I'm flying to the moon again
Dreaming about heroin
Probably gave you everything
And took your life away
- Heroin, Lana Del Rey
Morrer é silencioso.
É calmo e vazio.
É por isso que quando ouço bipes e vozes distantes, sei que estou vivo.
Abro os olhos e instantaneamente vejo branco. Pisco algumas vezes e o teto se torna menos embaçado. Levanto a cabeça com dificildade do travesseiro e noto que estou em um quarto de hospital. Todo o meu corpo parece pesado demais. A pressão da gravidade é como mil homens me pressionando para baixo.
Meus olhos param no segundo em que a vêem.
Alexis está no sofá branco perto da porta, por onde passa um fluxo de enfermeiros e médicos apressados. Parece confortável e distraída com algum tipo de revista nas mãos. Ela está deitada, os pés passando pelo braço do sofá porque o móvel é estreito demais. Suas botas pretas pendem para fora.
Eu pisco com força, ajustando ainda melhor a imagem dela ali.
Minha mente começa a voltar a si, trazendo as memórias como um soco no estômago.
A seringa.
A heroína.
O dilema.
E por fim, a covardia.
— O que você tá lendo?
Minha voz sai surpreendentemente fraca.
Alexis tira os olhos da revista e gira o rosto em minha direção, em um susto.
Ela arregala os olhos escuros e aparentemente exaustos.
Alexis joga a revista para o lado e se põe de pé em um pulo. Um sorriso se abre nos lábios malvados dela enquanto ela se aproxima.
O meu coração parece ganhar vida de novo.
— Você tá vivo, príncipe do gelo. — ela constata, parando a dois passos da minha cama.
— Aparentemente sim.
Há um gosto amargo em minha boca quando digo as palavras. Eu sinto vergonha e raiva.
Ambos sabemos porque eu estou aqui.
Alexis nota o peso enquanto me fita e corta o silêncio com um tom sarcástico.
— Achei que se você fosse parar em um hospital em algum momento seria provavelmente por um ataque cardíaco causado por mim.
Eu sorrio, e fico estupefato porque essa garota me faz rir mesmo no meu quase leito de morte.
— Se serve de consolo, chegamos próximos algumas vezes.
Seu sorriso cresce.
— Bom. — ela diz, e se senta aos pés da cama. -- Disseram que você ia acordar em breve, mas por um momento pensei que...
Um momento se passa e seu sorriso vai embora enquanto ela fita o chão sem conseguir terminar a frase.
— O que está fazendo aqui? -- eu pergunto, depois de alguns segundos,
Ela ergue o olhar para me encarar.
— Você não se lembra?
Eu tenho flashs de memória, mas não sei se são de fato lembranças ou partes quebradas de viagens causadas pelas drogas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
11:45
Short StoryAlex Donavan encontrou um anjo. Ele é belo, límpido, transcendente. Finch Conhard, com os olhos azuis cristalinos e cabelos brancos sedosos, anda por aí com algum tipo de auréola sobre si. Ela quer levitar a sua volta. Ela quer inspirar a pureza. E...