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A CASA de Alex na Andaluzia era o lugar mais bonito que Louise já vira.
Mas também o mais solitário.
Louise nunca se sentira tão isolada.
Não se sentira assim nem mesmo quando Alex deixara a cidade para viver uma nova vida na Espanha com sua família, quando estava sozinha e grávida. O mais próximo que chegara dessa sensação de desamparo foi nos dias que se seguiram à perda de seu bebê, o bebê de Alex —, quando sentiu que jamais voltaria a ser feliz.
Viera para a Espanha porque era necessário. Sabia agora que jamais deixar de amar Alex, e nunca deixaria. No passado, ela permitira que ele partisse porque não lhe 
restara uma outra opção. Desta vez Alex lhe pedira que viesse com ele, e depois do dia 
de amor que tiveram, sabia que morreria se ele partisse novamente.
Ela provocara um transtorno no hospital ao pedir sem antecedência todos os dias 
de folga a que tinha direito de uma vez só. Viera com ele.
Entretanto,  algo  mudara. Alex  não  era  mais  o  homem  que  se revelara  naquele 
dia.  O  amante  ardente  e  apaixonado  parecia  ter  desaparecido,  dando  lugar  a  um 
homem frio e reservado. Parecia não desejá­la mais. Ele não a beijara ou tocara nos 
últimos três dias desde que chegaram à Espanha.
Fizera  todo  o  possível  para  que  ela  se  sentisse  à  vontade.  Todas  as 
necessidades dela eram atendidas, cada desejo era satisfeito, alguns antes mesmo de 
serem manifestados. Todo luxo que podia desejar, e alguns  com que nunca  sonhou, 
estavam  à  sua  disposição.  O  que  só  fazia  acentuar  o  pouco  que  Alex  lhe  dava 
emocionalmente.
Essa falta de sentimento partia o coração de Louise.
— Louise? O que está fazendo? Minha família vai chegar a qualquer momento.
— Já estou indo.
Enquanto  ele  empurrava  a  porta  e  entrava,  ela  se  afastou  da  janela. A  simples 
visão dele, sua pele morena bronzeada contrastando com a camisa branca, as longas 
pernas  vestidas  em  calças  impecáveis,  era  suficiente  para  que  seu  coração  se 
contraísse.
Ela o amava desesperadamente, mas não tinha a menor idéia do que ele sentia 
por ela... se é que sentia alguma coisa.
— Há algo errado? — perguntou ele.
— Errado? Não.
A mentira inundou seus olhos de lágrimas amargas e a imagem dele se nublou.
— Então, por que você está se escondendo aqui?
O  tom  dele  fora  tão  direto  que  Louise  percebeu  que  não  podia  enganá­lo  tão 
facilmente. Precisava de uma explicação plausível ou ele não desistiria do assunto. — Pois bem. Se você quer saber, estou nervosa pelo encontro com seu pai. Ele 
lhe deu tanto... Não? — perguntou ela ao vê­lo sacudir a cabeça, irritado. — Mas eu 
pensei que seu pai... — Pois  pensou  errado.  Meu  pai  só  me  deu  o  apoio  de  que  eu  precisava. Uma 
vaga na universidade, um lugar na empresa onde eu pudesse começar uma carreira. 
Tudo o mais que tenho, consegui sozinho.
Isso era tão típico de Alex que ela não conseguiu evitar um leve sorriso. O orgulho 
nunca o deixara aceitar nada que lhe dessem com facilidade. Mesmo tendo um pai que 
podia  lhe  oferecer  o  que  quisesse,  ele  tinha  a  necessidade  de  conseguir  tudo  por  si 
mesmo.
— O que você disse a ele e aos seus irmãos sobre a minha presença?
O que poderia lhes dizer?, perguntou­se ele. Como poderia explicar algo que nem 
mesmo ele conseguia compreender?
Se  ele  soubesse  por  que  Louise  o  acompanhara,  as  coisas  teriam  outro 
significado.  Ou  não?  No  fundo,  a  verdade  é  que  não  queria  saber  a  resposta,  com 
medo de que pudesse contrariar o que esperava. — Eu não lhes disse nada — respondeu honestamente. —­ Apenas que você era 
uma visita vinda da Inglaterra, alguém que conheci no passado.
Alguém que conheci no passado. Isso soava tão desanimador. Parecia não haver 
qualquer expectativa nessas palavras. — Você... você lhes contou sobre a mansão? Sobre... —­ Esse é nosso segredo.É assunto nosso.
—­ Nunca poderei agradecer a você o suficiente. Se você não tivesse vindo em 
meu socorro, não sei o que faria. — Thomton certamente esperava mais do que pensei. Alex lutou para controlar a 
voz e mantê­la firme.
— Por que você não me contou a que ponto as coisas chegaram? — Eu... não tive coragem. Para falar a verdade, eu nem acreditava no que tinha 
acontecido.  Melissa  assinou  centenas  de  promissórias.  Eu  sabia  que  não  teria 
condições de pagar. Estava começando a achar que seria obrigada a aceitar a única 
saída que Thornton me impôs...
Ela tremeu violentamente apenas de pensar na proposta.
— A única saída.
Com  essas  palavras,  Alex  saltou  como  um  tigre  sobre  a  presa,  fazendo­a 
perceber o horror daquilo que revelara sem pensar. —  Que saída era essa? Louise! ­— acrescentou ameaçadoramente quando ela 
recuou, negando uma explicação. — Diga!
— Eu... eu não consigo... — Não — disse ele implacavelmente. — Mas Thornton conseguiu. Ele queria que 
você se tornasse amante dele. Que você pagasse a dívida com sexo. Quase o matei... 
Ainda posso...
— Por favor... não... está tudo acabado.
Acabado  para  ela,  admitiu  Alex,  mas  tinha  que  conviver  com  o  que  aquilo 
representava  para  ele.  Pagara  as  dívidas  de  Louise.  Devolvera  a  ela  sua  preciosa 
mansão e se assegurara de que Thornton jamais a incomodaria novamente.
E então ele a levara para a cama.
Assim o fizera porque a amava, porque todos os anos que estiveram separados 
não  haviam  sido  suficientes  para  tirá­la  do  pensamento.  Tentara  esquecê­la,  mas  a 
verdade é que jamais conseguiu.
E ela se submetera com boa vontade. Se entregara a ele sem reservas.
A questão residia em Louise achar que esta era a única maneira de agradecê­lo, 
assim  como  sugerira  Thornton,  esse  era  o  meio  pelo  qual  pretendia  obter  sua 
liberdade, mudando apenas o objeto de sua gratidão.
Ao  pensar  nessa  possibilidade,  Alex  sentiu  um  aperto  no  coração  e  não 
conseguiu encarar o rosto adorável da moça, por medo do que poderia encontrar ali. 
Virou  e  caminhou  em  direção  à  porta.  Pretendia  sair  antes  que  dissesse  algo  que 
pudesse revelar seus sentimentos.
A rapidez de seus movimentos provocou um golpe de ar que fez com que alguns 
papéis sobre a cama voassem para o chão.
— Perdão. Eu...
Parou instintivamente para apanhá­los.
— Não!
Louise  se precipitou,  tentando  impedi­lo,  desesperada.  Mas era  tarde. Os  olhos 
cinzentos e aguçados já percorriam a primeira página. Viu­o ficar livido, relancear os 
olhos em sua direção a encarar com surpresa e voltar a ler com nova intensidade.
Ela sabia que era tarde demais.

Marcas do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora