6. Finch Conhard

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That's me in the corner

That's me in the spotlight

Losing my religion

Trying to keep up with you

And I don't know if I can do it

- Losing My Religion, R.E.M.

Uma semana depois, estou indo embora do círculo quando ouço:

— Entra, perdedor.

Eu paro na calçada e me viro para encarar o carro de Alexis, uma máquina vermelha vinho caindo aos pedaços. Há arranhões e marcas de batidas na lateral e na traseira. O carro é velho, mas ele definitivamente poderia estar em melhores condições com um pouco de esforço. As janelas estão abertas e ela me encara com diversão no olhar, apesar dos lábios em linha reta.

Ela suspira diante a minha hesitação.

— Eu prometo não morder. — ela pausa por um segundo desviando o olhar do meu e depois voltando. — Na real, eu não prometo não. Mas vou fazer o meu melhor.

Então o sorriso torce em seus lábios.

Eu inspiro fundo e desvio o olhar para a estrada, em um dilema.

Eu sei que não deveria. É uma péssima idéia.

Volto a encara- lá e ela ergue as sobrancelhas. Já sabe que venceu essa batalha.

Eu ando em direção ao automóvel e ponho a minha mão na maçaneta.

A primeira coisa que reparo é no cheiro forte de cigarro impregnado. Depois, todos os copos e itens aleatórios espalhados pelo chão e pelo painel.

Eu coloco a minha mochila no chão, estrategicamente entre as minhas pernas, tentando desviar de todos os outros itens ali. Eu fiquei na faculdade até mais tarde hoje e acabei indo direto para o círculo, então a trouxe comigo.

— Não repara na bagunça. — ela diz com uma voz doce e falsa, repleta de sarcasmo.

— Jamais. É adoravel. — eu respondo com a mesma ironia e isso me rende um sorriso seu.

— Aonde você mora? — ela pergunta, mudando a marcha.

— Na fim da San Maple.

Ela ergue as sobrancelhas, com se estivesse impressionada.

— Hum... chique. Deveria ter imaginado que você era rico. — ela tira uma mão do volante e a lança suavemente ao ar, como se estivesse espantando uma mosca. — Você tem o cheiro.

Na verdade, não sou rico e San Maple não é uma rua de milionários. É uma rua de classe média alta. E a nossa casa é provavelmente uma das mais simples por ali.

Mas deixo levar em seu jogo. Não consigo evitar.

— E que cheiro é esse?

Ela vira o rosto da estrada e se aproxima, ficando a alguns centímetros de distância do meu pescoço. Ela inspira fundo e eu fico tenso por duas razões: sua boca tão próxima e o fato de estarmos entrando em uma curva.

— Presunção com um toque de canela.

Um sorriso teimoso cresce nos meus lábios e eu murmuro:

— Presta atenção na estrada.

— Sim, senhor. — ela diz, prontamente.

Ela dirige rápido e como se fosse a única pessoa na estrada, o que me deixa desconfortável. Mas da para ver que ela pilota bem e para ser honesto, há poucos carros na rua.

11:45Onde histórias criam vida. Descubra agora