2. Alexis Donavan

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Let's go get high

The road is long, we carry on,

try to have fun in the meantime

- Born To Die, Lana Del Rey

|4 meses antes|

É uma tarde de terça como qualquer outra.

O que quer dizer que estou no "círculo da superação" escutando a irritante da Hilary falar sobre ter chorado compulsivamente em cima de uma bolsa de dois mil dólares no final de semana.

O círculo da superação é a minha penitência. Literalmente.

Há dois meses o juiz bateu o martelo e transformou as minhas terças e sextas em um inferno pessoal.

Mas acho que é melhor do que ir para a prisão por atentado ao pudor e agressão. Como havia sido a minha primeira condenação, ele resolveu pegar leve. Me condenou a seis meses de grupo de apoio para viciados.

O que torna toda essa história remotamente interessante é que é um grupo de viciados variados.

Temos os viciados em analgésicos, alcoólatras, drogados, ninfomaníacos e Hillary.

Uma loira irritante que é viciada em compras.

Compras.

Sério.

— Meus pais vão ficam tão decepcionados. É a segunda vez nesse mês que tenho uma recaída.

Eu rolo os olhos de forma um tanto dramática.

Henry nota. Ele é o coordenador dos viciados. Um ruivo barrigudinho com cara amigável. Um alcoólatra curado. Apesar de saber que isso é maior besteira. Alcolatras nunca são curados, são alcoólatras o resto da vida, só é preciso um gole.

Ele me encara, apreensivo, porque sabe o que estou prestes a fazer.

— E o pior de tudo, não consegui devolver. — ela pausa, inspira fundo. — Eu gastei 3 mil dólares.

E eu não consigo evitar.

— Você deveria tentar crack, Hilary. É um vício bem mais econômico. — Ela ergue o olhar para mim. Os olhos azuis arregalados e ainda molhados. Ela me encara como se eu tivesse acabado de esfaquear um filhote na sua frente. — Não é mesmo, Derek? — eu pergunto, me direcionando para o homem enorme e repleto de tatuagens a minha direita.

Derek costumava ser um traficante, até se apaixonar pelo próprio produto.

— Quanto você acha que ela consegue por três mil? — indago.

— Três mil? — ele pergunta, inspirando fundo e arregalando os olhos. — Muita coisa mesmo. — ele balança a cabeça. — Tipo, quilos.

— Quilos? — ergo a sobrancelha. —— Uns 10?

— Alex. — escuto Henry murmurar.

Xavier, o cracudo magrelo de uns 30 anos, entra na conversa.

Seus olhos são vidrados.

— Talvez ainda ma...

— Gente. — Henry interrompe. — Não estamos aqui para discutir preço de drogas. — ele me lança um olhar. — Muito menos aconselhar a um colega o uso. O que conversamos sobre interromper os outros enquanto estão compartilhando?

Eu levanto os braços.

— Desculpe. — eu volto a encarar a loira que está com um olhar meio horrorizado. — Continue, Hilary, por favor.

11:45Onde histórias criam vida. Descubra agora