11. Finch Conhard

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I'm flying to the moon again

Dreaming about heroin

Probably gave you everything

And took your life away

- Heroin, Lana Del Rey


Morrer é silencioso.

É calmo e vazio.

É por isso que quando ouço bipes e vozes distantes, sei que estou vivo.

Abro os olhos e instantaneamente vejo branco. Pisco algumas vezes e o teto se torna menos embaçado. Levanto a cabeça com dificildade do travesseiro e noto que estou em um quarto de hospital. Todo o meu corpo parece pesado demais. A pressão da gravidade é como mil homens me pressionando para baixo.

Meus olhos param no segundo em que a vêem.

Alexis está no sofá branco perto da porta, por onde passa um fluxo de enfermeiros e médicos apressados. Parece confortável e distraída com algum tipo de revista nas mãos. Ela está deitada, os pés passando pelo braço do sofá porque o móvel é estreito demais. Suas botas pretas pendem para fora.

Eu pisco com força, ajustando ainda melhor a imagem dela ali.

Minha mente começa a voltar a si, trazendo as memórias como um soco no estômago.

A seringa.

A heroína.

O dilema.

E por fim, a covardia.

— O que você tá lendo?

Minha voz sai surpreendentemente fraca.

Alexis tira os olhos da revista e gira o rosto em minha direção, em um susto.

Ela arregala os olhos escuros e aparentemente exaustos.

Alexis joga a revista para o lado e se põe de pé em um pulo. Um sorriso se abre nos lábios malvados dela enquanto ela se aproxima.

O meu coração parece ganhar vida de novo.

— Você tá vivo, príncipe do gelo. — ela constata, parando a dois passos da minha cama. 

— Aparentemente sim.

Há um gosto amargo em minha boca quando digo as palavras. Eu sinto vergonha e raiva.

Ambos sabemos porque eu estou aqui.

Alexis nota o peso enquanto me fita e corta o silêncio com um tom sarcástico.

— Achei que se você fosse parar em um hospital em algum momento seria provavelmente por um ataque cardíaco causado por mim.

Eu sorrio, e fico estupefato porque essa garota me faz rir mesmo no meu quase leito de morte.

— Se serve de consolo, chegamos próximos algumas vezes.

Seu sorriso cresce.

— Bom. — ela diz, e se senta aos pés da cama. -- Disseram que você ia acordar em breve, mas por um momento pensei que...

Um momento se passa e seu sorriso vai embora enquanto ela fita o chão sem conseguir terminar a frase.

— O que está fazendo aqui? -- eu pergunto, depois de alguns segundos,

Ela ergue o olhar para me encarar.

— Você não se lembra?

Eu tenho flashs de memória, mas não sei se são de fato lembranças ou partes quebradas de viagens causadas pelas drogas.

11:45Onde histórias criam vida. Descubra agora