Lucky Strike

Quindici

Point of View Alessia Sarri
Turim, Itália - 12 de abril de 2020

Eu sempre cresci com o pensamento de que nada acontece por acaso. Durante esses dias de terror e pânico no mundo inteiro e, principalmente, na Itália eu tive ainda mais a certeza disso. Apesar de não frequentar à Igreja todo domingo, como muitos católicos fazem, eu sou católica e eu não consigo acreditar que Deus está fazendo o mundo inteiro sofrer em vão. Algumas coisas eu já consigo ver, como o fato de estarmos confinados com nossas famílias e amigos queridos, buscando mais à união. A solidariedade, que hoje em dia é uma das coisas mais importantes e que todos nós estamos buscando realizar através de ações mínimas...

Os dias nublados ainda persistiam em permanecer na Itália. Apesar de tudo, os pensamentos positivos de que tudo melhoraria, em breve, vive no coração de cada um que mora nesse país. Hoje é domingo de Páscoa. A cidade vive um deserto completamente pavoroso. Meu pai e Paulo ficaram de fazer o almoço, enquanto eu fiz a sobremesa.

- Hoje é sua primeira Páscoa, meu amor... - eu digo e ela sorri para mim. - Pois é, filha. Sua primeira Páscoa e amanhã você faz 7 meses. - eu digo e ela sorri banguela para mim, me fazendo sorrir ainda mais. - Vamos fazer uma surpresa para o vovô e para o tio Paulo? - eu pergunto e ela ri, como se estivesse entendendo algo.

Pego minha gorducha no colo e vou caminhando com ela no corredor em direção à escada. De lá de cima mesmo, grito para que os dois pudessem sentar no sofá e fecharem os olhos para uma surpresa especial.

- Pode vir! - meu pai diz e eu rio enquanto desço as escadas com Chiara em meu colo. Sorrio ao ver os dois sentados no sofá de olhos fechados.
- Podem abrir... - eu digo e lentamente eles abrem os olhos. - Surpresa! - eu digo quando eles olham para Chiara e veem minha bebê linda vestida de coelhinha.
- Eu não estou acreditando nisso! - meu pai diz encantado ao ver a bebê, gorducha, com quase 7 meses vestida de coelhinha.
- É a coelhinha mais linda que eu vi! - Paulo diz encantado enquanto pegava minha filha no colo.

Pois é, esqueci de contar isso. Nos últimos dias Paulo se aproximou consideravelmente de Chiara. Acho que no primeiro momento ele tinha um receio de se aproximar demais e acabar assustando minha filha, o que não faria tanto sentido. Mas nos últimos dias, ele passou a engatinhar com ela pela casa e até aprendeu a trocar fralda para que, segundo ele, em uma eventual emergência ele pudesse me ajudar.

- Eu estou com fome... - cantarolo enquanto olho para meu pai, que ri entendendo o recado.
- Já está quase pronto, senhorita esfomeada. - ele diz e Paulo ri enquanto eu reviro os olhos.

Após alguns minutos o almoço finalmente foi servido. Conversávamos sobre vários assuntos durante a refeição, inclusive sobre os progressos que Chiara havia dado na última semana. Minha pequena começou a comer fruta e estava amando. Obviamente ela ainda não comia muito, mas era ainda o início da introdução alimentar dela.

- Estou muito ansioso para a sobremesa. - meu pai diz e eu sorrio para ele.
- Preciso confessar que estou morrendo de medo dos dotes culinários dessa pessoa. - Paulo diz, sem perder a oportunidade de fazer uma gracinha, me fazendo revirar os olhos enquanto meu pai ri.
- Você é tão comediante, argentino, deveria trabalhar no circo. - eu digo com a boca pingando de sarcasmo, fazendo ele rir alto.
- E você deveria trabalhar desfilando em passarelas. - ele diz e eu reviro os olhos.
- Eu concordo. - meu pai diz e eu reviro os olhos novamente.
- Eu tenho 1,60. Aonde eu posso desfilar? - eu pergunto e eles riem.
- Eu esqueci que você é uma anã de jardim. - o jogador diz, fazendo com que eu olhe para ele chocada.
- Essa sua vai direto para meu caderninho. Me aguarde, querido. - eu digo maléfica, vendo ele me olhar com os olhos arregalados.