1. Alexis Donavan

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She got horns like the devil

Pointed at me, and there's nowhere to run

From the fire she breathes

- Horns, Bryce Fox

Se ele ainda não me acha completamente louca, depois disso, definitivamente vai.

Não que eu me importe, na verdade.

Mas há uma linha tênue entre loucura entusiasmada e surpreendente, e "vou ligar para polícia agora, sua lunática".

Coloco o pé direito na lateral da casa branca de Finch Conhard e impulsiono o meu corpo para cima. As botas de salto alto atrapalham bastante, o que me faz xingar em um sussurro.

É uma casa bonita e bem cuidada em uma rua serena e repleta de moradias parecidas.

O quarto dele fica no segundo andar, na parte direita.

Há um tubo de encanação grosso na lateral da casa, envolto por uma grade metálica resistente, que vai até o segundo andar e é convenientemente próxima a janela dele.

Ele deveria se preocupar mais com a segurança. É muito fácil entrar em sua casa, e há muitos loucos por aí.

Um sorriso irônico cresce em meus lábios com o pensamento enquanto continuo a escalada.

Poucos segundos depois, minha mão direita encontra a base da janela. Ela está entreaberta, o que ajuda bastante.

Finch, Finch, você deixa muito fácil.

Eu puxo o resto dela para cima e passo a perna esquerda para dentro. Tento ser o mais silenciosa possível, e pareço ter sucesso porque não há nenhuma reação vinda do quarto.

Quando termino de colocar todo o corpo para dentro, noto que o cômodo está escuro mas não completamente no breu.

Encaro a cama de casal, e lá está ele.

Graças a luz suave vindo do poste da rua e atravessando a janela, consigo ver seu belo rosto apoiado contra o travesseiro. Finch está de lado, os olhos pacificamente fechados.

Parece um anjo.

Me pergunto se me pareço com o demônio.

Provavelmente.

Eu me aproximo da cama. Devagar, me deito no lado direito da cama de casal.

Me deito de forma que ficamos espelhados, nossos rostos alinhados.

Observo seus traços belos e delicados. Os lábios pequenos, porém cheios. As maças do rosto altas.

Quero que ele abra os olhos. Talvez seja a minha parte favorita dele.

Me aproximo e fico a talvez um centímetro de distancia de seu rosto. Sinto a sua respiração contra a minha pele. Nossos narizes quase se tocam.

Bu. — sussurro.

De repente, vejo azul.

Seus olhos estão abertos agora e completamente vidrados nos meus.

— Porra. — ele solta com a voz rouca.

Ele se afasta em um reflexo, puxando o corpo com a coberta para trás.

— Alex? — ele indaga, no escuro.

Ele pisca algumas vezes; assustado e surpreso.

— Sou tão desprezível assim? — pergunto, abrindo um pequeno sorriso de lado.

— O que você... Como você...

Ele não parece conseguir formar nenhuma frase, então facilito um pouco e adianto as respostas.

— Subi pela janela. — digo, colocando os pés no carpete e me levantando da cama.

Ele gira o tronco, se sentando e acende o abajur no criado mudo. Ele pisca com força enquanto me segue com os olhos.

— Inclusive, péssima segurança. — eu digo, apontando um dedo para a minha porta de entrada. — Você deveria, no mínimo, fechar a janela.

Observo seu rosto cansado e confuso. Seus cachos loiros estão uma bagunça e seu rosto magro levemente inchado. Seus olhos azuis estão impactantes como sempre.

Suas costas estão apoiadas na cabeceira da cama. As pernas ainda estão cobertas então não vejo o que está vestindo, mas usa uma blusa branca de algodão.

Finch não tira os olhos de mim.

— O que tá fazendo aqui?

Eu não respondo. Ao invés disso, sorrio e desvio o olhar.

Observo seu quarto. As paredes cinzas, os vários cadernos jogados sobre a escrivaninha de madeira clara. As pilhas de livros na estante.

— Eu imaginava seu quarto exatamente assim. — digo, orgulhosa.

Finch é tão malditamente previsível.

Amo isso.

Quando volto a encara-lo, ele ainda tem os impressionantes olhos em mim.

— O que você quer? — a pergunta sai praticamente sussurrada.

Eu suspiro com força enquanto o encaro fixamente.

Torço sutilmente a cabeça para a direita.

— Acho que você sabe.

Finch não diz nada. Ele apenas me observa fixamente, os olhos sérios e intensos.

Ele fica em silêncio pelo o que parece ser séculos.

Até que a minha palavra favorita sai de sua boca:

— Alex.

É tudo o que ele diz.

É quase como um pedido de ajuda.

Ele é o único que consegue fazer isso.

Finch faz com que eu sinta que meu nome é algum tipo de oração.

Deus nos ajude, então.

Lentamente, um sorriso diabólico cresce em meus lábios.

Finch. — eu retribuo.

E o seu nome sai como uma maldição.

11:45Onde histórias criam vida. Descubra agora