alívio, mas ele ainda não consegue encarar a menina de volta. Permanece com o olhar fixo num ponto qualquer até achar estranho o silêncio de Sophia.

Resolve levantar seu olhar para ela e se surpreende ao ver algumas lágrimas descendo pelo seu rosto.

- Por que você faz isso, Dylan? - Sophia diz, tentando não se deixar levar pelo choro.
- E-eu...
- Você me larga duas vezes, sem conversar, sem aviso, sem dar uma chance para que eu me explicasse, para que eu falasse o que estava sentindo. Por duas vezes, você se importou só com você mesmo, com o que VOCÊ estava sentindo. Passou um ano inteiro sem falar comigo, eu sigo em frente e de repente você surge novamente dizendo que não aguenta... ARGH!

Sophia se levanta bruscamente e joga uma almofada no chão, com força. Dylan se encolhe todo. Ela enxuga as lágrimas e começa a andar para lá e para cá com as mãos nas têmporas, como se isso a acalmasse. Não acalmava.

- Por duas vezes, Dylan, você não deu uma chance ao nosso relacionamento. Você não ME deu uma chance. Duas vezes. Parecia que você nem fazia questão.
- Não era a minha intenção, Sophia...
- Bom, mas foi o que ficou parecendo. Todo mundo viu que você simplesmente me abandonou, sem atender minhas ligações, sem responder minhas mensagens...
- Eu deixei um bilhete para você da última vez.

𝑩𝑹𝑶𝑲𝑬𝑵 𝑷𝑹𝑶𝑴𝑰𝑺𝑬𝑺Onde histórias criam vida. Descubra agora