Eram quase meia noite, horário combinado para meu "encontro" com a misteriosa menina. Saí do quarto de forma discreta, assim que as meninas adormeceram, e fui a passos rápidos rumo ao refeitório para encontrar Dulce, a garota que me traria respostas.
Eu não sabia de nada, aquilo podia ser só uma armadilha, mas eu precisava descobrir, precisava tentar! Fazer meu papel de líder.
Mas no meio do caminho mal iluminado, sinto novamente alguém puxar meu braço no corredor e com o susto, quase dou um berro, antes de perceber que era Ryan.
- Tá indo a onde essa hora da noite?
- Beber água - Falei trêmula, tentando me esquivar da conversa e sair.
- No refeitório? Tem água nos dormitórios! Não mente pra mim não docinho, onde você está indo? - O garoto insistiu com um tom mais grosso.
- Tá legal! Estou indo falar com uma menina que sabe alguma coisa, ela me prometeu respostas! E eu estou atrasada!
- E você sonha que eu vou te deixar ir sozinha? No meio da noite? - ele retrucou sorrindo em tom sarcástico.
- E desde quando tenho que te pedir permissão? A garota exigiu que eu fosse sozinha!
- Mas só por cima do meu cadáver que você vai! Tá louca? Eu vou com você!
- Ryan... Eu sei me virar sozinha tá? Não preciso de um segurança 24 horas! - Esbravejei irritada, esquivando meu braço da mão firme do garoto.
Irritada com aquela discussão desnecessária, saí rumo ao refeitório, ignorando Ryan.
O refeitório novamente se encontrava em um breu, somente o céu iluminado de estrelas tornava possível ver sombras dentro daquele lugar. Mas ao caminhar para mais longe da porta, não se via nada além de uma escuridão total. O silêncio era ensurdecedor.
Minha respiração novamente se acelerou, e me vi sozinha diante de toda aquela escuridão. Carregava em minha coxa uma faca, presa a minha perna, mas rezava pra que não fosse necessário usá-la. O vento gélido tocando a minha pele, se misturava com o medo e me deixava arrepiada. Eu estava sentindo que tinha alguém ali.
Em meio a todo aquele silêncio, pingos me chamavam a atenção. O som alto e contínuo de algo gotejando e caindo direto sobre uma poça, ecoava por todo aquele gigante refeitório vazio, tornando difícil saber ao certo de onde ele vinha. Nada além disso. Só o silêncio.
- Olá? - É a única coisa que consigo dizer, com a voz trêmula.
Porém nada. Nenhuma resposta.
O som passou a ficar mais alto, e parou bruscamente quando cheguei ao meio do refeitório.
Senti meus pés molhados, e algo quente pingou em meu ombro. Quase que pelo reflexo, coloquei a mão sobre o ombro e a levei ao nariz, constando imediatamente o que pingava em mim.
- Sangue! Sangue! É sangue! - Gritei o mais alto que pude, e como em uma fração de segundos, as luzes se acenderam e atrás de mim Ryan berrou para que eu me abaixasse.
Com o susto e a poça abaixo dos meus pés, acabei caindo, e ao abrir os olhos, uma pedra grande, provavelmente jogada por Ryan havia atingido em cheio a Assassina, que tinha uma faca diretamente apontada para mim.
- Não precisa de um segurança 24 horas por dia né? Hum - O garoto gritou bravo, bufando.
- Obrigada! - Balbuciei zonza.
E novamente em uma fração de segundos, as luzes piscaram e a Assassina desapareceu.
Eu ainda estava no chão, e quando finalmente consegui olhar para cima, a cena que vi foi horripilante. Eu estava sobre uma poça de sangue, novamente banhada dela, e abaixo do corpo esfaqueado e pendurado de Dulce; a garota que sabia as respostas.
O corpo, com sinais claros de tortura, tinha ambos os olhos esbugalhados e olhando diretamente para mim. Não tinha como não me assustar com a cena. E completamente banhada em sangue e logo abaixo de uma cadáver, comecei a berrar e a chorar descontroladamente.
