Capítulo 13 - Amigos

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A carruagem sacolejava suavemente de um lado para o outro na estrada. Apesar do horário, ainda fazia muito calor, denotando que o verão em Northumberland seria rigoroso como fora no ano anterior. Em compensação, todos seriam agraciados com dias radiantes e os ventos frescos que sopravam da fria vizinha Escócia.

Ao que tudo indicava, chegaria um belo verão.

Havia uma clara divisão dentro da diligência dos Bamborough: Queeny e Suzanne estavam sentadas de um lado, enquanto Christinie e Adelyn ocupavam o oposto. As irmãs seguiam rumo ao vilarejo para encomendar vestidos que usariam no baile de noivado. Eram raras as ocasiões em que todas saiam juntas e a atmosfera tensa explicava por si só a razão disso.

Estavam na estrada a algum tempo e tudo o que se ouvia era o som dos cavalos e das rodas contra o cascalho. As mais novas liam em conjunto um livro de poesias e trocavam comentários baixinho, ao passo que as mais velhas apenas se mantinham quietas e elegantemente endireitadas no encosto do banco. A única conversa que tiveram foi sobre o que pediriam a modelista e os tecidos que escolheriam para os novos vestidos. E então partilharam do silêncio.

Todas estavam impecavelmente arrumadas, até mesmo Christinie que não costumava usar vestidos, nem mesmo quando visitava o vilarejo com seu irmão. Todos já estavam acostumados em vê-la com trajes masculinos e, de certa forma, não davam mais importância. Era comum.

No entanto, daquela vez, ela resolveu seguir a recomendação de Adelyn e se vestir conforme a etiqueta mandava. Prendeu os cabelos ruivos em uma trança lateral e enfeitou com pequenas flores, e o vestido de musseline lilás caia-lhe perfeitamente. Sapatilhas de cetim nos pés.

A visão impecável de uma nobre.

A carruagem sacolejou mais um pouco. De longe, podia-se escutar os ruídos do vilarejo, crescendo e crescendo. Ruídos altos e cheios de expressividade. Ares diferentes do palácio.

Os olhares alheios recaíram sobre o brasão do duque assim que passaram a entrada do lugarejo. Todos ficaram tensos, pensando que se tratava do próprio, mas assim que Christinie debruçou na estreita janela e acenou alegremente para algumas crianças que corriam nos arredores, os ânimos se transformaram como em um passe de mágica.

Adelyn, apesar de um pouco mais tímida, também espiou do lado de fora. A animosidade do vilarejo sempre lhe encantava. Tinha crescido naquelas ruelas e conhecendo aquele povo. Não tanto quanto os gêmeos. Afinal, não tivera a mesma liberdade que os dois.

Mas não importava.

O cocheiro parou a carruagem em frente ao ateliê da modelista depois de cruzar a rua principal do mercado. Suzanne e Queeny ajeitaram os bonnets na cabeça, e desceram com a ajuda do homem logo que a portinhola foi aberta. Ele também ajudou as mais novas e deu uma risadinha no que Christinie pulou o último degrau de apoio e também sorriu. Então cochichou:

— Já que ficaremos um tempo ocupadas, pode sair para resolver o que precisar.

— Não acho que lady Suzanne gostaria...

— Ela sequer vai notar. – revirou os olhos – Pode ir. Eu me responsabilizo.

Charles, como se chamava o cocheiro, sorriu e sussurrou:

— Obrigado, sirist.

A modelista, senhora Graham, era uma escocesa de quarenta anos que abriu seu ateliê e se tornou a principal procura, não somente das mulheres do vilarejo, como das famílias nobres que moravam pela região. Confeccionava os mais belos vestidos, que se equiparavam aos trazidos de Londres, e também possuía os melhores tecidos. Tanto ingleses quanto escoceses.

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