She got horns like the devil
Pointed at me, and there's nowhere to run
From the fire she breathes
- Horns, Bryce Fox
Se ele ainda não me acha completamente louca, depois disso, definitivamente vai.
Não que eu me importe, na verdade.
Mas há uma linha tênue entre loucura entusiasmada e surpreendente, e "vou ligar para polícia agora, sua lunática".
Coloco o pé direito na lateral da casa branca de Finch Conhard e impulsiono o meu corpo para cima. As botas de salto alto atrapalham bastante, o que me faz xingar em um sussurro.
É uma casa bonita e bem cuidada em uma rua serena e repleta de moradias parecidas.
O quarto dele fica no segundo andar, na parte direita.
Há um tubo de encanação grosso na lateral da casa, envolto por uma grade metálica resistente, que vai até o segundo andar e é convenientemente próxima a janela dele.
Ele deveria se preocupar mais com a segurança. É muito fácil entrar em sua casa, e há muitos loucos por aí.
Um sorriso irônico cresce em meus lábios com o pensamento enquanto continuo a escalada.
Poucos segundos depois, minha mão direita encontra a base da janela. Ela está entreaberta, o que ajuda bastante.
Finch, Finch, você deixa muito fácil.
Eu puxo o resto dela para cima e passo a perna esquerda para dentro. Tento ser o mais silenciosa possível, e pareço ter sucesso porque não há nenhuma reação vinda do quarto.
Quando termino de colocar todo o corpo para dentro, noto que o cômodo está escuro mas não completamente no breu.
Encaro a cama de casal, e lá está ele.
Graças a luz suave vindo do poste da rua e atravessando a janela, consigo ver seu belo rosto apoiado contra o travesseiro. Finch está de lado, os olhos pacificamente fechados.
Parece um anjo.
Me pergunto se me pareço com o demônio.
Provavelmente.
Eu me aproximo da cama. Devagar, me deito no lado direito da cama de casal.
Me deito de forma que ficamos espelhados, nossos rostos alinhados.
Observo seus traços belos e delicados. Os lábios pequenos, porém cheios. As maças do rosto altas.
Quero que ele abra os olhos. Talvez seja a minha parte favorita dele.
Me aproximo e fico a talvez um centímetro de distancia de seu rosto. Sinto a sua respiração contra a minha pele. Nossos narizes quase se tocam.
— Bu. — sussurro.
De repente, vejo azul.
Seus olhos estão abertos agora e completamente vidrados nos meus.
— Porra. — ele solta com a voz rouca.
Ele se afasta em um reflexo, puxando o corpo com a coberta para trás.
— Alex? — ele indaga, no escuro.
Ele pisca algumas vezes; assustado e surpreso.
— Sou tão desprezível assim? — pergunto, abrindo um pequeno sorriso de lado.
— O que você... Como você...
Ele não parece conseguir formar nenhuma frase, então facilito um pouco e adianto as respostas.
— Subi pela janela. — digo, colocando os pés no carpete e me levantando da cama.
Ele gira o tronco, se sentando e acende o abajur no criado mudo. Ele pisca com força enquanto me segue com os olhos.
— Inclusive, péssima segurança. — eu digo, apontando um dedo para a minha porta de entrada. — Você deveria, no mínimo, fechar a janela.
Observo seu rosto cansado e confuso. Seus cachos loiros estão uma bagunça e seu rosto magro levemente inchado. Seus olhos azuis estão impactantes como sempre.
Suas costas estão apoiadas na cabeceira da cama. As pernas ainda estão cobertas então não vejo o que está vestindo, mas usa uma blusa branca de algodão.
Finch não tira os olhos de mim.
— O que tá fazendo aqui?
Eu não respondo. Ao invés disso, sorrio e desvio o olhar.
Observo seu quarto. As paredes cinzas, os vários cadernos jogados sobre a escrivaninha de madeira clara. As pilhas de livros na estante.
— Eu imaginava seu quarto exatamente assim. — digo, orgulhosa.
Finch é tão malditamente previsível.
Amo isso.
Quando volto a encara-lo, ele ainda tem os impressionantes olhos em mim.
— O que você quer? — a pergunta sai praticamente sussurrada.
Eu suspiro com força enquanto o encaro fixamente.
Torço sutilmente a cabeça para a direita.
— Acho que você sabe.
Finch não diz nada. Ele apenas me observa fixamente, os olhos sérios e intensos.
Ele fica em silêncio pelo o que parece ser séculos.
Até que a minha palavra favorita sai de sua boca:
— Alex.
É tudo o que ele diz.
É quase como um pedido de ajuda.
Ele é o único que consegue fazer isso.
Finch faz com que eu sinta que meu nome é algum tipo de oração.
Deus nos ajude, então.
Lentamente, um sorriso diabólico cresce em meus lábios.
— Finch. — eu retribuo.
E o seu nome sai como uma maldição.
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11:45
Short StoryAlex Donavan encontrou um anjo. Ele é belo, límpido, transcendente. Finch Conhard, com os olhos azuis cristalinos e cabelos brancos sedosos, anda por aí com algum tipo de auréola sobre si. Ela quer levitar a sua volta. Ela quer inspirar a pureza. E...