Capítulo 1

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Boston, Massachusetts – 2020

Ser editora-chefe fazia com que todos respeitassem Susan, quem preferia ser chamada de Sue desde que Susan a fazia recordar o passado, e não havia nada mais triste do que recordar o passado e pensar no quanto perdera, desde o lugar onde nascera até a família, e alguém que havia sido como família desde a morte de seus pais e irmãos.

Os anos haviam se passado desde então, e tudo havia mudado. Muito mais, a vida de Sue havia mudado. A vinda para Boston foi o que precisava e não sabia, até sobreviver ao primeiro ano na cidade. Com a descoberta do que era novo, e seguindo uma paixão que sempre manteve, como a leitura e a escrita, Sue se atreveu a viver o máximo que pôde e arriscar o máximo que pôde. Mas a parte mais difícil era que com todas as fases que a fizeram arriscar, perdera algo que não sabia como recuperar: um lar.

Ainda com a perda de um lar, estava onde estava, possuía o emprego que possuía, conquistara o respeito que nunca sonhara em conquistar, fora ouvida e lida incontáveis vezes. Tornara-se responsável por uma das editoras mais renomadas do país, apesar de tudo o que carregava como bagagem. Porém, como em alguns dias em que se não está de todo, bem, Sue não estava bem.

Com o pensamento distante naquela manhã, Sue não estava prestando atenção em nada. As palavras que diziam a ela estavam cada vez mais distantes, como o alguém em quem sempre pensava e aquela sensação familiar nunca indo embora, até que um aceno surgiu diante de sua visão, chamando-a de volta ao mundo real:

- Sue, onde está o pensamento? Volte para a Terra.

- Desculpe, eu... – Negou com a cabeça e voltou a encarar o rapaz à sua frente. – Sobre o quê estávamos falando? Acho que me desconcentrei.

- Está tudo bem? Você parece não ter tido uma boa noite.

- Estou cansada. Algumas leituras em excesso durante toda a noite. Responsabilidades. Nada de mais. Então, o que dizia? – Voltou à concentração para o mundo real, buscando largar de uma vez os pensamentos que a faziam voltar a uma dor que não pensava em deixá-la há anos.

- Você precisa fazer algo importante. Dependemos de você, na verdade – O rapaz falou sério, o tom de voz fez com que Sue arqueasse a sobrancelha em preocupação.

- Algo importante? Qual o problema dessa vez?

- Você é a editora-chefe. Precisamos que vá além de uma editora-chefe. Que seja a única que pode convencer um escritor em particular a publicar um trabalho. É de extrema importância, na verdade, que isso aconteça.

- De quem está falando? Esse não é, necessariamente, meu dever.

- Você é a editora-chefe! – Continuava a repetir como se o fato da mulher ser o que é, tivesse algum peso sobre qualquer escritor; e o assistente continuou, pedindo:

- Sue, você têm uma mente perfeita para reconhecer grandes talentos quando os lê. A questão é que temos esta moça. Ela é literalmente a melhor que podemos ter. Você ama poemas. É o seu estilo favorito de escrita. Uma poetisa pode reconhecer a outra. Você provavelmente já estivera no lugar dela.

- Eu não sei do que você está falando – Sue levantou da cadeira abruptamente. Detestava a ideia de se sentir vulnerável ou invadida por qualquer pessoa, especialmente no trabalho. Detestava a ideia de que soubessem sua paixão pela poesia, ou de onde viera: era uma das razões para não ser conhecida ou chamada de Susan; era Sue, editora-chefe, e não pretendia voltar atrás, ser aquela que escrevia tudo o que sentia, pensava e vivia. Nunca mais voltaria a ser esta Sue desde que recebera uma carta em particular.

Only hope afterlifeWhere stories live. Discover now