- Rachel! Rachel tá tudo bem, tudo bem! Eu tô aqui, eu estou aqui agora. Está tudo bem. - Ryan repetia me abraçando de lado com força, tentando parar meus soluços.
Eu não conseguia parar de chorar e soluçar, meu corpo todo tremia, e minha mãos, meu corpo estavam completamente sujos de sangue, me deixando ainda mais apavorada.
E ela novamente tinha desaparecido. Levando consigo minhas últimas esperanças de conseguir respostas, e fazendo mais uma vítima.
Logo, os alunos, nossa equipe e a equipe de Vitor chegaram ao local, isolando a área e afastando todos que estavam ali.
Eu estava bem no meio de tudo, exatamente no centro. Olhando para todos os lados e vendo os olhares assustados e com medo de todos que estavam ali. Alguns até vomitavam.
Eu havia falhado mais uma vez. Descumprido minha obrigação de novo. E mais alguém havia morrido por incompetência minha.
Escrito em sangue na parede, CMM marcava mais um crimes como sendo de sua autoria. Como se quisesse se vangloriar daquilo, mostrar a todos que aquilo era sua obra.
Eu estava perplexa, em choque e com muito ódio! Aquela garota estava brincando comigo. Me tirando do sério. Era como um jogo para ela.
Ela estava jogando com vidas.
Eu estava banhada em sangue, e saber disso só me fazia querer chorar mais. Sem condições de levantar, me vi sendo levada até o quarto por Ryan, enquanto as meninas recém despertadas, assumiam a partir dali.
Ryan também estava sujo, tinha sangue por todo seu corpo.
E sem dizer uma palavra, ele apenas me levou até o quarto, ligou o chuveiro e tirou minhas roupas, me colocando embaixo da água que saia de lá. Aquelas gotas quentes tocando a minha pele, se tornaram sangue em minha imaginação, e novamente me vi soluçando e chorando desesperadamente nos braços de Ryan.
- Darling, tudo bem. Tudo bem! Eu estou aqui. Estou bem ao seu lado. Respira, vai ficar tudo bem.
Como um bebê que precisa de ajuda para tudo, nem vi como, mas era madrugada e eu estava na cama, trocada, limpa e com Ryan deitado ao meu lado, tentando me fazer dormir. Ele também estava limpo, mas eu não o vi se limpar.
Tudo que eu conseguia pensar era que se Ryan não estivesse aparecido, ela teria me matado. E se ela tentou uma vez, com certeza tentaria de novo!
E que talvez eu fosse o único alvo, o "rei" do jogo, e ela só estava eliminando "peões" para garantir a vitória.
E meu maior medo, não era quanto a mim, mas era que ela logo poderia atacar aqueles a quem eu amo. Quem estava ao meu lado, lutando comigo. Isso me deixava frenética e paralisada.
Logo, Ryan adormeceu, e eu permaneci sentada olhando para a Lua.
Me lembrei da minha família, e longe dos olhares de todos, me permiti chorar por eles. Chorar pela situação em que me encontrava. E implorar por socorro.
Fiquei ali, falando com a Lua, e implorando para que do outro lado, minha família estivesse olhando para ela também e me respondendo que "está tudo bem".
Me lembrei dos meus pais dizendo que independente do quão distantes estivéssemos, sempre estaríamos olhando para a mesma Lua. E eu torcia pra estarem mesmo.
Meu pai sempre dizia, que a Lua foi feita para nós como um lembrete, um lembrete de que "Tudo não passa de uma fase", e que nós somos os únicos que podemos fazer essa fase passar. Somos nós quem decidimos como vamos reagir diante da situação, se vamos desistir ou lutar pra que essa fase passe logo.
Naquele momento, como em uma injeção de ânimo, me lembrei que Enquanto houver Lua, haverá esperança.
![](https://img.wattpad.com/cover/218731066-288-k629726.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Enquanto Houver Lua
Ciencia FicciónEsse é o relato de como meu tão sonhado primeiro ano de ensino médio se tornou um verdadeiro pesadelo apocalíptico. Era começo de ano, tudo ia perfeitamente bem quando cheguei no Colégio naquela manhã. De repente nos vimos presos na escola, de quar...