ALEX parou o carro em frente ao chalé e ficou sentado por um momento, olhando
irritado para o outro carro já estacionado diante da casa de Louise.
Alguém chegara durante suas ausências, e ele não estava com humor para
conversas muito diplomáticas. Queria algumas respostas, e rápido. Muito menos eram
questões que queria discutir diante de quem quer que fosse.
Por um momento considerou a possibilidade de ir embora, mas mudou de idéia.
Queria resolver tudo o mais depressa possível.
Resolver?
Admita, disse a si mesmo enquanto saía do carro e batia a porta. Quando se
tratava de Louise, nada jamais poderia ser resolvido.
Pensara têla esquecido quando deixou a cidade e foi para a Espanha, mas
estava apenas enganando a si mesmo. Sua volta era a prova disso. Em apenas cinco
minutos ela se apoderara dele como nunca, e foi forçado a admitir que não morrera o
que sentia por ela. Vêla foi o bastante para reviver todo o desejo que sentira quando
se conheceram. Um desejo que o tomou com tal violência que o obrigava a passar
noites às voltas com sonhos eróticos e selvagens com ela, acordando excitado e
ansioso. Estar em sua presença o faria sentir como se os anos que passara longe não
tivessem existido, o reduzindo novamente ao mesmo estado de ansiedade e volúpia do
jovem de 19 anos que a conhecera.
Por isso estava de volta.
Disse a si mesmo que, agora que sabia o que Louise esperava dele, podia fazer
as malas e dar o fora, e bem rápido. Tudo o que ela via nele era um homem rico que
podia recuperar sua preciosa mansão e a glória antiga da família Browning. Iria se
deixar usar desse modo?
De jeito algum!
Fora o que dissera a si mesmo três dias antes. Iria pegar o próximo vôo para a
Espanha e...
E aqui estava ele novamente diante da porta da casa de Louise.
Amaldiçoou sua própria estupidez, disse a si mesmo que era um tolo. Mas não
conseguiu tirar Louise Browning da cabeça durante oito longos anos e devia encarar a
evidência de que não conseguiria fazêlo agora.
Ao levantar a mão para fechar a porta que estava levemente encostada, ouviu o
som de vozes alteradas vindo da casa.
— Mas eu lhe disse...
— Sei o que você me disse, querida, mas não é verdade, não é mesmo?
Era nitidamente a voz de Louise, e outra voz, rouca, masculina, que ele
reconheceu imediatamente, embora fizesse muito tempo que não ouvia. Geoff
Thornton.
O homem que um dia acreditara ser seu amigo, mas que se provara exatamente
o contrário.
— Você não pode me dar mais alguns dias?
Louise fitou o rosto perturbadoramente frio do homem à sua frente, se encolhendo
intimidada ao ver a crueldade implacável nele estampada. — Você já teve todo o tempo que pediu. Ou paga no final., do mês, ou então...
— Mas eu já lhe disse...
Há três dias ela tivera esperanças... mas desde então não tivera notícias de Alex,
e sua improvável chance de solução se transformara em cinzas, desfazendose
totalmente. — Ah, eu sei o que você disse, querida. Uma declaração ridícula de que era
casada com Alex Alcolar. Logo com quem! Ele se encarregaria de tudo, você disse.
Francamente, não acredito numa só palavra. Se Alex pudesse vir em seu cavalo
branco para salvála, estaria aqui agora.
— Você contou a ele! Você escreveu aquela carta! — Escrevi, mas não aconteceu nada. Se ele é seu marido, como diz, onde diabos
está agora?
— Aqui.
Essa única palavra veio de trás dos dois, e fez com que Thornton se virasse
assustado, o recebendo com um palavrão. Louise não conseguiu fazer nada. Sua boca
se abriu, mas dela não saiu nenhum som.
— Desculpe o atraso, querida...
