Capítulo 5

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Estava sendo o segundo dia de Sue na cidade natal. Estranho, porém, passara um dia em um quarto de Hotel processando os sentimentos do dia anterior. Tudo estava intenso, nunca achou que voltar ao passado fosse atingi-la tanto. Ao decidir que não poderia mais fugir, já era um tanto quanto tarde para voltar atrás e refazer os passos.

Era inicio da manhã e o dia estava levemente nublado. Quase frio. Sue refez os passos que não deveria e se viu cega por somente uma direção. Havia este casarão antigo, a arquitetura era uma das mais velhas da cidade. Ao parar diante desta depois de anos, a moça engoliu em seco. Não sabia mais precisamente o que encontraria ao caminhar pelo jardim da casa da família Dickinson. Mas já havia demorado tempo o suficiente para fazê-lo. Ao fazer menção de bater à porta, esta se abriu e de lá surgiu uma mulher de cabelos loiros, quase como se estivesse esperando para recebê-la, surpreendendo-a:

- Sue Gilbert? O que está fazendo aqui? Digo... Quanto tempo!

Lavínia Dickinson lançou-se nos braços de Sue, apertando-a fortemente. A reação de Sue não foi uma reação agradável visto que não esperava por um abraço, uma recepção. Nem mesmo esperava encontrar alguém da família – apesar de ser estranho, dado o fato de que aquela era uma casa antiga, a sombra de um legado. Como iriam apagar a memória da grande família Dickinson?

- Lavínia – Respondeu depois do que pareceu uma eternidade, Sue que sentiu tremer nos braços daquela que a apertava calorosamente. Poderia jurar estar sentindo o coração pulsar em seu ouvido, o barulho ensurdecedor.

- Gilbert! Por onde esteve todo esse tempo? – A soltou apesar de manter as mãos segurando os dedos da outra, que sentia o corpo frio. – Olhe só para você! Belíssima! Olhe só, está roupa! Oh, por Deus! Que falta de educação da minha. Entre, vamos, vamos...

Lavínia não esperou Sue dizer uma só palavra, puxando-a pela mão e a levando para dentro de uma casa mais do que familiar. Tudo ali era caro, bonito, grande. Era uma mansão. Sue sentia-se minúscula perto da riqueza que havia ali. O silêncio pareceu ensurdecê-la enquanto parada no hall de entrada, deixava Lavínia arrancar dela seu casaco, sua bolsa, seu cachecol.

Era como se nada tivesse mudado.

Exceto que tudo havia mudado. Nada mais era igual como quando era adolescente tentando realizar sonhos, criar esperanças de que poderia ter uma vida melhor.

- Onde estão todos? – Perguntou finalmente após chegar à sala de visitas; havia as pinturas da família Dickinson e havia fotos em preto e branco. Mas ainda uma peça faltando. – Tudo parece está um pouco...

- Silencioso demais, não é? – Lavínia deu um meio sorriso ao sentar-se, apontando o lugar ao seu lado para que a outra se juntasse a ela. – As coisas mudaram muito, Sue.

- Onde estão seus pais?

- Mortos – Disse a loira num tom mórbido que não lhe pertencia.

- Seus pais? Mortos? Como... Lavínia, eu... Eu sinto muito!

- Está tudo bem, querida. Está tudo bem. Já estou acostumada.

- Eu sinto muito. Nunca imaginei que... Perdão – Sue se desculpava por não ter estado lá para a família. Mas pelo olhar que Lavínia lhe dera, sabia que esta a compreendera.

- Está tudo bem. Na verdade, tudo aconteceu rápido. Alguns anos depois que Emily foi embora. Meus pais não aguentaram todo o desgosto. Foi demais para eles.

- Espere. O que disse?

Sue estava um pouco tonta. Todas as informações estavam começando a sobrecarrega-la. As memórias estavam embaralhadas. O coração estava apertado e a pressão em seus ouvidos era forte, quando pares de palavras foram um pouco mais fortes do que a pressão em seus tímpanos, fazendo-a despertar, os olhos em alertas, os dedos apertando uns os outros, suados.

Only hope afterlifeWhere stories live. Discover now