—VOCÊ quer uma explicação? Quer saber por que estou usando seu nome, um
nome ao qual "não tenho direito"? Você ficou muito arrogante desde que trocou o
Anderson pelo Alcolar! — Se você quer dizer que não me curvo mais diante da senhora da mansão — retrucou Alex —, não o faço diante de mais ninguém. Então, vai me explicar por que de
repente resolveu declarar que era minha mulher?
— Eu lhe disse...
A boca larga e sensual de Alex se torceu cinicamente enquanto seus olhos
cinzentos a olhavam com displicência. — Você me disse que "nada aconteceu". — Subitamente, enquanto Louise reunia
forças e elementos para responder, ele a surpreendeu com um sorriso paralisante, os
olhos frios como gelo. — Muito bem — disse. — Se é assim que você quer...
Para horror de Louise ele se voltou e caminhou para a porta.
Será que ela o deixaria ir? pensou ele. Ou iria fraquejar e o chamaria de volta?
Percebera as sombras que encobriam os olhos dela, e se perguntava o que as teria
causado.
Em poucos passos, alcançou a maçaneta da porta e a abriu.
Atrás de si, ouviu um suspiro rouco e profundo.
— Alex, por favor... Eu... preciso de sua ajuda. — AFINAL, onde estamos indo?
A paciência de Alex estava se esgotando. Quando Louise admitira a necessidade
de sua ajuda, ele pensou que finalmente chegariam a algum lugar. Mas ela não
explicou nada. Pelo contrário, pegou um casaco no cabide de entrada e lhe pediu que a
acompanhasse através do vento cortante e da forte chuva daquela tarde de janeiro.
— Você vai ver quando chegarmos lá.
Tudo bem, deixea ser misteriosa. Não precisava acompanhála se não quisesse.
Mas o percurso resgatou algumas recordações. Recordações que indicavam que
estavam a caminho da mansão.Percorrera essa estrada diversas vezes quando jovem. Esse era o caminho que
fazia quase todos os dias quando trabalhava como jardineiro, e sua mãe como
governanta.
E também já fizera aquele caminho acompanhado por Louise. O breve caso de
amor tivera de ser mantido em segredo, pelo temor de que fossem descobertos pelos
pais dela.
— Esse carro é mesmo seu?
Louise sabia que falava apenas para romper o silêncio constrangedor. Tinha a
consciência perturbadora e aguçada da força e da presença de Alex ao seu lado. O
rapaz esguio que conhecera no passado se tornara um homem másculo e vigoroso. O
vento forte jogara seus cabelos pretos sobre a testa e pequenas gotas brilhantes de
chuva cintilavam entre os fios negros.
— Certamente eu não o roubei, se é isso que você está pensando.
— Jamais pensaria isso!
Sua consciência a advertia de que só tinha o direito de culpar a si mesma pelo
tom irônico na resposta que ele dera. — Eu devia ter confiado em você — falou rapidamente antes que a coragem a
abandonasse.
— O quê?
Louise respirou com dificuldade, tentando acalmar as centenas de agulhas que
pareciam espetar todo o seu corpo.
— Eu devia saber que você não tinha roubado as jóias de minha madrasta.
Deveria ter escutado seu coração, e não a razão.
Mas também era verdade que seu coração frágil e tolo não era confiável. Seu
coração lhe dissera que Alex era o amor de sua vida, o homem com quem queria
passar o resto de seus dias. Mas Alex conseguira o que realmente queria e, em
seguida, a abandonara.
Ela devia prever o que aconteceria naquela manhã, no dia após ter se entregado
a ele, quando acordou sozinha. O que ele lhe dissera quando foi encontrálo para
contar sobre sua gravidez? Foi bom, querida, mas não especial. E partira em seguida.
Fora viver na Espanha, sem pensar mais nela.
— Melissa estava cuspindo fogo, se me lembro bem.
O tom de naturalidade de Alex contrastava com a tensão de seu maxilar, com o
modo pelo qual cada linha de seu perfil se esticava sobre os ossos. A falta de
confiança de Louise fora uma traição que endurecera sua alma. — Acho que minha madrasta ficou muito desapontada quando descobriu que foi
Thoraton que roubou seus diamantes.