Alex se moveu rapidamente pelo aposento, dirigindo um olhar de desprezo a
Thornton enquanto passava por ele. Chegando até Louise, a deixou ainda mais
paralisada ao lhe dar um inesperado beijo rápido.
— Tive que atender um telefonema de última hora quando já estava saindo.
Se ela fosse capaz de pensar numa resposta, aquele beijo a apagaria totalmente
de sua mente. Isso e a palavra querida, inserida com um carinho aparentemente
genuíno, fizeram sua cabeça girar. Quando ele se colocou a seu lado e passou o braço
em torno de sua cintura, acolheu esse apoio com gratidão, sentindo subitamente que
suas pernas tremiam.
— Então...
Finalmente Alex se voltou e examinou o homem diante dele, com um olhar
intenso, cinzaazulado, frio e impenetrável.
— Vamos falar de negócios? — Alex... — começou Louise, mas ele a silenciou com um sorriso e um rápido
movimento de cabeça.
— Não, meu amor...
A doçura das palavras estava entremeada por uma dureza inflexível. Uma dureza
condizente com o brilho de advertência em seus olhos escuros, a alertando para não
ultrapassar o limite imaginário que ele havia traçado. — Nós já entramos em um acordo. Eu vou tratar disso. Deixe comigo. Gostaria
que você me fizesse um café. Estou com a boca seca...
O leve gesto que a afastou não permitiu outra opção, a não ser ir para a cozinha,
como ele queria. Qualquer tentativa de resistência resultaria apenas numa discussão
humilhante, uma discussão que Alex ganharia com a maior facilidade. Portanto, ela
cederia... por enquanto.
Ela até encheu a chaleira e acendeu o fogo. Mas ignorou a água que já fervia,
tentando escutar o que estava acontecendo na sala.
A espessura da porta e a distância do corredor entre os dois cômodos sufocavam
as palavras, e assim, tudo o que podia escutar era o som indistinto de duas vozes
diferentes. A de Thornton alta e ameaçadora, a de Alex calma e impassível. Louise
percebeu que apertava as mãos com força, ansiosamente, enfiando as unhas contra as
palmas macias. E quando achava que não podia mais suportar, ouviu a porta da frente
abrir e se bater com uma intensidade claramente raivosa. Logo a seguir ouviu o barulho
do motor e um carro descer a rua. Alex ou Thornton?
Uma rápida espiada pela janela lhe deu a resposta. O carro de Alex ainda estava
estacionado do lado de fora da casa.Um sentimento a invadiu, mas não foi capaz de identificar se era de alívio ou não.
Parecia que Alex havia se livrado de Thornton, mas isso queria dizer que ela se livrara
de todos os seus problemas para dar as boasvindas a novas dificuldades?
A expressão "sair do fogo para cair na fogueira" parecia soar em sua mente
enquanto se forçava a percorrer o corredor em direção à sala.
Alex estava de pé junto à enorme lareira, fitando as chamas com uma expressão
pensativa no rosto impenetrável. Virouse ao ouvir a porta se abrindo, e Louise parou
hesitante na soleira da porta.
— Ele se foi — disse, antecipando uma pergunta. — E não voltará.
— Tem certeza? Como você sabe? — Eu sei — interrompeu bruscamente. — Garantiu todo o dinheiro que poderia
conseguir de mim e deixei bem claro que, se ele tentar qualquer coisa novamente, há
uma série de informações que posso fornecer à polícia, informações que podem
devolvêlo à cadeia. Sim, pode estar certa de que ele se foi.
— Isso é maravilhoso.
Impulsivamente ela deu dois passos na direção dele, estendendo as mãos... e
então parou quando encontrou em seu belo rosto um olhar vazio e opaco. — Ele se foi — ele repetiu. — Você está livre dele. Agora tem que negociar comigo.
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Marcas do Passado
RomanceESSE LIVRO NÃO É DE MINHA AUTORIA. DIREITOS TOTALMENTE RESERVADOS PRA KATE WALKER