Louise - Negociação

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— Eu não tenho direito de fazer ao menos uma escolha na minha vida? – brigo com meu pai.

— Minha filha, os 16 anos de uma princesa é algo mais que especial para a família real. Que tipo de rei seria eu se não fizesse uma festa para minha filha? – ele argumenta.

— Um rei que respeita as vontades da filha!

— Mas, meu amor, essa festa é justamente para você. Está na hora de alguém pedir a sua mão. Não sonha em se casar?

— Não!

— Ai, Louise, basta! Faremos essa festa, queira ou não!

— Que saco! – grito, me dirigindo ao meu quarto e batendo a porta.

— Amélia? Pode me deixar a sós comigo mesma, por gentileza?

— Claro, Vossa Alteza. Com licença. – diz, retirando-se do recinto.

Eu não aguento mais! Tudo o que eu queria, no mínimo, era escolher se quero casar ou não. Só tenho 15 anos, como vou escolher com quem quero me casar? Não conheço nenhum garoto dos outros reinos, maior parte da minha vida foi estudando em um internato só para garotas, porque é assim que funciona na realeza. Princesas apenas seguem regras e tradições. Nem no nosso próprio coração podemos mandar. Tudo com a família real é questão de negócios. Isso é um absurdo.

Dirijo-me ao banheiro e preparo um banho para mim. Só uma banheira quente para relaxar de uma discussão estressante como essa. Viajo nos meus pensamentos até que ouço alguém batendo na porta.

— Pode entrar, estou no banho!

A pessoa abre e vejo minha melhor amiga entrar com meu roupão.

— Eu sabia que você estaria aqui, qual o problema hoje?

— Adivinha

— Seu aniversário?

Assinto com a cabeça.

— Ai, Louie, acho que você deveria apenas aceitar. Não tem o que fazer.

Eu deito em minha cama, cansada dessa situação. Até que me surge uma ideia e dou um salto entre os travesseiros. Bianca me olha assustada.

— Eu conheço essa cara... Em que maluquice você está pensando, senhorita Louise?

— Bee! Eu tive a ideia perfeita!

— Ai, meu Deus, Louise. Não inventa de confrontar seu pai.

— Não vou confrontá-lo... irei sugerir um acordo...

— Louie, para de loucura! Você sabe como é seu pai! 

— Se um dia irei administrar esse reino, preciso aprender a negociar e fazer acordos. Ele deveria se orgulhar disso. Outra coisa: é apenas uma sugestão. E um pouco de chantagem emocional.

— Louie...

— Ai, Bianca, relaxa aí, vai! Vamos lá fora, tomar um chá. Daqui a pouco escurece e você terá que voltar para o seu castelo.

  Já é noite e estamos sentados na mesa, esperando meu pai. Não podemos comer até que ele se sente à mesa. Baboseiras reais.

Depois de um tempinho, vejo meu pai descendo as escadas e me preparo para comer. Meu pai se senta e começamos a refeição, sendo servidos pelos auxiliares de cozinha. Quando finalmente terminamos o jantar, eu decido falar com meu pai.

— Papai? Podemos conversar no escritório?

— Claro, minha filha. Agora?

— Sim, vamos.

Nos dirigimos ao escritório. Ele senta em sua cadeira, e eu permaneço em pé.

— Do que isso se trata, Lou?

— Meu aniversário.

Ele apoia a testa na mão, aborrecido.

— Louise, já não tivemos essa conversa?

— Posso falar?

Ele me olha, impaciente, e balança a cabeça, assentindo.

— O senhor sempre me disse para estar preparado a negociar, como futura rainha...

Ele continua me olhando, o que me deixa nervosa, mas não cedo ao nervosismo.

— Então, eu tenho uma sugestão para que nós dois cheguemos em nossos objetivos.

Ele levanta o rosto, mostrando mais interesse. Eu conserto minha postura novamente, mostrando mais confiança, mesmo morrendo de medo por dentro.

— Continuamos com a festa, porém, sem títulos, como se fossemos todos anônimos. Quero que meus futuros pretendentes queiram ficar comigo pela minha personalidade, não pelo interesse pelo meu reino ou por minhas riquezas. Além disso, eu terei um prazo maior para escolher meu futuro noivo, consequentemente, o futuro rei da França.

— E o que acontece se eu não aceitar?

— Eu me caso com o pior inimigo da França, e renuncio o trono, deixando-o para ele.

— Você não faria isso

Olho para ele, desafiando-o. Claro que não faria, mas um bom governante sabe blefar.

— Tudo bem. Mas o prazo será de 1 ano, nada mais que isso.

— Fechado. – digo, estendendo a mão.

Ele aperta minha mão e me abraça.

— Que orgulho da mulher que está se tornando. Dará uma ótima rainha. Agora, firme mais esse aperto de mão.

— Anotado.

— Já escolheu o tema da festa?

— Eu tinha esse direito também? Nem sabia...

— Engraçadinha. Vá dormir, amanhã podemos começar os preparativos.

Seven Minutes in HeavenOnde histórias criam vida. Descubra agora