Ele controlou cuidadosamente o carro numa curva inesperada.
— Onde está ela agora?
Louise se moveu desajeitadamente no macio assento de couro, o que provocou
uma onda de perfume que aguçou os sentidos dele. Suas mãos se fecharam com força
contra o volante.
— Na Austrália. Ela se casou logo depois que meu pai morreu.
— Sim, ouvi falar nisso. Sinto muito.
— Foi de repente. Ataque cardíaco.
— Deve ter sido muito difícil para você.
Louise balbuciou algo que talvez pudesse ser uma concordância. A morte de seu
pai fora um grande choque, e também não estava preparada para os problemas que
vieram em seguida. Não tivera tempo de lastimálo antes que todo o seu mundo
desmoronasse.
— Vire aqui — disse ela para desviar sua própria atenção e para orientálo.— Pensei que fosse... que diabos?
Alex freou bruscamente, sem o cuidado ou a habilidade normais. Assim que o
carro parou ele pulou para fora, olhando em torno com descrença e confusão.
A grande mansão que fora tão amada e conservada agora se encontrava vazia e
abandonada. A hera que cobria uma das paredes crescia selvagemente e sem
controle, assim como o rastro de capim que cercava o cascalho do caminho de
entrada. O mato enchia os canteiros, e o roseiral, que fora o orgulho e alegria do pai de
Louise, era apenas um emaranhados de galhos secos.
Mas o que o chocou mais foi uma placa com a inscrição mal pintada: Propriedade
particular. Não entre! Invasores serão punidos.
— O que aconteceu?
Louise saiu do carro e parou ao lado dele, parecendo muito frágil e perdida
enquanto se encolhia dentro do casaco. — Geoff Thornton — disse ela desconsolada. — Quando saiu da prisão, voltou
para cá.
— E? — acrescentou Alex, porque sabia que devia haver uma continuidade. — E conseguiu algum dinheiro, legal ou ilegalmente, não sei bem. Montou um
cassino aqui.
Seus olhos amendoados, brilhando com as lágrimas, direcionaram para a
desolação da antiga casa, e Alex pensou compreender.
— Seu pai... — Não! — Ela o interrompeu balançando enfaticamente a cabeça, e seus cabelos
envolveram sua face pálida. — Não meu pai... Melissa. Ela se viciou na jogatina.
Perdeu grandes somas. Meu pai descobriu, pagou as dívidas, e ela prometeu que não
ia mais jogar.
— Mas jogou? — Sim — disse fracamente. — Aconteceu outra vez. E foi muito pior. Ela perdeu
uma fortuna, e Geoff Thornton queria receber seu dinheiro a qualquer custo. Acho que
o choque da notícia matou meu pai. Ela perdeu tudo. Só havia um modo de pagar a
ele...
— Dandolhe a mansão? — Sim. E Thornton não a queria para morar. A manteve simplesmente para que
se deteriorasse. Acho que era uma espécie de vingança porque o colocamos na
cadeia.
Mas Alex não ouvia mais. Lutava contra a onda de fúria que crescia dentro dele,
impedindoo de pensar.
A casa que fora da família Browning durante séculos. Louise sempre amara
aquela casa. Certa vez ela dissera que faria qualquer coisa para mantêla.
Qualquer coisa.
Incluindo se intitular como sua esposa?
Antes ela não achava que valia a pena têlo a seu lado. Agora que estava rico e
podia sustentar uma casa como essa....
Sentiuse enojado, furioso, usado.
—Essa ajuda que você precisa, querida... implica salvar a casa da família?
Implicava muito mais. Ela tinha sonhado tanta coisa para esta casa... Mas não
ousou contar a ele.
— Sim, implica — disse hesitante.
— E o que eu ganho com isso?
Louise engoliu em seco, forçandose a fitar aqueles olhos escuros. — O que você quiser — murmurou. — Peça o que quiser e, se possível, eu farei.
O que você tem em mente?O sorriso de Alex estava frio como o vento que os açoitava. — Ah, estou certo de que pensarei em algo.
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Marcas do Passado
RomanceESSE LIVRO NÃO É DE MINHA AUTORIA. DIREITOS TOTALMENTE RESERVADOS PRA KATE WALKER